“Ahsoka” – 1° Temporada – Crítica

Mitologia em seu estado puro. A minissérie protagonizada por Rosario Dawson é um deleite visual e narrativo que as vezes peca pelo ritmo irregular, mas entrega entretenimento de primeira com ação refinada e um futuro bastante promissor.

Fonte: Disney Plus

Existe um fato que não se pode negar, mesmo com os percalços de “Obi Wan Kenobi” e “O Livro de Boba Fett”, é que o universo televisivo de “Star Wars” é muito bom, desde o lançamento de “The Mandalorian” a alguns anos atrás, a expansão tocada por Dave Filoni e Jon Favreau criaram uma mitologia rica que está preenchendo a lacuna entre os episódios 6 e 7 de uma forma primorosa, nos preparando para um grande evento, a guerra que vai resultar na queda da Nova República e o surgimento da Primeira Ordem.

A primeira temporada de “Ahsoka” que estreou no final de agosto e finalizou sua jornada agora em outubro é mais uma peça neste quebra cabeça que cada vez deixa mais claro suas intenções ao dar protagonismo para uma das personagens mais queridas do universo Star Wars. A história de Ahsoka Tano (Rosario Dawson) começou sua trajetória em live action na segunda temporada de “The Mandalorian” com a personagem reunindo pistas que a levassem ao paradeiro do Almirante Thrawn (Lars Mikkelsen) que consequentemente iria levar a localização de Ezra Bridger (Eman Esfandi), continuando os eventos de Star Wars: Rebels.

É a partir deste ponto que a série criada e desenvolvida por Dave Filoni (Star Wars: Clone Wars) toma forma e começa a explorar sua narrativa, conseguindo já nos dois primeiros episódios “Parte 1: Mestre e Aprendiz” (1×01) e “Parte 2: Labuta e Atenção” (1×02) atiçar a curiosidade do público com a introdução de Baylan Skoll (Ray Stevenson) e Shin Hati (Ivanna Sakhno) invadindo uma nave de oficiais da nova república para libertar a bruxa Morgan Elsbeth (Diana Lee Inosanto), com objetivo de ir atrás de uma chave que possa levar a localização do Almirante Trawn.

Fonte: Disney Plus

Do outro lado da galáxia, Ahsoka Tano e o robô Huyang (David Tennant) estão na mesma busca levando a série a um início explosivo, com forte senso de novidade, reintroduzindo personagens e criando um dilema para o público que está assistindo. Talvez o mais difícil deste seriado, seja equilibrar e dar informações necessárias para que fãs e não fãs possam embarcar nesta jornada, mesmo que não tenham assistido as animações “Star Wars: Clone Wars” e “Star Wars: Rebels”.

Após assistir aos oito episódios, devo dizer que Filoni é bem sucedido em parte, aqueles que nunca assistiram a série, podem ficar um pouco perdidos inicialmente, mas com certeza ficarão intrigados para saber mais sobre a história desses personagens quando a temporada acabar, porém a experiência completa só será aproveitada integralmente para aqueles que realmente assistiram as animações e estão por dentro de toda mitologia da série, pois existe muitas referências e muitas informações interessantes, que a maioria do público não irá pegar, mas o fã hardcore de Star Wars serão brindados com ótimas revelações.

Isto é um problema dependendo do ponto de vista, mas totalmente controlável, enquanto os dois primeiros episódios conseguem mostrar brevemente quem são personagens como Ahsoka, Sabine Wren (Natasha Liu Bordizzo), Hera Syndulla (Mary Elizabeth Winstead), além dos novos personagens, temos aqui um cuidado para o cerne da temporada seja bem claro para o público geral, que é a busca por Ezra Bridger localizando o vilão Almirante Thrawn, neste ponto fica fácil acompanhar a jornada da personagem título e o objetivo principal da série.

Fonte: Disney Plus

Ao apostar num ritmo com mais ação e mais frenético nos dois primeiros episódios, é normal que a série diminua o passo nos episódios seguintes, talvez por isso que o episódio “Parte 3: Hora de Voar” (1×03) seja mais voltado para política envolvendo a Nova Republica e acabe frustrando expectativas depois de um começo tão promissor.

A verdade é que o seriado ainda tem problemas em manter uma regularidade, mas também se nota que é algo controlado, Filoni sabe trabalhar nossa paciência inserindo pistas e sequências de ação que ajudam a dar um pouco de ritmo a narrativa. Todo o arco do mapa que leva a outra galáxia é muito bem desenvolvido e ganha contornos dramáticos no episódio “Parte 4: Jedi em Queda” (1×04) quando a série abraça novamente a mitologia das bruxas de Dathomir, bem como o misticismo da força através da jornada da padawan de Anakin.

Aliás, outro grande ponto é a dinâmica entre Ahsoka e Sabine, numa relação mestre e aprendiz que acaba servindo como um arco de aprendizado que cresce formidavelmente ao longo da temporada. Talvez o maior trunfo da série, seja a forma como explora e cria novas vertentes de uma mitologia que fica cada vez mais complexa, é inegável que quando se tem uma pessoa com visão como Dave Filoni, pode-se esperar surpresas e impacto emocional, não é à toa que o episódio “Parte 5: Guerreiro das Sombras” (1×05) foi o melhor episódio da série e um verdadeiro tributo aos fãs da saga, principalmente para aqueles que acompanharam “Star Wars: Clone Wars”.

Fonte: Disney Plus

É assim também que “Ahsoka” se torna um seriado diferenciado e tecnicamente impecável, com uma fotografia lindíssima, com paletas que variam de ambiente para ambiente dando um ar misterioso e novo, sem falar que a trilha sonora de Kevin Kiner é um deleite principalmente nos créditos finais, dando um ar místico e mágico para uma série que faz jus ao seu orçamento, com sequências cheias de efeitos visuais belíssimos em um dos produtos mais visualmente belos da franquia, destaque para linda cena das Purgills em movimento de dobra para entrar no hiperespaço.

O elenco é outro ponto positivo da produção, Rosario Dawson (Space Jam: Um Novo Legado) no papel de Ahsoka se mostra um acerto ímpar, pois aqui a atriz se consolida ao pegar todos os trejeitos e nuances de uma personagem tão amada e transforma-la numa figura ainda mais admirável e imponente. Outro grande destaque foi a introdução em live action de vários personagens de Rebels, Natasha Liu Bordizzo (Dupla Jornada) tem uma ótima impressão inicial e apesar de perder um pouco de espaço, sua versão de Sabine é muito bem desenvolvida, principalmente quando interage com Dawson.

O robô Huyang que recebe a voz de David Tennant (The Good Omens), é outro droide que merece estar na galeria de favoritos dos fãs, refinado e inteligente na medida. A dupla Hera Syndulla e Chopper é ainda melhor em live action, principalmente porque Mary Elizabeth Winstead (10 Cloverfield Lane) manda muito bem no papel, assim como Eman Esfandi (King Richard: Criando Campeãs) no papel de Ezra Bridger, uma grata surpresa. Ray Stevenson (Roma) no papel de Baylan Skoll é ótimo, principalmente na primeira metade, uma pena que o ator faleceu e provavelmente terá que ser reescalado numa possível segunda temporada.

Baylan Skoll (Ray Stevenson) in Lucasfilm’s AHSOKA, exclusively on Disney+. ©2023 Lucasfilm Ltd. & TM. All Rights Reserved.

Outro grande destaque da série é Lars Mikkelsen (The Witcher) no papel do Grand Almirante Thrawn, o vilão é excelente e o ator faz jus a um dos antagonistas mais celebrados do lore de Star Wars. É com base num elenco sólido e uma produção caprichada que “Ahsoka” vale cada segundo do tempo investido, ainda que careça de uma certa objetividade em alguns momentos, toda a cadência resulta em algo positivo nos momentos derradeiros da temporada como podemos ver nos episódios “Parte 6: Muito, muito distante” (1×06) e “Parte 7: Loucura e Sonhos” (1×07), que consegue equilibrar muito bem boas revelações e ação de primeira que ajudam a manter o ritmo da série.

Por tudo que foi falado, a primeira temporada de “Ahsoka” pode ser considerada ótima, pois entrega tudo aquilo que esperamos de uma série escrita e criada por Dave Filoni, com bastante mitologia, desenvolvimento de personagem, respeito ao lore e expansão de um arco que fica cada vez mais empolgante que deve culminar no filme que deve estrear em meados de 2026. É claro que ainda falta resolver a sensação de objetividade que as vezes se perde nesta narrativa quando alguns episódios são levados de forma lenta, mas não há dúvidas que estamos diante de algo bem planejado.

O episódio final “Parte 8: A Jedi, a bruxa e o senhor da guerra” (1×08) reúne todos os elementos que a série construiu nos episódios anteriores e traz algumas reviravoltas interessantes em meio a ação. A urgência dosada em um episódio dirigido de forma sólida por Rick Famuyiwa (The Mandalorian), ganha contornos dramáticos com resoluções que foram esperadas e previsíveis deixando pontas soltas que claramente deverão ser exploradas em outras temporadas, mas fica a sensação de que poderia ser melhor.

Fonte: Disney Plus

No entanto, um final de temporada morno, não estraga tudo que foi construído na série e mostra que temos aqui um produto empolgante que não só restabelece nossa fé na franquia Star Wars, como também mostra que a mesma está em boas mãos. “Ahsoka” é um seriado que deve ser apreciado e provavelmente será esmiuçado por boa parte das legiões de fãs, porém fica a dúvida se teremos uma segunda temporada, ou se a série será resumida aqui. Com tantos elementos introduzidos e uma personagem principal que só cresce, tenho certeza que logo teremos notícias de renovação.

Gostou? Veja o trailer logo abaixo e comente sobre o que achou da série.

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