“Creed III” – Crítica

Um longa intenso sobre família e amizade, o terceiro e decisivo capítulo da trilogia Creed traz Michael B. Jordan na frente e atrás das câmeras entregando uma narrativa poderosa que finalmente se solta das amarras do legado de Rocky e reluz com brilho próprio.

Fonte: Warner Bros Pictures

Chegamos a um ponto decisivo da nossa série especial sobre a trilogia Creed, após o equilibrado, dramático e eficiente “Creed – Nascido Para Lutar”, seguido do entretenimento de qualidade representado por “Creed II”, estava faltando mais um longa para fechar a jornada de Adonis Creed (Michael B. Jordan) que teve um início desafiador até se transformar num fenômeno do boxe.

O longa da Warner Bros, “Creed III”(Creed 3, 2023) que estreou na última quinta-feira do dia 2 de março, chega para fechar o legado de um personagem que se tornou popular depois uma ascensão meteórica e que agora colhe os frutos do sucesso após anos se dedicando a ser o melhor no esporte. Talvez o que mais tenha pesado na trajetória narrativa desta jornada, seja a forma como os filmes se apoiaram no legado deixado pela figura de Rocky e todo universo criado envolta dele.

Deixando claro que isto não é uma crítica negativa, pelo contrário, os dois longas anteriores conseguiram fazer ligações pertinentes costurando um passado riquíssimo que ajudou a moldar a figura de Adonis Creed (Michael B. Jordan) tendo o personagem consagrado por Sylvester Stallone (Rocky: Um Lutador) como mentor e a pessoa que passaria o bastão simbólico para o filho de Apollo Creed, resultando assim no grande filme dirigido por Ryan Coogler e na consolidada sequência dirigida por Steven Caple Jr, porém na minha visão, faltava ao protagonista encontrar uma voz própria sem o peso do passado do pai.

Fonte: Warner Bros Pictures

É aí que este terceiro longa ganha um peso especial ao focar numa jornada pessoal e significativa com uma carga emocional bastante alta ao colocar a história de Adonis e seu melhor amigo Damian (Jonathan Majors) como pano de fundo de uma trama complexa sobre uma amizade que se torna rivalidade. Com esta premissa, é natural que Michael B. Jordan (provavelmente tutoreado por Ryan Coogler) se sinta desafiado em dirigir seu primeiro longa, ainda mais conhecendo seu personagem de uma forma tão aprofundada ao longo de dois filmes sendo justo que ator o único capaz de finalizar esta trajetória.

O roteiro aqui apesar de abraçar alguns clichês do gênero e ser previsível nas suas reviravoltas, ao menos consegue desta vez algo que os dois filmes anteriores não conseguiram, conseguir sair da sombra do personagem Rocky (Stallone ainda assina como produtor, mas não teve nem ponta aqui) para funcionar de forma independente. Talvez esta seja a maior qualidade que os roteiristas Keenan Coogler (Space Jam 2: Um Novo Desafio) e Zach Baylin (King Richard: Criando Campeãs) trouxeram, mantendo todas as ligações com os filmes anteriores, mas agora tendo a liberdade de explorar o passado turbulento de Adonis na sua trajetória até o topo.

É desta forma que “Creed III” se torna um filme sobre amizade e irmandade que vai moldando a jornada de um amadurecido Creed, agora aposentado dos ringues e vivendo uma vida de empresário gerenciando a carreira de outros jovens promissores como ele foi um dia, ao mesmo tempo que tenta equilibrar a vida com Bianca (Tessa Thompson) que agora é produtora musical após se aposentar da vida de cantora devido ao seu problema auditivo. A terceira ponta desta família é a pequena Amara (Mila Davis-Kent), menina inteligente que vê no pai um grande ídolo que a faz nutrir o mesmo amor pelo boxe.

Fonte: Warner Bros Pictures

O retorno de Damian Anderson (Majors) a vida de Adonis cria uma montanha russa de sentimentos alimentando uma tensão nas entrelinhas dando a sensação de uma bomba relógio preste a explodir. É ali que o roteiro vai criando rupturas na vitoriosa jornada de seu protagonista, mostrando um lado sombrio que remete a um passado caótico que quase o levou a ruína. É interessante ver como o longa mostra trajetória opostas de dois amigos que eram como irmão e foram seguindo caminhos diferentes com resultados que acabam alimentando o rancor de Damian que vê em Adonis tudo aquilo que deveria ter sido, um grande boxeador.

Os primeiros dois atos do longa trabalham muito bem a dramaticidade que a franquia “Creed” sempre soube desenvolver bem e aqui neste terceiro filme tudo fica ainda mais emocionante com conflitos bem dosados intercalados com momentos deixam tudo à flor da pele. É bacana constatar que a chave aqui tenha virado para um filme que antes usava a família como base para motivações de Adonis lutar e vencer suas lutas, agora o personagem luta para preservar aquilo que tem colocando seus entes queridos em primeiro lugar.

É vendo desta forma que enxergamos “Creed III” como um filme que tem lutas, mas que são mais pontuais, assim como foi no longa anterior, mas aqui com um peso muito maior pelos fatores envolvidos na relação Adonis e Damian. Talvez pela falta de experiência na direção, Michael B. Jordan acabe pecando um pouco na questão da antecipação que em muitos momentos não vem, muito porque o roteiro é muito conveniente em diversas inserções fazendo o expectador prever o que vai acontecer na cena seguinte, tornando tudo de certa forma previsível.

Por conta disto, o longa carece um pouco de cautela, apesar de acertar no drama, as vezes peca na pressa ao fazer a roda girar muito rápido como mostra a ascensão muita rápida de Damian o colocando em rota de colisão com antigo amigo. O filme tem duas lutas significativas e elas só funcionam, porque as sequências de ação dentro ringue ainda continuam sendo o ponto forte desta saga, inclusive a luta final é interessante na forma que expõe o que está em jogo para os personagens através do confronto, mostrando uma clara inspiração do diretor ator em animes conhecidos.

Fonte: Warner Bros Pictures

O elenco é outro ponto positivo, Michael B. Jordan (Pantera Negra) retorna como Adonis Creed agora mais maduro e tendo que enfrentar o passado, enquanto tenta preservar seu presente, em particular sua relação com a filha, um dos pontos altos da trama, aliás, vale a pena elogiar a produção aqui, Amara tem deficiência auditiva e todos a volta dela interagem com linguagem de sinais, sequências inteiras de diálogos são dedicados a esta interação e é muito bacana de acompanhar, uma representatividade bastante interessante e muito bem inserida no contexto.

O retorno de Tessa Thompson (Thor: Amor e Trovão) no papel de Bianca, ainda traz uma boa carga dramática de uma atriz que entrega o que se espera dela. Phylicia Rashad (Soul) no papel de Mary Anne Creed tem um breve arco no filme, mas é emocionante o suficiente para deixar uma marca na narrativa. Vale a pena destacar a participação de Tony Burton no papel de Duke que atuou nos filmes anteriores e retorna aqui com outra boa participação. O ator Jonathan Majors (Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania) é o antagonista perfeito acentuado por uma atuação excelente do ator, criando um personagem cheio de fúria e ódio até mesmo na forma como luta, moldado pelas circunstâncias desfavoráveis e o lugar onde cresceu mostrando um lado mais sombrio dos guetos norte americanos que acabam por levar jovens negros a um caminho sem volta.

É desta forma, com um elenco forte e uma produção muito boa, que mostra a que veio quando o longa coloca Adonis e Damian frente a frente numa luta que é cheia de sentimentos e que mostra uma visão bastante coerente de Michael B. Jordan que estreia bem na direção colocando a câmera mais próxima dos personagens e deixando a trilha sonora maravilhosa cheia de muito rap e hip-hop dar o tom das lutas que continuam ferozes e entretém de uma forma que senão é inovadora, ao menos é bem executada.

De uma forma geral, “Creed III” é melhor que o longa anterior, ainda que fique um pouco abaixo do primeiro filme, mas em termos de trilogia, esta terceira parte consegue completar um ciclo para Adonis Creed, conseguindo focar no personagem de uma forma mais íntima e dando mais camadas a um protagonista que aqui está no auge da sua maturidade ao encarar os demônios do passado. O longa é puro entretenimento e fecha a trilogia de uma forma satisfatória deixando ainda possibilidade de outras continuações num futuro próximo. Ao se soltar das amarras do legado de Rocky, esta obra se torna algo mais vibrante e independente com fôlego para mostrar que Creed agora constrói seu próprio legado e se consolida como uma das melhores trilogias já feitas.

Leia sobre “Creed – Nascido para Lutar” clicando aqui.

Leia sobre “Creed II” clicando aqui.

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