“Desaparecida” – Crítica

Viciante! A continuação do longa de 2018 se transforma numa antologia instigante que traz uma boa performance de Storm Reid, mas peca por fugir um pouco do formato e acaba por diminuir o impacto do seu terceiro ato ainda que o resultado seja positivo.

Fonte: Sony Pictures Releasing

Quando o longa “Buscando” estreou cinco anos atrás, surpreendeu não só pelo formato como a trama era contada, mas também por conseguir ser um thriller impressionante que conseguia usar apenas uma câmera funcionando como primeira pessoa onde o expectador só conseguia ver a tela do computador do protagonista vivido por John Cho (Cowboy Bepop), os sites e as redes sociais que ele navegava numa experiência diferente do habitual que resultou num dos maiores sucessos daquele ano com um orçamento mínimo de US$$ 880 mil que resultou numa gigantesca bilheteria de US$ 75,46 milhões.

Seguindo este sucesso, chegamos em 2023, e finalmente ganhamos uma sequência de “Buscando”, o thriller que chega este mês no HBO Max, “Desaparecida” (Missing, 2023), mantém o que deu certo no filme dirigido por Aneesh Chaganty (Fuja) que surge aqui apenas como produtor e roteirista, mas deixando os editores do longa anterior Nicholas D. Johnson e Will Merrick assumirem a direção e o roteiro contando agora a história de June (Storm Reid), uma adolescente que se vê numa jornada de busca por respostas após sua mãe Grace (Nia Long) desaparecer sem deixar vestígios após viajar para Cartagena na Colômbia.

A narrativa consegue situar o expectador sobre a relação de June e Grace nos primeiros minutos, desta forma entendemos como ambas tentam seguir a vida após a morte precoce do pai da garota que faleceu um ano antes. Grace agora tem um namorado, Kevin (Ken Leung), que embarca com ela numa viagem romântica que acaba no desaparecimento do casal gerando uma trilha de mistérios que vai ficando mais complexa a cada nova cena.

Fonte: Sony Pictures Releasing

O mais interessante aqui é como “Desaparecida” consegue ser intrigante usando apenas um ambiente e fazendo a trilha sonora crescer nos momentos certos. A edição esperta que é um dos pontos fortes da franquia, aqui parece estar no seu melhor momento, é incrível como a trama ganha em adrenalina quando o pânico de June se instaura com a ausência da mâe, levando a narrativa a ganhar ares de thriller investigativo que vai envolvendo quem assiste ao mostrar a garota vasculhando online vestígios que podem levar a encontrar a verdade.                

Os artifícios interativos vão abrindo um leque de possibilidades e também uma grande lista de suspeitos, a começar pelo namorado, passando pela melhor amiga da mãe e terminando em outras pessoas que não podem ser reveladas para não estragar as surpresas. Talvez esta seja a principal qualidade do filme, conseguir trazer boas reviravoltas que vão deixar os expectadores salivando por mais.

É claro que isso só funciona porque a direção de Johnson e Merrick sabe dosar bem suspense, ação e drama, tudo muito equilibrado que só escorrega mais para o terceiro ato, ainda assim o roteiro é tão bem elaborado e faz tanto sentido que consegue abrir espaço para nossa paranoia ao trabalhar temas como catfish, invasão de privacidade e relacionamentos abusivos tudo de uma forma inesperada através dos olhos de uma adolescente curiosa.

Falando em Storm Reid (Uma Dobra No Tempo), acredito que muito do filme funciona é por conta de sua atuação e entrega num papel que não é muito fácil, mas a atriz consegue trazer veracidade, perspicácia e emoção para uma personagem que é uma investigadora nata e que não descansa na busca pela mãe perdida. Reid não é nova no cinema, mas estava bastante crua em seus papéis anteriores, mas aqui ganha mais maturidade para entregar um trabalho melhor que exige mais de sua função como atriz.

Fonte: Sony Pictures Releasing

Se a protagonista é muito boa, o resto do elenco cumpre bem o papel que ajuda a dar mais autenticidade para o filme, Nia Long (Certas Pessoas) que interpreta a mãe de June, entrega um bom trabalho e consegue criar um elo entre mãe e filha que é o cerne da narrativa como um todo. O ator Ken Leung (Lost) é operante dentro do possível, assim como Amy Landecker (The Handmaid’s Tale), talvez quem tenha mais destaque aqui é o Joaquim de Almeida (Velozes e Furiosos 5: Operação Rio), que surge como um detetive colombiano que cria um vínculo com June a ajudando na busca por informações sobre sua mãe, é claro que poderiam desenvolver melhor essa amizade, mas no geral funciona.

É nesses por menores que a obra encontra alguns problemas para se firmar como um excelente thriller, os dois primeiros atos funcionam muito bem e o ritmo é bastante dinâmico sem que ocorra cadência e irregularidade na narrativa, inclusive as reviravoltas são tão boas que é impossível imaginar que o longa apelaria para alguns clichês óbvios perto do final. O terceiro ato talvez seja o ponto mais fraco, não que seja ruim, mas é bastante clichê na forma como resolve todas as questões levantadas anteriormente e deixa aquele gostinho que poderia ser algo mais esperto.

No entanto, isso não faz o filme perder qualidade, mas fica menos plausível e menos redondo, porém no geral “Desaparecida” cumpre bem o seu papel, mantém a qualidade do longa anterior, em alguns aspectos até melhora, conseguindo trazer suspense, emoção, alguns momentos de puro choque e uma boa atuação da protagonista fazendo com que Storm Reid entregue seu melhor trabalho até então. O longa deve satisfazer os fãs do gênero e deve conseguir prender expectadores mais exigentes num filme que é uma boa antologia que com certeza deve ganhar mais continuações. Se forem bem feitas como esta, serão sempre bem vindas.

Gostou? Veja o trailer abaixo e comente sobre o que achou do longa.

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