“Mundo Estranho” – Crítica

A Disney traz uma aventura que normaliza a diversidade num enredo carregado de aventura, poucas surpresas, mas com um bom entretenimento para família.

Fonte: Disney Animation Studio

O futuro chegou, já passou da hora de encararmos a diversidade como algo natural. Existe sim na mentalidade da humanidade e um vício conservador que nos impede de evoluir como seres humanos, mas aos poucos as novas gerações estão aprendendo a se perceber e se aceitar, lutando pelo seu espaço num mundo que precisa de mais empatia e amor ao próximo em detrimento dos nossos próprios interesses pessoais e crenças muitas vezes ultrapassadas.

Comecei a crítica dessa forma, para falar do conglomerado Disney, que está passando por mudanças em todas as suas bases, seja Marvel, Star Wars, Pixar ou até mesmo nos Estúdios de Animação Disney, tudo indica é que a empresa tenta ser mais inclusiva e mais diversa. Isto ficou muito claro na fase 4 da Marvel, por exemplo, e isso está cada vez mais claro no ramo das animações da Disney.

Ainda neste ano, a animação “Lightear” estreou no cinema cercado de polêmicas por ter personagens LGBTs na narrativa, levando a um injusto boicote que ajudou a naufragar este longa da Pixar que merecia ter sido assistido por se tratar de um sci-fi com aventura bacana do patrulheiro mais famoso do cinema neste spin off de “Toy Story”, e não por conta de uma cena de poucos segundos que mostrava o amor de duas pessoas do mesmo sexo. É possível perceber nesta polêmica toda, que a Pixar estava sendo sutil na sua retratação, tomando todo cuidado para não inserir tudo de forma não causar nenhuma revolta dos chamados “conservadores”, que teimam em não aceitar quem é diferente deles.

Fonte: Disney Animation Studio

Infelizmente, este longa não foi o único a sofrer com isso este ano, a animação dos estúdios Disney, “Mundo Estranho” (Strange World, 2022), que estreou no final de novembro nos cinemas e que agora entrou no último dia 23 de dezembro sem alarde nenhum no streaming do Disney Plus. A animação sofreu também com boicotes, além de ser autossabotado com um marketing ruim da própria Disney, chega para ser descoberto na telinha se mostrando uma aventura bacana, sem espaço para polêmica, mas sim abraçando um futuro que já não deveria causar nenhum estranhamento.

A animação conta a história dos lendários Clades, uma família de exploradores que por divergências acabam se separando levando a uma briga entre um pai, Jaeger Clade (Dennis Quaid) e seu filho Searcher (Jake Gyllenhaal). A trama mesmo se passa alguns anos depois com Searcher já adulto tendo superado o desaparecimento do pai e agora casado com a inteligente Meridian Clade (Gabrielle Union), além de ser pai do carismático adolescente Ethan Clade (Jaboukie Young-White) com quem tenta ter uma relação bastante protetora, o trio cuida de uma fazenda da família fornecendo produto para cidade mais próxima.

Toda a polêmica envolvendo o filme se encontra exatamente no primeiro ato, onde vemos uma cena com Ethan, que é assumidamente gay, mostrando interesse romântico por um amigo, Diazo (Jonathan Melo), mas tudo ali foi bem conduzido pelos diretores Don Hall (Raya e o Último Dragão) e Quin Nguyen (Raya e o Último Dragão), que contando a história que precisam de forma orgânica trazendo uma naturalidade que a Disney está sabendo dosar a cada novo filme, mas ainda tem dificuldade de abraçar quando recebe reações negativas por parte de seu público.

Fonte: Disney Animation Studio

Após a cena, o longa segue seu caminho trazendo a tradicional aventura focado na descoberta de um mundo extraordinário e personagens maravilhosos e a necessidade de entregar algo que seja apreciado como um entretenimento que diverte e encanta. Acredito que o roteiro escrito pelo próprio Qui Nguyen tenta trazer algo que dá a sensação de novidade, porém acaba caindo no senso comum, ainda que o letreiro do título inspirado em Indiana Jones fique só na homenagem, a trama parece uma história saída dos contos de Júlio Verne, apresentando lugares inóspitos, criaturas estranhas e um ambiente que transita entre o deslumbrante e hostil.

A segunda metade da animação é um tanto quanto previsível, se sustentando pela ação, alguns mistérios e pela relação pai e filho que é o grande cerne da história. Particularmente gosto como este universo criado traz relações interraciais, pessoas de vários gêneros e ainda consegue trabalhar dilemas e assuntos como ausência paterna, liberdade adolescente e tradições familiares tudo de uma forma bastante sutil e direta que acaba por deixar a trama mais rica e atual.

É claro que esta obra é tecnicamente impecável, com visual maravilhoso e uma grandiosidade que só cresce ao longo de sua projeção, ainda que o longa careça de cenas memoráveis, a narrativa é feita num campo seguro, trazendo boas reviravoltas, bichinhos fofinhos, mostrando que mesmo o filme não estando entre as mais marcantes da Disney, ao menos é feito com esmero e funciona como um bom entretenimento principalmente para as crianças. É importante enfatizar que a dublagem brasileira é ótima e vale a pena conferir no idioma.

Fonte: Disney Animation Studio

No geral, “Mundo Estranho” é uma boa produção, caprichada e que tenta sair do senso comum ao entregar uma aventura familiar cheia de pequenos conflitos, mas com um humor bacana que torna tudo muito agradável de assistir. Talvez o maior destaque seja a forma como todos envolvidos na produção parecem entender que as histórias neste gênero precisam evoluir e conversar com seu público atual, deixando o conservadorismo e os preconceitos de lado e apostando na diversidade e na inclusão, tudo feito de forma delicada e orgânica, para que os pais comecem a ensinar seus filhos que ser diferente é o que nos torna únicos e respeitar o próximo é o que nos torna seres humanos melhores, espero que a Disney continue com esses ares de mudança, afinal “Estranho” mesmo só tem no título e no final esta animação nos mostra que tudo é questão de perspectivas, pois desbravar é conhecer, mudar é necessário, respeitar é preciso e normalizar o diferente é apenas parte do amadurecimento da humanidade.

Feliz Natal pessoal, é o meu voto especial para vocês leitores do HN.

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