“Bob Marley: One Love” – Crítica

Bastante superficial! A cinebiografia sobre a vida de Bob Marley é pouco inspirada, feita para iniciantes e infelizmente não faz jus ao grande legado de uma das maiores estrelas da música de todos os tempos.

Fonte: Paramount Pictures

O gênero de cinebiografia não é novidade no cinema, na verdade existe tantas lançadas nos últimos anos que parece que se criou uma fórmula manjada de contar a história de uma celebridade famosa e gerar um lucro fácil dependendo do impacto desta pessoa na sociedade. Algo preocupante tem se instaurado em biografias de pessoas pretas nos últimos tempos, algumas soam condensadas demais, outras soam apressadas demais, porém o que mais incomoda é a padronização sem espirito dessas obras.

Digo isso, pois a cinebiografia “Bob Marley: One Love” (EUA, 2024) que foi lançado nos cinemas este ano pela Paramount Pictures, hoje está disponível para aluguel, mas em breve deve estar disponível em algum streaming, segue esta mesma cartilha de uma biografia com potencial para ser grande, mas no final das contas apresenta um resultado bastante aquém do esperado.

A obra é dirigida pelo cineasta Reinaldo Marcus Green (King Richard: Criando Campeãs) que tem experiência com biografia. O longa conta a história do músico e ícone do reggae Bob Marley trazendo um recorte da vida do cantor no período entre 1976 a 1980, período em que ele sofreu um atentado na Jamaica e logo em seguida partiu para Londres para gravar junto com sua banda The Wailers o álbum “Exodus”, um dos mais bem sucedidos de sua carreira e dos maiores da história.

Fonte: Paramount Pictures

Foi uma boa tática fazer um recorte da breve vida de Marley, que consegue englobar bastante da sua trajetória como cantor, religioso potencializador da fé rastafári e pacifista misturado com as questões políticas de seu país, além do impacto das suas músicas naquele período. O problema de “Bob Marley: One Love” é a forma como a narrativa tenta conduzir as linhas temporais que vão e vem no tempo, porém sem dar nenhuma sutileza que sustente a parte dramática do filme.

A produção apesar de aparentar ser bem produzida, não tem muita personalidade tecnicamente, se apoiando muito na trilha sonora com músicas conhecidas de Bob Marley enquanto dá pinceladas sobre sua infância, romance com Rita Marley sua esposa, além de seu papel como figura representativa na Jamaica. O roteiro escrito a quatro mãos incluindo o próprio Green e Terrence Winter (Boardwalk Empire) é muito superficial e claramente foi feito para uma nova geração conhecer um pouco quem foi Bob Marley.

Então existe uma incógnita aqui, para os fãs mais antigos e fervorosos do cantor, esta cinebiografia apenas a ponta do iceberg e não faz jus a todo legado e peso que Marley teve durante sua vida. Ao tentar abraçar todos aspectos da personalidade e ascensão musical do artista, o filme acaba soando confuso com sequências que cortam momentos importantes pela metade, sem falar que os flashbacks são inseridos sem cuidado ou apuro estético numa edição que não tenta em nenhum momento diferenciar o que é passado e o que é presente.

Fonte: Paramount Pictures

A mão de Green na direção é tão protocolar que chega a ser enfadonha, com uma linearidade que só fica interessante quando Bob e seu grupo The Wailers está no estúdio gravando, talvez seja o momento em que o filme realmente esboce lampejos de qualidade mostrando que a música é o ponto forte da cinebiografia, com vários sucessos conhecidos do cantor embalando a trama como “Natural Mystic”, “Three Redemption Song”, “Is This Love” e a popular “One Love/ People Get Ready” resultando numa agradável sequência nostalgia de músicas tão atemporais que mesmo que alguém não conheça o cantor, já as ouviu em algum momento da vida.

Falta a “Bob Marley: One Love” sair da zona de conforto, o roteiro tem medo de evidenciar um lado mais sombrio do cantor e acaba por mostrar apenas o lado pacifista e musical de um cara que parece ter bastante complexidade que transitam entre qualidades e defeitos. Desta forma a atuação Kingsley Ben-Adir (Uma Noite Em Miami) é estranha, por um momento soa caricata demais, por outro consegue mostrar um pouco dessa vibe paz e amor regados a brisa que o cantor exalava.

Outro destaque vai para Lashana Lynch (A Mulher Rei) no papel de Rita Marley. Apesar do roteiro desenvolver pouco o amor e o conflito constante do casal, a atriz consegue seus momentos para brilhar mesmo com rascunho de texto. O resto do elenco é operante e sem muito destaque. A ambientação de época é caprichada, principalmente quando é focada na vida do cantor na Jamaica.

Fonte: Paramount Pictures

Assim como as cinebiografias, “Bohemian Rhapsody”, “Respect – A História de Aretha Franklin” e o recente “Whitney Houston: I Wanna Dance With Somebody”, este filme não mostra de forma mais crua a vida de Bob Marley, permanecendo num caminho mais seguro que acaba até sendo fantasioso em alguns momentos, focando mais no seu amor pela música e na sua vontade de lutar por um mundo mais pacifico. Infelizmente falta a narrativa mais ousadia de mostrar o impacto das ações políticas do cantor, principalmente no terceiro ato durante um importante concerto de música.

De uma forma geral, “Bob Marley: One Love” é um filme mediano dentro da sua proposta, feito para uma nova geração, talvez funcione como porta de entrada para aqueles querem conhecer e ter um contado inicial sobre a história do cantor, mas fica devendo como uma cinebiografia mais aprofundada, o que certamente vai decepcionar muitos fãs que sabem que Bob Marley não era apenas um cara paz e amor que fazia música, mas sim um ícone negro de uma geração que moldou o ativismo na luta pela resistência e mudança no mundo revolucionando os anos 70 com canções que ainda continuam sendo hinos de gerações tornando o reggae um do gêneros musicais mais tocados e aclamados do mundo.

Gostou? Veja o trailer abaixo e comente sobre o que achou do filme nos comentários.

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