“Rye Lane – Um Amor Inesperado” – Crítica

A comédia romântica da nova geração. Este longa foge das fórmulas clichês para contar uma história apaixonante entre um casal negro numa narrativa que também é uma carta de amor ao sul de Londres.

Fonte: BBC One Films e Hulu

O gênero comédia romântica é fascinante, mas também bastante formulaico na forma como estrutura suas tramas e resoluções, basicamente você sabe como começa e quando termina, sem que falar que as narrativas não exigem muito do expectador, mas quando isso acontece ficamos diante de obras extraordinárias como o longa “A Pior Pessoa do Mundo”, um bom exemplo para mostrar uma narrativa que foge dos padrões para entregar algo mais.

É neste seguimento que podemos encaixar a nova comédia do Hulu (disponível no Star Plus aqui no Brasil) produzido pela BBC One Films, “Rye Lane – Um Amor Inesperado” (Rye Lane, 2023), longa que conta a história de dois jovens que se conhecem após passar por péssimos términos de relacionamento, encontrando na companhia um do outro uma sintonia que não imaginavam que pode levar a um sentimento além da amizade.

O filme dirigido pela estreante Raine Allen-Miller é uma obra peculiar, e muito disso se deve a forma como é filmada e retratada se apoiando muito na interação bastante fluída entre Dom (David Jonsson) e Yas (Vivian Oparah), que se conhecem de uma forma bastante inusitada em um banheiro unissex durante uma exposição de arte na região do sul de Londres em um lugar chamado Rye Lane. O primeiro ato é sobre esses dois jovens que acabam conversando e descobrindo muitas coisas em comum na forma como terminaram seus respectivos relacionamentos.

A partir deste ponto é que “Rye Lane” se mostra diferente do habitual, o que pode causar sim uma estranheza inicial, principalmente porque o ritmo é cadenciado se desenvolvendo à medida que os protagonistas vão se conhecendo melhor. O roteiro escrito Nathan Bryon e Tom Melia captura o espirito das comédias inglesas e consegue inserir um contexto atual que conversa muito com a geração jovem europeia, regada a muita franqueza e diálogos ricos que acentuam a personalidade do casal.

Fonte: BBC One Films e Hulu

À medida que vamos aprofundando na história, a trama nos leva a lugares inusitados, porque além de acompanhar esses dois jovens que tentam usar um ao outro como uma forma se curarem da ferida do término de relacionamento, a diretora Raine utiliza a oportunidade para mostrar um lado da região do sul de Londres pouco retratada em tela, aqui ganha um bem vindo protagonismo, um lado mais periférico e predominantemente composto por comunidades negras com várias gerações de imigrantes numa área que é um verdadeiro caldeirão cultural que acaba por enriquecer a trama dos personagens.

Um ponto interessante sobre este longa é a forma como decide estruturar sua narrativa, ao abrir leque de possibilidades com a dupla principal narrando situações de suas vidas em primeira pessoa, enquanto as situações são demonstradas em tela de forma imaginativa que ajudam a ilustrar seus pensamentos e atitude de uma forma quase que teatral, mas bastante características tornando um dos pontos mais positivos da trama.

É claro que “Rye Lane” é uma narrativa em movimento que também traz situações cômicas que os protagonistas acabam demonstrando toda uma química que particularmente tornando tudo mais íntimo e gostoso de acompanhar. O fato é que os atores David Jonsson e Vivian Oparah são um verdadeiro achado, o primeiro trazendo um personagem carismático e introvertido, a segunda também carismática, porém bastante extrovertida, mostrando ambos são opostos, mas também complementares, algo que os atores demonstram muito bem em tela conseguindo construir ao longo da trama um relacionamento natural e simplesmente maravilhoso.

A still from Rye Lane by Luke Lorentzen, an official selection of the Premieres program at the 2023 Sundance Film Festival. Courtesy of Sundance Institute (A still from Rye Lane by Luke Lorentzen, an official selection of the Premieres program at the

A narrativa no geral é bem objetiva, mas também sabe aprofundar na forma como retrata relacionamentos e como as pessoas podem ficar obsessivas e emotivas com términos precoces, sem falar que ao tentar seguir em frente, acabam não vendo sentimento crescendo com a pessoa que está mais próxima, como é o caso de Dom e Yas, que juntos ainda se metem em muitas confusões até começarem a descobrir um sentimento em comum que estava ali o tempo todo.

A verdade é que o longa se torna único ao se apoiar em bons diálogos, uma trama dinâmica e a forma como privilegia a performance bastante comprometida de dois protagonistas transpiram talento e química. Tecnicamente o filme tem bastante personalidade graças ao estilo único da diretora que consegue trazer uma direção bastante consistente apoiada por uma fotografia que sabe usar muito bem sua paleta de cores principalmente quando embarca na paranoia sentimental do casal, isto tudo amplificado pela ótima trilha sonora original do cantor e compositor Kwes que dá um tom mais jovial e diversificado a narrativa.

De uma forma geral, “Ryan Lane – Um Amor Inesperado” é simplesmente ótimo e especial, daquelas comédias românticas que não tem pretensão de ser grande, mas acabam te conquistando de uma forma marcante pelo tom leve e honesto, seja na forma como trabalha o relacionamento de Dom e Yas, seja na forma este relacionamento é naturalmente desenvolvido. O crescimento narrativo de forma exponencial até o último ato, torna o filme ainda mais incrível, num ápice maravilhoso que vai te deixar com sorriso de orelha-a-orelha, mostrando que comédias românticas protagonizados por pessoas pretas também conseguem entregar algo fora dos padrões e romanticamente hipnotizante. 

Gostou? Veja o trailer e comente logo abaixo se você assistiu uma das grandes surpresas do ano até agora.

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