“Duna: Parte 1” – Crítica

Apesar de sofrer com o mal da parte 1, “Duna” se mostra um espetáculo visual e acerta ao conseguir estabelecer um universo rico com um escopo ambicioso e um resultado puramente satisfatório.

10 indicações ao oscar 2022
Vencedor de 6 oscars
Incluindo:
Melhor Trilha Sonora
Melhor Fotografia
Melhor Edição
Fonte: Warner Bros

A construção de um universo nunca é fácil de conceber, quando isso é feito através de uma adaptação para o cinema, chega a ser ainda mais complicado. Obras que antes eram consideradas impossíveis de se adaptar para tela grande, através do avanço da tecnologia ao longo dos anos não só tornaram possíveis, como viraram um dos gêneros mais lucrativos da indústria de Hollywood na última década. “O Senhor dos Anéis”, “Harry Potter”, “Jogos Vorazes” para citar algumas adaptações, são exemplos bem sucedidos de crítica e faturamento que se apoiam em universos deslumbrantes e muito bem desenvolvidos ao longo de suas sequências.

A obra de Frank Herbert, “Duna” se encaixa neste quesito, apesar de ter sido adaptada diversas vezes sendo a mais conhecida a adaptação cinematográfica de 1982 dirigido pelo diretor David Lynch (Twin Peaks), tem esse escopo de universo grandioso, com uma mitologia rica, personagens incríveis, história épica que mistura fantasia, ação, mistério e disputas intergalácticas trazendo todos os elementos que conquistaram leitores e fãs pelo mundo todo. Ainda que tenha uma gama de riqueza, o livro de Herbert nunca teve uma adaptação que fez jus ao mundo que criou com tanto detalhe e complexidade.

Eis que chegamos em 2021 e mais uma oportunidade para adaptar esta história se apresenta, agora pelas mãos do aclamado diretor Dennis Villeneuve (Blade Runner 2049), que ganha aqui a oportunidade de trazer o tom épico da saga de Herbert mais uma vez para as telonas. Esta versão de “Duna” (Dune: Part 1, 2021), ganhou um orçamento pomposo, um elenco cheio de estrelas e foi pensada para ser a primeira de duas partes tentando assim fazer jus ao complexo material original.

Fonte: Warner Bros

O longa estreou nos cinemas e no HBO Max (nos EUA e alguns outros países) no dia 23 de setembro com a promessa de ser uma adaptação mais fiel e surpreendente. Após assistir ao filme, posso dizer que Villeneuve conseguiu um feito incrível em estabelecer um universo complexo com bastante clareza e mais acessível ao grande público, mantendo pontos chaves da jornada de Paul Atreides (Timothée Chalamet) que precisa lidar com as responsabilidade de ser o herdeiro de uma das casas mais influentes da galáxia, além de ajudar seu pai o Duke Leto Atreides (Oscar Isaac) administrar o planeta Arrakis, depois que o Imperador passou a gerência para casa Atreides, levando uma tensão com os brutais antagonistas da Casa Harkonnen.

Para quem não está familiarizado com a história, “Duna” pode ser um pouco confusa no início, mas o roteiro moldado pelo próprio Dennis Villeneuve acompanhado de Jon Spaiths (Doutor Estranho) e Eric Roth (Nasce Uma Estrela), faz questão de trazer um pouco de didática para quem não conhece a obra de Frank Herbert, a hierarquia daquele universo, os membros da família Atreides, os antagonistas Harkonnen, por que a especiaria em Arrakis é tão cobiçada pelas grandes casas galáxia e onde a jornada de Paul se encaixa em tudo isso, incluindo os elementos mais fantásticos com as bruxas conhecidas como Bene Gesserit.

O fato é que são muitas informações, que vão ficando mais claras à medida que vamos adentrando este futuro distante e caótico. A direção de Dennis Villeneuve é bastante cuidadosa neste ponto, conseguindo mostrar exatamente o que expectador precisa saber, ainda que em alguns momentos falte mais diálogos para exemplificar, o diretor tenta resolver isso de uma forma mais visual e contemplativa, sem perder sua assinatura, se mostrando mais seguro e no controle de um universo complexo que aqui é sentido em cada frame da projeção.

Fonte: Warner Bros

Se em “A Chegada” e “Blade Runner 2049” o diretor flertava com o cinema arte misturado com blockbuster, em “Duna” Villeneuve esta totalmente entregue ao espetáculo, mostrando uma grandiosidade não só nos cenários com uma direção de arte incrível, mas aumentando o escopo do universo a cada nova cena. O longa no aspecto técnico é simplesmente impecável, a fotografia de Greig Fraser (Rogue One: Uma História Star Wars) é magnifica, mostrando a vastidão dos vários planetas de Caladan até Arrakis seja em tomadas internas ou externas tudo é muito bem feito e a paleta de cores se modifica a cada novo ambiente apresentado, a trilha sonora de Hans Zimmer (007: Sem Tempo Para Morrer) é fantástica, o figurino é impecável, os efeitos visuais e sonoros pedem que você assista na maior tela e som possíveis, ainda assim acredito que o filme é imersivo independente do formato.

A verdade é que eu tenho muito a dizer sobre este longa, porque com suas 2 horas e 35 minutos de projeção, “Duna” ainda sofre com fato de ser um filme incompleto ou a parte 1 de uma história, se a trama tem fôlego para na sua primeira metade segurar nosso interesse por estabelecer bem o universo e as conspirações políticas, sua segunda metade apesar da transição com uma reviravolta esperada e um pouco mais de ação que muda completamente o cenário da história, ainda carece de um desfecho mais empolgante no terceiro ato, apesar de Villeneuve trazer uma certa tensão e a promessa de uma parte 2 ainda mais empolgante com ascensão de Paul como líder e escolhido.

Talvez outro grande trunfo dessa superprodução é se apoiar no elenco talentoso e cheio de estrelas que tem, ainda que muitos não sejam aproveitados de forma completa em tela, a maioria deixa sua marca e a impressão que poderiam render mais. Rebecca Ferguson (Missão Impossível: Efeito Fallout) é um dos grandes destaques aqui, acredito que sua Lady Jessica é uma peça fundamental que dá ao filme certa humanidade e ainda flerta com o lado mágico da mitologia criada por Herbert. Outro ator que merece menção é Jason Momoa (Aquaman), seu brutamontes Duncan Idaho é a verdadeira função do guarda costa leal e da representação do herói de ação, Momoa pode não ser um monstro da atuação, mas tem carisma e presença de tela.

Fonte: Warner Bros

Acredito que Josh Brolin (Vingadores: Ultimato) no papel do comandante Gurney Halleck e o ator Stephen McKinley Henderson (Um Limite Entre Nós) no papel do conselheiro Thufir Hawat precisavam de mais tempo de tela, pois claramente são personagens que renderiam mais no contexto político. Achei Oscar Isaac (Cenas de Um Casamento) apenas ok num papel que não exigiu muito dele dramaticamente, assim como Stellan Skargard (Chernobyl) no papel do vilanesco Barão Harkonnen, que apesar de estar enterrado numa pilha de maquiagem, ainda consegue proporcionar bons momentos.

O elenco ainda conta com um pouco de diversidade, Sharon Duncan-Brewster (Sex Education) no papel da Doutora Liet Kynes, é uma boa surpresa entre os atores mais desconhecidos em um papel relevante para trama. Alguns se resumiram em participações de luxo nesta primeira parte como: Javier Bardem (Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar) no papel de Stilgar, Charlotte Rampling (45 Anos) como Reverenda Mohiam, Dave Bautista (Blade Runner 2049) no papel de Beast Rabban Harkonnen e é claro Zendaya (Malcolm & Marie) no papel de Chani, mas acredito que todos terão destaque numa eventual parte dois.

No geral “Duna” é um grande filme, feito para dar uma experiência única ao expectador tamanha a dedicação de Villeneuve em entregar uma obra que fizesse jus ao legado de Herbert. As atuações são boas com o destaque maior para Timothée Chamalet (Me Chame Pelo Seu Nome), que faz um trabalho consistente dando inocência e maturidade ao protagonista Paul Atreides que funciona como o verdadeiro cerne da história, é a atuação excelente dele e a jornada de seu personagem que consolida uma narrativa que fala sobre a ascensão e a queda de uma dinastia num épico que consegue usar seu primor técnico para criar uma verdadeira imersão visual que só não atinge o status de obra-prima por necessitar de uma parte 2 para fechar seu arco, mas ao estabelecer um universo com tanta precisão, Villeneuve cria trama envolvente e impressionante, que provavelmente vai ser celebrado por fãs e deve atrair novos admiradores também, pois o resultado é tão gigantesco quanto os vermes de areia que habitam o vasto deserto de Arrakis.

Elo Preto

Personagem: Dr. Liev Kynes
Atriz: Sharon Duncan-Brewster
Idade: 45 anos

O destaque da coluna de hoje é a atriz Sharon Duncan-Brewster, sua personagem Dra. Liev Kynes originalmente era um personagem masculino no livro, mas aqui vira uma mulher forte e inteligente se destacando como um dos personagens negros desta superprodução, especialista na biologia de Arrakis e membro da tribo do povo do deserto conhecidos como Fremen, ela se torna uma grande aliada de Paul e Lady Jessica na fuga deles pelo deserto do planeta. A britânica antes de aparecer em “Duna”, fez séries como “Years and Years” e “Sex Education”, além de uma participação no filme “Rogue One: Uma História Star Wars”, sendo que o filme do Villeneuve é seu grande destaque até agora, a atriz se mostra promissora. Seu próximo projeto será “Enola Holmes 2” protagonizado por Millie Bob Brown.  

Gostou? Veja o trailer e comente o que achou do filme logo abaixo.

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