“Meu Tio Matou Um Cara” – Análise

Uma longa divertido, esperto e bem humorado protagonizado por Darlan Cunha e Lázaro Ramos, mostrando que o cinema nacional é bom de comédia abre a Coluna Nostalgia Preta.

Fonte: Globo Filmes

Quando falamos sobre comédia nacional, normalmente elas são resumidas a produções pastelões com atores normalmente saídos do Zorra ou algum programa de comédia da Globo. Nada contra essas produções, mas alguma acabam por padronizar um humor muito previsível e escrachado demais, acaba por afastar aqueles que querem uma comédia com um pouco mais de desenvolvimento e não apenas uma que entregue piadas gratuitas. Além desses estilos de comédia, a maioria é protagonizada por atores brancos, também nada contra, mas é raro ver negros protagonizando filmes de comédias populares sendo o centro das atenções, elas até existem, mas são raras, uma delas é esta que foi escolhida para abrir esta coluna.

“Meu Tio Matou Um Cara” é um daqueles filmes que você não espera muita coisa, mas acaba recebendo até mais do que gostaria. O melhor desta narrativa protagonizada por Darlan Cunha (Cidade de Deus) e Lázaro Ramos (Madame Satã), é a capacidade do diretor Jorge Furtado de conseguir fazer uma trama que mistura bem drama leve e humor, sem cair muito nos clichês do gênero trazendo boas atuações e um clima jovial e descompromissado pouco visto nas comédias até então.

Lançado em 2004, “Meu Tio Matou Um Cara” ainda é uma das minhas comédias nacionais preferidas, uma das poucas que realmente retrata personagens negros além das periferias e de uma forma que não se apoia em estereótipos, ou se apoia bem pouco neles. O personagem Duca (Darlan Cunha), por exemplo, é um adolescente negro de classe média que vive com os pais Laerte (Aílton Graça) e Cléia (Dira Paes), estuda numa escola boa e mora num bairro de classe média em São Paulo. O garoto tem uma vida razoavelmente boa e se vê no meio de uma confusão ao tentar livrar o tio da prisão, depois que o malandro matou um homem.

Fonte: Globo Filmes

O roteiro escrito por Furtado e Guel Arraes (aquele mesmo de O Auto da Compadecida) é muito bom em colocar um contexto que abraça o crescimento da internet e jogos eletrônicos entre os jovens daquela época, numa trama que mistura investigação, comédia e romance adolescente de uma forma bem leve e muito bem desenvolvida capaz de trazer momentos divertidíssimos e genuinamente engraçados através da peripécias do trio Duda, Isa (Sophia Reis) e Kid (Renan Augusto) para livrar a cara do tio de Duda, o atrapalhado Éder (Lázaro Ramos, ótimo).

A comédia se desenvolve bem na maior parte do tempo, a direção de Jorge Furtado é certeira na ambientação e na comédia, o longa ainda conta com uma edição esperta e uma ótima trilha sonora diga-se de passagem. A trama como citei, tem toques de investigação e se mostra intrigante, pois vai revelando aos poucos se Éder é culpado ou não e o que isso tem haver com sua antiga namorada, a bela Soraia (Deborah Secco), afinal o tal “cara” do título foi assassinato no apartamento da mesma.

O longa ainda tem um arco secundário focado no drama adolescente de Duda, que gosta da melhor amiga, mas precisa lidar com uma situação inusitada quando ela começa a namorar seu amigo. A trama não traz grandes novidades, mas é inserida aqui claramente na intenção de atrair o público mais jovem para o filme e funciona, pois os diálogos são bacanas e o romance entre os personagens Duca e Isa é legal de acompanhar.

Fonte: Globo Filmes

O melhor de “Meu Tio Matou O Cara” é entregar uma boa comédia sem cair no pastelão, o filme é divertido exatamente porque não força situações, mas consegue construir uma trama envolvente, com bastante humor, bons personagens e pessoalmente, gosto quando diretores e roteiristas conseguem normalizar a presença de personagens negros como protagonistas em histórias que atualmente deveriam ser bastante comuns, mas infelizmente não são.

De uma forma geral, esse longa de Jorge Furtado é muito bom de assistir e com quase 17 anos desde sua exibição nos cinemas, a nostalgia bateu forte aqui e por isso achei importante falar sobre esta produção da “Cada de Cinema de Porto Alegre”  e co-produzido pela “Globo Filmes”, acredito que é uma obra que merece ser descoberta por aqueles que ainda não tiveram a oportunidade de assistir. Darlan Cunha consegue segurar bem a narrativa, pois seu personagem é muito bom, ficando ainda melhor quando está cercado de ótimos atores coadjuvantes do calibre de Lázaro Ramos, Ailton Graça, Deborah Secco, Júlio Andrade e Dira Paes, o elenco jovem também é um ponto positivo, junte isso a um roteiro esperto que consegue elevar uma premissa aparentemente simples, temos aqui uma pérola bastante bem humorada que merece seu lugar entre os bons filmes de comédia nacional.

Gostou? Assista ao trailer e se já assistiu ao filme, comente logo abaixo.

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