“Pecadores” – Crítica

Obra Prima! Reinventando o gênero e entregando o melhor filme do ano até o momento, Ryan Coogler e Michael B. Jordan repetem uma parceria de sucesso, num filme que transcende a arte de contar uma história.

Fonte: Warner Bros

A arte de fazer cinema é algo belíssimo quando levamos em conta todo processo de criação de mundo, as ideias que são inseridas no roteiro, a equipe de produção que precisa trazer a visão do roteirista e do diretor a vida, além dos atores que ajudam a consolidar a narrativa através de performances. Quando todos estes elementos se encontram em perfeita harmonia, isto quer dizer que estamos diante de uma grande obra.

Monumental! Esta foi a sensação que tive ao sair da sessão de cinema da superprodução da Warner Bros, “Pecadores” (Sinners, 2025), longa dirigido pelo diretor Ryan Coogler (Pantera Negra) que conta a história dos gêmeos Smoke (Michael B. Jordan) e Stack (Michael B. Jordan), que após um período turbulento fora, decidem voltar para cidade natal e recomeçar a vida do zero, porém se deparam com mal ainda maior quando estão preste a abrir um negócio próprio.

Tudo que você precisa saber sobre esta obra é o mínimo possível para ter a melhor experiência quando for assistir, até porque a narrativa foi executada exatamente para quebrar expectativas. Enquanto as prévias apontavam para um filme sobre vampiros, Coogler aproveita esta mitologia para entregar algo que transcende a linguagem cinematográfica e restabelece de uma forma excepcional a definição de blockbuster.

Fonte: Warner Bros

A trama se passa em 1932, no Mississipi, durante a época da segregação onde as Leis de Jim Crow nos EUA intensificavam o racismo e o preconceito das formas mais cruéis e desumanas. A trama começa com o personagem Sammie Moore (Miles Caton), com aspecto cansado e ofegante, chega na igreja do pai que é pastor, mas a narrativa para por aí, ao regressar um dia antes para contar o que aconteceu.

Definir “Pecadores” como um filme de vampiros, é cair em uma armadilha simplista que Coogler trata de mostrar já nos primeiros minutos. O longa é muito mais que isto, estabelecendo de forma cadenciada este universo cheio de elementos e personagens peculiares que vão abrindo nossa curiosidade e criando uma expectativa de que algo fora do comum irá acontecer.

Existe camadas que vão se sobrepondo na história que fala muito sobre ancestralidade, sexo, paganismo, violência, família, ocultismo, liberdade, mas tudo isto, é apenas a ponta do iceberg de uma narrativa que enriquece tudo se recusando a ser uma obra apenas comum. O que mais encanta aqui é a destreza de Coogler em ter total domínio sobre técnica cinematográfica e de como se sente a vontade de contar tudo que precisa usando um fio condutor simples, a inauguração de um bar para celebrar a negritude.

Fonte: Warner Bros

A cena chave de “Pecadores” que acontece quase na metade do filme transporta a obra para o patamar de um clássico instantâneo do cinema de imediato. É uma sequência grandiosa, daquelas que promete ficar na memória do expectador por muitos anos, uma cena musical com “Magic What We Do” que usa elementos sobrenaturais, tribais que não só é uma celebração da cultura preta, mas um convite a celebração de todas as culturas, contos e folclores existentes numa mistura genial de passado, presente e futuro.

É CINEMA ABSOLUTO, que exala por todos os aspectos desta película que bebe de vários elementos de filmes como “Um Drink no Inferno” e “Nós”, além de séries como “Lovecraft Country”, bem como filmes que explorando o inesperado como “Não! Não Olhe”, se espelhando num cinema que é pouco expositivo, e que mostra ao invés de só dizer revelando a força do roteiro de Ryan, absorvendo elementos de terror, misturado com comentário social, abraçando a sensualidade e usando o Blues como peça chave de despertar do espetáculo.

Este gênero musical que antes era considerado profano, sempre foi base cultural da ancestralidade negra por décadas, carregando a cultura africana até o continente americano através do seu ritmo atraente e provocante se tornando o símbolo de resistência do povo preto nos EUA e outros países latinos. A forma como Coogler usa o blues como tributo aos seus antepassados, serve também como uma celebração de fé e racialidade capaz atingir múltiplos sentimentos.

Fonte: Warner Bros

É onde também “Pecadores” encontra seu equilíbrio perfeito, a produção é muito caprichada, que vai desde a ambientação imersiva até os impecáveis figurinos. A trilha sonora e a sonoplastia são dois pontos fundamentais fazem o filme atingir notas ainda mais altas, mais uma vez o ganhador do Oscar, Ludwig Göransson (Pantera Negra: Wakanda Para Sempre) entrega um trabalho memorável se mostrando um dos melhores compositores da atualidade.

O elenco é outro ponto que merece bastante destaque, Michael B. Jordan (Creed III) entrega uma atuação excelente na pele dos gêmeos Smoke e Stack, dois gangsteres com formação militar e personalidades diferentes que ajudam Jordan a mostrar versatilidade como ator numa entrega poucas vezes vista, talvez sua melhor atuação até então.

E a dele não é a única, são tantas atuações interessantes e marcantes, mas vale o destaque também para as atrizes Li Jun Li (Babilônia), Jayme Lawson (A Mulher Rei) e Hailee Steinfeld (Homem-Aranha Através do Aranhaverso), todas bem inseridas com personalidade bem definidas e atuações na medida. Em termos de atores, destaque para Omar Benson Miller (Sou de Virgem) e Delroy Lindo (Destacamento Blood), este último em outra atuação fantástica.

Além destes mencionados, vale citar o vilão de Jack O’Connell (Godless), assustador e hipnotizante, com destaque para as sequências musicais com elementos irlandeses incluindo a ótima cena da canção “Rocky Road to Dublin”. Outra atriz que merece o destaque é a atriz Wunmi Mosaku (O Que Ficou Para Trás), talvez a personagem mais bem introduzida da trama, é também a que possui uma das cargas dramáticas mais marcantes, além de ser elo sobrenatural da cultura preta no filme servindo de cerne entre os elementos fantásticos e religiosidade africana na história.

Fonte: Warner Bros

Dentre todas estas atuações, o novato Miles Caton no seu primeiro papel como ator é o maior destaque do filme com méritos, com uma voz que arrepia a alma e uma habilidade para tocar inigualável, o ator é uma força da natureza que faz a melhor cena do filme (já mencionada) funcionar e atingir o ápice da qualidade.

De uma forma geral, “Pecadores” é um filme fantástico, daqueles que podemos comentar por dias, é cinema em sua essência, e o mais especial é ver um cineasta negro como Ryan Coogler com talento o suficiente para desafiar o gênero e entregar uma monumental obra prima que não só é um tributo ao cinema preto, mas uma celebração ao blues, a cultura, ancestralidade e vai muito além disto numa narrativa que prende a atenção do começo ao fim, sem perder os elementos clássicos que faz um blockbuster vibrar com ação da boa, terror, violência e um final incrível.

Um espetáculo cinematográfico muito bem dirigido que merece ser assistido no melhor formato possível aproveitando cada aspecto desta obra que é um verdadeiro presente não só para quem gosta de um excelente filme, mas quem gosta de cinema em sua arte mais pura e revitalizada.

Observação: O filme possui duas cenas pós crédito, uma durante e uma no final. Vale a pena esperar e conferir.

Ryan Coogler e Michael B. Jordan repetem a parceria de sucesso entregando uma obra visceral que usa da ancestralidade e mitologias conhecidas para entregar um longa fantástico recheado de ótimas atuações, elementos cinematográficos da melhor qualidade passando pelo roteiro brilhante, trilha sonora excepcional e uma direção excelente, entregando o melhor filme do ano até o momento

Certificado Excelência Negra

Gostou? Veja o trailer abaixo e diga nos comentários o que achou do filme.

Música da cena que vai mudar o gênero.

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