Depois 33 anos, a comédia “Um Príncipe em Nova York 2” ganha uma sequência trazendo velhos conhecidos e novos personagens numa narrativa imperfeita, mas que em alguns momentos funciona.
| Uma indicação ao oscar 2022 |
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| Melhor Maquiagem |

Levou-se muito tempo, mas finalmente fizeram a sequência da comédia clássica dos anos oitenta protagonizada por Eddie Murphy e Arsenio Hall. Sucesso nos anos 80, “Um Príncipe Em Nova York” atualmente é visto como clássico da comédia e um dos filmes mais amados e celebrados da carreira de Eddie Murphy, aqui no Brasil, por exemplo, constantemente é reprisado na sessão da tarde de tempos em tempos.
Confesso que não morria de amores por essa comédia e até hoje tenho meus problemas com alguns aspecto do humor dela, mas era fato que a duplinha príncipe Akeem (Murphy) e Semmi (Hall) perdidos no Queens em Nova York tentando achar a esposa ideal para o primeiro gera boas confusões, diversas risadas, momentos antológicos e absurdos que ficaram marcados na nossa memória afetiva, isso não se pode negar.
Chegamos então a 2021 e finalmente “Um Príncipe em Nova York 2” estreou no último dia 5 de março na Amazon Prime, o que era para ser um dos filmes mais aguardados do ano a estrear nos cinemas, mais uma vez virou um grande evento num streaming graças a pandemia que ainda assola boa parte do mundo. Nada mais justo que uma comédia escapista para preencher a vida de milhares de pessoas que ainda estão em casa.

A história de “Um Príncipe em Nova York 2” não é lá essas coisas, mas a premissa se dá quando Akeem, agora rei, se vê num entrave por não ter um herdeiro homem para assumir o trono de Zamunda e acaba descobrindo um filho bastardo, Lavelle Junson (Jermaine Fowler), perdido nos EUA que pode ajudar a continuar sua linhagem, a partir disso o agora rei precisa voltar ao Queens e tentar construir uma relação com filho para que ele assuma seus deveres como futuro herdeiro de seu país.
Esta premissa seria mais interessante se Akeem não tivesse outros filhos na mistura, mas ele tem três filhas: Meeka (Kiki Layne), Tinashe (Akiley Love) e Omma (Bella Murphy). Só isso já deixaria muitas coisas para a narrativa trabalhar, afinal Akeem ficaria dividido entre os filhos, mas a história sofre um pouco para equilibrar essa parte dando muito espaço para uma trama externa com o filho e esquecendo um pouco de dar espaço e mais personalidade para as filhas, apesar de algumas tentativas.
O roteiro escrito desta vez ficou a cargo de Kenya Barris (Black-ish) e dos veteranos Barry W. Blaustein (Um Príncipe em Nova York) e David Sheffield (Um Príncipe em Nova York) retornando a escrever neste universo, um trio qualificado para fazer esta sequência, uma pena é que tiveram que achar brechas no filme original para compor um fiado de sinopse que acaba por ser limitada demais quando vemos Akeem praticamente largando a família legítima de lado para ir atrás de um filho bastardo depois de descobrir que lembrou que passou a noite com a fogosa Mary Junson (Leslie Jones), uma personagem que nem fez parte do filme anterior, mas foi inserida na narrativa original para justificar a ida do personagem a Nova York.

Esta sequência difere do filme original por passar pouco tempo em Nova York, na verdade a cidade é bem mais coadjuvante aqui, apenas servindo para introduzir a família Junson, que além de Lavelle e Mary, ainda tem o tio Uncle Reem (Tracy Morgan) como personagem mais presente. O segundo e terceiro atos da trama se passam mais em Zamunda que ganha um foco bem-vindo explorando mais esse território exótico (detalhe nos figurinos e nas maquiagens, estão impecáveis) que foi pouco visto no filme anterior, inclusive temos todo um arco de conflito com General Izzi (Wesley Snipes) que está colocando a paz no reino a prova uma vez que acha que Akeem não tem condições para governar.
Existe duas formas de enxergar “Um Príncipe em Nova York 2”, a primeira é pela nostalgia, ainda que o roteiro force bastante para manter uma certa coerência nos eventos entre os filmes, em alguns aspectos a história consegue funcionar. A segunda é através do legado, claramente vemos uma passagem de bastão aqui com Lavelle Junson e suas irmãs, tendo os personagens mais antigos apenas funcionando como coadjuvantes de luxo.
O longa claramente tem um ar feminista que nunca toma conta da narrativa, mas era necessário que isso tivesse acontecido, por isso acho uma pena que Lisa McDowell (Shari Headley) não ganhe mais espaço aqui, já que sua personagem renderia muito mais se interagisse mais com Akeem e com as filhas, mas ao invés disso, ela praticamente fica em segundo plano enquanto Mary Junson rouba o filme para si.
Na questão de elenco, vale o destaque para Jermaine Fowler como Lavelle Junson, muito engraçado e parece estar se divertindo no papel, Leslie Jones como Mary Junson também está muito à vontade, suas tiradas e seu jogo de cintura são ótimos. Tracy Morgan é outro que ganha um destaque merecido, mas infelizmente isso deixa Arsenio Hall com poucas cenas e bastante apagado, não lembrando em quase nada do Semmi memorável que fez no filme de 88. Eddie Murphy tem presença e raramente fica apagado, seu Akeem inclusive ganha camadas quando vemos seu conflito entre aderir aos novos tempos ou permanecer com os velhos costumes de Zamunda, o personagem cresce mais na segunda metade do filme.

Ainda temos Wesley Snipes muito engraçado como General Izzi, além de Kiki Layne como a bela e determinada Meeka, personagem esta que merecia mais espaço e mais interação com o pai, mais uma vez fico muito chateado de o roteiro preferir focar mais no filho bastardo, do que nas filhas do rei, algo que só iria engrandecer a história, pois são personagens interessantes, mas pouco exploradas, isso fica claro na sequência final quando Mika e suas irmãs ganham os holofotes para si para resolver um conflito no reino.
Um dos aspectos que valem a pena assistir no filme, é por conta da sua comédia, é claro que ela não é a mesma com ar sem noção de outrora, mas com certeza o novo estilo empregado pelo diretor Craig Brewer (Meu Nome É Dolemite) tem seus momentos, inclusive a cena que o general Izzi introduz sua filha Bopoto (Teyana Taylor) para se casar com Lavelle é uma das cenas mais engraçadas do filme, sem falar na cena circuncisão do príncipe que também gera boas risadas. Outras piadas soam recicladas e meio sem timming, mas não são de todo ruim, principalmente por se apoiar na nostalgia, vide as cenas hilárias na barbearia que continuam exageradamente engraçadas.
De uma forma mais geral, “Um Príncipe em Nova York 2” não é uma sequência memorável, a premissa é meio sem vergonha, mas até que a comédia consegue arrancar boas risadas em determinados momentos, se você busca nostalgia, talvez se decepcione um pouco, pois em alguns momentos ela soa cansada e sem brilho, apesar das milhares de referências e easter eggs que povoam o filme do começo ao fim. Não é um filme ruim, mas é abaixo do esperado, porém percebe-se aqui um esforço para evoluir o escopo do longa anterior seguindo com ideias próprias e acredito que quando o filme tenta andar com as próprias pernas, se sai melhor do que quando se apoia em um humor antigo que não funciona mais.
Gostou? Veja o trailer abaixo, se já assistiu ao filme, diga nos comentários o que achou.

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