O Afrofuturismo vive! O talento de artistas africanos ganha o protagonismo nesta série em forma de antologia que vai te conquistar mostrando a África do futuro recheado de cultura, negritude, cores, aventura e muito coração.
O termo afrofuturismo é usado para descrever criações artísticas que por meio da ficção científica inventam outros futuros para populações negras. O termo foi criado por Mark Dery nos anos 90 ganhando força no final desta mesma década, se popularizando não só no continente africano, como também nos EUA e no Brasil. Hoje o movimento se tornou uma força de empoderamento para pessoas pretas no mundo todo e a oportunidade de mostrar não só um talento para arte futurista, mas também uma forma de expandir e evoluir a cultura afro dentro do gênero sci-fi.
É nesta pegada que Peter Ramsey (Homem-Aranha no AranhaVerso) produziu em conjunto com a Disney a série antológica “Kizazi Moto: Geração Fogo” (Kizazi Moto: Generation Fire, 2023), uma série de curtas com histórias com uma pegada afro futurística que conta com vários seguimentos produzidos por animadores e diretores do Zimbábue, Uganda, África do Sul, Nigéria, Quênia e Egito.
É mergulhando neste cenário que embarcamos numa jornada emocionante que mistura todo o aspecto cultural desses países através de curtas-metragens de aproximadamente 15-16 minutos que misturam ficção e fantasia cheios de ação e aventura mostrando uma visão futurística que engloba o aspecto tribal africano com tecnologias avançadas, alienígenas, espíritos, monstros em metáforas magnificas de impacto visual impressionante.
Fica claro que esta produção do Disney Plus quer trazer mais diversidade ao seu catálogo e “Kizazi Moto: Geração Fogo” é um presente ao público infanto juvenil e adolescente que deve ser aproveitado aos poucos em toda sua plenitude, apresentando um aspecto técnico que não deixa nada a desejar em relação as produções hollywoodianas, as animações produzidas pelo estúdio sul africano Triggerfish traz uma jornada visual como poucas com visões diferentes de cineastas que sabem exatamente o que querem contar.
A partir deste pontapé que somos arrebatados pelo piloto “Herderboy” (1×01), que conta a história desse adolescente que precisa proteger sua comunidade formada por ciborgues do ataque de espíritos que ameaçam a região. Graficamente vemos uma série que impressiona pelo visual, mas mantém sua base trazendo vestimentas características do povo africano misturado com tecnologias que vão desde armas laser, passando por motos voadoras e visores tecnológicos.
E as histórias não param por ai, pois é no segundo episódio “Mkhuzi: The Spirit Racer”(1×02) que vemos que a antologia só fica melhor ao contar a história de um garoto metade humano e metade alien de Soweto que desafia um soberano alienígena para uma corrida na tentativa de salvar seu lar da destruição. Nesta narrativa, o desenho vira uma bela animação em 2D que amplia os aspectos futuristas entregando bastante ação e personagens maneiros que acabam por nos conquistar em um curto espaço de tempo.
O seriado segue uma linha evolutiva bacana nos episódios “Moremi” (1×03) e “Surf Sangoma” (1×04), com animações 3D lindas e peculiares que trazem a estranheza e a beleza negra misturado com o lado mais sobrenatural sempre tocando no aspecto humano para trazer toques de drama como vemos no episódio 3 e também relações de irmandade e família para os personagens enfatizados no episódio 4.
Talvez o que mais encanta em “Kizazi Moto”, seja a forma como as animações apresentam um dinamismo, familiaridade e autenticidade que acabam por nos impressionar com estruturas aparentemente simples, mas que nos pegam pelo coração como podemos perceber no episódio “First Totem Problems” (1×05), que é engraçado, mas resgata uma ancestralidade com profundidade ao mostrar a história de uma garotinha tentando fazer um ritual de passagem que a leva a um mundo espiritual colorido e cheio de espíritos querendo sua atenção em forma de apadrinhamento.
E o seriado não para por ai, sua segunda metade, as tramas parecem ganhar ainda mais no aspecto das sutilezas como equilibram o aspecto futurista com aspecto sentimental mostrando países africanos com um grau de evolução altíssimos cheios de arranha-céus, cheio de tecnologia, misturando o aspecto cyberpunk que consolidam em uma das melhores animações da temporada no brilhante “Mukudzei” (1×06), onde vemos um infuencer adolescente escalar um monumento sagrado que o transporta para uma Zimbabue distópica que não deve em nada aos mundos futuristas retratados no cinema.
O mais legal aqui é ver como “Kizazi Moto” captura emoções com narrativas simples, mas cheias de amor e carinho tamanha dedicação das pessoas envolvidas por traz das produções, resultando em obras primas como “Hatima” (1×07), talvez o melhor episódio da temporada ao retratar a disputa entre duas nações, uma vivendo na terra e a outra embaixo d’água, revelando uma trama de origem emocionante e reveladora.
O mesmo pode ser dito do belíssimo “Stardust” (1×08), que traz a cultura egípcia aflorada numa trama de fantasia de uma garota que está em busca de um pergaminho do destino. É através dessas histórias que percebemos que existe pessoas africanas talentosas e cheias de criatividade que clamavam por uma oportunidade de mostrar o quão boas são, e esta série antológica mostra exatamente isto.
O afrofuturismo aqui é um movimento que ganha em “Kizazi Moto” vida através de cores e traçados marcantes de cineastas africanos que tem muito a dizer sobre seu povo, sobre sua cultura, trazendo não só uma celebração ao passado respeitando aquilo que faz o continente africano único, mas também mostrando um potencial aonde essas vozes podem chegar, intercalando arte e religião em analogias lindas como no belíssimo episódio “Enkai” (1×10), bem como críticas sociais bem pontuadas como no ótimo episódio “You Give Me Heart” (1×09).
Por tudo isso que foi falado, “Kizazi Moto: Geração Fogo” é uma obra magnifica, impactante em vários aspectos e executada com esmero, trazendo uma exaltação elegante da cultura africana seja através da língua, tribalismo, músicas em histórias visualmente lindíssimas, seja através de seus jovens personagens, numa verdadeira celebração a negritude valorizando os aspectos físicos e intelectuais de uma cultura que desperta curiosidade e que agora se abre para o mundo através de um projeto lindo que precisa ser encontrado por todos que desejam conhecer mais do audiovisual dos países africanos, sendo esta série é uma belíssima porta de entrada. Que venha a segunda temporada.
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4 comentários sobre ““Kizazi Moto: Geração Fogo” – 1° Temporada – Crítica”