“Vale Night” – Crítica

Uma comédia nacional sem noção, se passando em uma periferia BR regada a muito funk, maluquices, um bom elenco e entregando um contexto social nas entrelinhas que promete pegar o expectador de jeito.

Fonte: Querosene Filmes

O gênero predominante no cinema nacional atualmente são as comédias, com um país cheio de comediantes e onde os maiores sucessos de bilheteria são filmes de comédia, em sua maioria com humor pastelão, temos aqui todo um seguimento que vai desde as comédias escrachadas protagonizadas pelo falecido Paulo Gustavo na trilogia “Minha Mãe é Uma Peça”, passando pelos fenômenos “Se Eu Fosse Você 1 e 2” protagonizados por Tony Ramos e Glória Pires e sucessos recentes como “Tudo Bem No Natal Que Vem” protagonizado por Leandro Hassum e “Cabras da Peste”, esses dois últimos do streaming da Netflix.

No que diz respeito as comédias protagonizadas por atores e atrizes negras, temos poucos exemplos, os mais lembrados são “Meu Tio Matou O Cara”, “Ó Pai, Ó” e “O Homem Que Copiava”, coincidentemente todos protagonizados por Lázaro Ramos. Desta forma, esta produção da Querosene Filmes e co-produção Buena Vista Internacional, “Vale Night” (2022), estreando no streaming do Star Plus, surge como uma boa alternativa de série de comédia protagonizado por atores negros que traz um lado mais bem humorado da periferia brasileira.

O filme conta a história de Daiana (Gabriela Dias), uma adolescente que engravida e ver sua vida mudar quando tem que cuidar do filho recém nascido praticamente sozinha. Esperando que o pai do seu filho, Vini (Pedro Ottoni), tome responsabilidade como figura paterna, ela decide tirar um dia de folga, um “vale night” (expressão usada pelos casais para tirar uma folga das obrigações matrimoniais para curtir a noite) para sair com amigas e poder curti um pouco a vida.

Fonte: Querosene Filmes

O roteiro de Caco Galhardo e Renata Martins, não traz grandes inovações com essa premissa, mas com certeza consegue aproveitar o enredo para mostrar um lado diferente das favelas brasileiras. Enquanto a mídia mostra uma violência urbana sem fim e muitas mortes, esta comédia traz uma humanização desses complexos enchendo a narrativa de personagens carismáticos, trilha sonora regada a muito funk e dança do passinho, além de um humor bacana e leve de acompanhar.

A direção de Luis Pinheiro (Mulheres Alteradas) é outro ponto positivo que traz um estilo de direção bastante interessante ao usar sua câmera como observador que segue os personagens pelos vários becos da comunidade onde Daiana e Vini moram sempre conseguindo capturar o jeito descompromissado desses personagens e a alegria da adolescência que estes exalam. É claro que “Vale Night” não é um primor narrativo, ainda cai em vários clichês gêneros, mas ao menos é uma comédia honesta.

A narrativa se divide em dois arcos, o primeiro com Daiana que vai para casa da avó (Neusa Borges) acompanhada da mãe (Maíra Azevedo), e se vê na incógnita em deixar o namorado cuidado do seu filho. O segundo arco acompanhamos exatamente Vini, que precisa provar para namorada que tem responsabilidade, mas fica sobre a tutela do irmão nervosinho dela (Jonathan Haagense), e precisa da ajuda dos amigos Linguinha (Yuri Marçal) e a DJ Pulga (Linn da Quebrada) para recuperar seu bebê perdido durante um momento da trama.

Fonte: Querosene Filmes

Outro ponto que chama a atenção como a narrativa abraça a diversidade brasileira, não só pelo elenco em sua maioria de pessoas negras, mas também por evidenciar pessoas trans na narrativa de uma forma bastante bem vinda e natural, sem falar que ao mostrar o lado mais vivo das comunidades periféricas, o filme ganha em autenticidade e ainda consegue inserir um bem vindo contexto social na narrativa como a gravidez de precoce na adolescência, além de pais menores de idade lidando com a responsabilidade de criar um filho.

Talvez “Vale Night” não consiga aprofundar no tema de uma forma impactante, mas usando bom humor e muitas confusões, vemos nas entrelinhas a dificuldade de dois adolescentes tendo que abdicar da vida social em prol de um amadurecimento precoce. No lado da comédia, ela só funciona, porque o protagonista vivido pelo ator Pedro Ottoni na minha visão tem carisma e um bom timming cômico conseguindo segurar suas cenas com um jeito do adolescente malandro e irresponsável.

O resto do elenco não faz feio, mas a maioria composto por atores e atrizes poucos conhecidos por fazer cinema, ficam devendo um pouco na atuação, a verdade é que o texto também não ajuda com diálogos em alguns momentos pouco inspirados. A atriz Gabriela Dias no papel de Daiana é uma boa surpresa. É claro que a participação da cantora Linn da Quebrada (Manhãs de Setembro), o comediante Yuri Marçal e a comediante Maíra Azevedo (conhecida como Tia Má) dão um pouco de visibilidade ao filme, apesar não serem um primor no campo da atuação. Participações especiais como da atriz negra e saudosa Neusa Borges (Caminhos da Índia) são uma grata surpresa.

Fonte: Querosene Filmes

No geral, “Vale Night” é aquela comédia descompromissada, feita para rir sem compromisso, funcionando como um bom passatempo que traz boas confusões, alguns temas sociais relevantes, um lado mais bem humorado e leve da periferia brasileira e um elenco majoritariamente de pessoas pretas que vai te conquistar de imediato. Esta comédia que respira negritude e tem uma ótima trilha sonora com Linn Da Quebrada, Glória Groove, Karol Conká dentre outros, também prova que com uma premissa leve e bem humorada é o bastante para fazer um bom produto nacional sem grandes pretensões, mas que entrega boas risadas.

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