Fantástico! A sequência de uma das melhores animações da década chega para consolidar Miles Morales como um grande herói e expande a mitologia do aracnídeo de uma forma espetacular e satisfatória, ainda que sucumba ao mal de filmes divididos em duas partes.

O maior desafio de uma sequência de um grande sucesso é manter aquilo que foi estabelecido que inclui a qualidade e tudo que deu certo no filme original, além é claro de expandir o universo conseguindo trazer a audiência de volta para uma experiência ainda melhor do que a original. Grandes exemplos que veem a mente são “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, “Capitão América: O Soldado Invernal”, “Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final”, “Senhor dos Anéis: As Duas Torres”, “Jogos Vorazes: Em Chamas”, “John Wick 2” e os recentes “Enola Holmes 2” e “Top Gun: Maverick”, todos excederam ou igualaram seus originais e entregaram uma qualidade acima do desejado.
O mesmo também pode ser dito da nova produção da Sony Pictures e Marvel Association, “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” (Spider-Man Across Spider-Verse, 2023), sequência de “Homem-Aranha no Aranhaverso” de 2018, que agora traz Miles Morales (Shameik Moore) e Gwen Stacy (Hailee Stenfield) embarcando em uma nova aventura que os leva a entrar num time de Pessoas-Aranha e assim impedir que um vilão imprevisível destrua todo o multiverso.
O longa é novamente dirigido por um trio de diretores, desta vez quem assume a empreitada são: Joaquim Dos Santos (Avatar: A Lenda de Aang, A Lenda de Korra, Voltron: O Último Defensor), Kemp Powers (Soul e Uma Noite em Miami) e Justin K. Thompson (Tá Chovendo Hambúrguer 1 e 2). Quando assistimos ao longa entendemos o porque de termos três cineasta cuidando de uma trama que é visualmente complexa e tão evolutiva que é impossível apenas uma pessoa comandar a história.

O fato é que “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” é uma animação como poucas, tão detalhista, tão bem cuidada, tão apaixonante que se torna uma carta de amor para aqueles que cresceram lendo os quadrinhos, séries e filmes do Homem-Aranha. Cada frame é uma bela transição das HQs para o formato de animação que aqui se tornam ainda mais vivas numa viagem psicodélica de formatos e cores que ficam mais cartunescas, rebuscadas, vivas e magistrais à medida que vamos adentrando a trama.
O roteiro escrito por Phil Lord (Anjos da Lei 1 e 2) e Christopher Miller (Anjos da Lei 1 e 2) que também assinam como produtores e ainda tem a companhia do roteirista Dave Callaham (Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis), é um deleite, continua a jornada de Miles que agora tem 15 anos vivendo a flor da adolescência e as tribulações da vida cotidiana como um estudante comum enquanto salva o dia na pele do amigão da vizinhança Homem-Aranha deixando sua Brooklyn bem como o resto de Nova York um lugar mais seguro.
Porém a trama começa de uma forma interessante, focando em Gwen Stacy e sua jornada para se tornar heroína no seu próprio universo. Aqui temos um prólogo que desenvolve melhor a história da Mulher-Aranha e ainda dá o ponta pé para introdução de novos personagens como o aranha de Miguel O’Hara (Oscar Isaac) e Jessica Drew (Issa Rae) que fazem parte de uma equipe de pessoas-Aranha que ajudam a capturar anomalias que podem causar desequilíbrio ao multiverso.

É seguindo desta forma que “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” mostra uma progressão positiva em relação a trama anterior, tudo é mais dinâmico, mais objetivo e bastante equilibrado, mas sem perder o que fez o longa original um sucesso. Visualmente temos um filme mais que consolidado, que toma riscos e impressiona com sequências de ação ousadas que empolgam bastante, sem falar que o roteiro se diverte ao mostrar as várias versões do aranha com personalidades, aparências e vestimentas diferentes com destaque para Hobie Brown (Daniel Kaluuya) e Pavitr Prabhakar (Karan Soni) que são engraçados na medida, e traz rostos conhecidos de volta conseguindo fazer reverberar carisma de praticamente todos que se apresentam em tela.
A palavra que define esta animação é satisfação e emoção, fica claro que é um universo que merecia ser revivido e quando assistimos percebemos que tem muita coisa para ser contada e muita coisa para ser desenvolvida não importa o idioma, inclusive a versão dublada é ótima, vale a pena conferir. O equilíbrio da direção e a edição esperta tornam essa obra algo único que sabe exatamente onde quer chegar, sem falar que é um caldeirão cultural recheado de aventura, reviravoltas e ação.
E a narrativa não para por aí, sua trilha sonora pop envolvente é bastante atual e irresistível, seja na composição excelente de Daniel Pemberton (Enola Holmes 1 e 2) que ganha camadas nos acordes principalmente nas reviravoltas atreladas aos vilões onde atmosfera ganha em tensão, seja no álbum composto pelo rapper sensação do momento Metro Boomin que tem como destaque as ótimas “Am I Dreaming” e “Calling” que prometem ficar na repetição de várias playlists pessoais no spotify após assistir ao filme.

Em termos de desenvolvimento de história, o roteiro mantém o foco em Miles e consegue dar novas vertentes ao personagem que mesmo na fase do adolescente chato e teimoso, consegue vender carisma e nos faz torcer por ele principalmente quando divide a tela com Gwen, onde a química flui de uma forma maravilhosa dando toques de romance a história.
Uma coisa que senti falta no filme anterior era um foco maior nos pais de Miles, já que o tio era o ponto central daquela trama, aqui Rio Morales (Luna Lauren) e Jeff Morales (Brian Tyree Henry) ganham mais espaço, é onde também que o lado latino de Miles começa a aparecer mais inclusive com mais cenas dos personagens falando um pouco mais de espanhol o que confere mais autenticidade a este jovem garoto negro de descendência latina, sua relação com a mãe é um dos pontos altos.
Talvez o que torne esta obra menos perfeita, é o fato de ser considerada uma história dividida em duas partes, a trama é tão bem desenvolvida e tão bem executada que fica até injusto perceber que não teremos um final mais redondo, ainda assim as reviravoltas pontuais devem botar o público na ponta da cadeira principalmente no terceiro ato, mesmo que acabe por frustrar ao deixar um grande gancho no final e o destino de vários personagens em aberto.

É claro que isso não torna o filme menos interessante, afinal temos diversos cameos e participações que devem arrancar um sorriso no rosto dos fãs mais fervorosos do teioso, e digo isso porque esta animação deve atingir praticamente todas as gerações que vão desde os fãs do Homem Aranha dos anos 80 e 90, passando pelos desenhos dos anos 2000, chegando nos aranhas atuais, são tantos pequenos detalhes que será impossível assistir ao longa apenas uma vez e conseguir pegar todos.
No geral “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” é um filmaço, daqueles que mostram que é possível fazer um filme sobre o multiverso de forma cuidadosa e muito bem desenvolvida, conseguindo criar uma enredo envolvente que não só respeita o que foi estabelecido no longa anterior, como expande a ideia da mitologia do aracnídeo mais famoso do cinema de uma forma exemplar e ainda que deixe um gostinho de quero mais e pareça incompleto no final, o longa ainda é um nível acima daquilo que se espera de uma animação, com ação de primeira, aventura impecável, consolidando sua representatividade negra cultural que ainda continua bem forte, além de abrir também uma forte vertente feminista através da personagem de Gwen que aqui ganha um co-protagonismo que deixa a história ainda mais interessante e provocativa de personagens que tem tudo para marcarem nosso imaginário.
Assim como a sua primeira empreitada, “Através do Aranhaverso” é daquelas animações que serão parâmetros de qualidade e referência em excelência, com um DNA de obra prima, o filme tem um equilíbrio estético e linguístico poucas vezes visto em tela, elevado por uma carga dramática com temas mais adultos, sem perder a aura de filmes de super-heróis este um dos melhores do gênero, sem falar que crava até o momento como o melhor filme do ano colocando um peso enorme para a parte final que será cercada de expectativas, mas é claro que se mantiver a qualidade deste longa, com certeza estaremos bem servidos com mais uma excelente aventura de Miles Morales.
Gostou? Veja o trailer abaixo, se já conferiu a animação, comente abaixo sobre o que achou.
A terceira parte “Homem-Aranha: Além do Aranhaverso” estreia 2 de Março de 2024.
Leia a crítica de “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso” aqui.



Filme Magnífico!!!!
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Realmente excelente.
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