“Percy Jackson e os Olimpianos” – 1° Temporada – Crítica

Super fiel aos livros e feito da forma certa, porém apático. A primeira temporada do seriado sobre o semideus mais famoso da literatura demora a empolgar e sofre com ritmo irregular, mas mostra potencial para brilhar.

Spoilers Médios Abaixo

Fonte: Disney Plus

Talvez o gênero mais difícil de agradar no cinema e na TV, sejam as chamadas adaptações literárias. Quando se pega um material literário famoso e popular, o que mais se espera é respeito e fidelidade de forma capturar a aura do que foi escrito e criado pelo autor de uma forma coesa e satisfatória. É certo também que muitas vezes incrementar mudanças em prol de uma atualização e adequação de formato, as vezes é necessário, por isso adaptar obras se torna um desafio para diretores e roteiristas.

Estou citando tudo isto para falar da aguardada adaptação “Percy Jackson e os Olimpianos” (Percy Jackson and the Olympians, 2023), nova série do Disney Plus que tenta finalmente adaptar da forma correta a história de Percy Jackson, um garoto aparentemente normal que descobre que é um semideus filho de Poseidon numa releitura moderna da mitologia grega baseado na série de livros criada pelo autor Rick Riordan.

Depois da recepção morna do filme de 2010 e sua sequência de 2013, protagonizado por Logan Lerman no papel de Percy, além da revolta da maioria dos fãs e do próprio Riordan por dispersarem tanto do material original, carecíamos mesmo de uma versão mais fiel e que realmente capturasse a essência dos livros e conseguisse fazer jus a história de Percy (Walker Scobell), Annabeth (Leah Sava Jeffries) e Grover (Aryan Simhadri). Foi praticamente dois anos de espera desde o anúncio da série que cobriria em sua temporada inicial o primeiro livro da saga, “O Ladrão de Raios”.

Assim, no final de dezembro do ano passado ganhamos uma nova versão, que prometia muito pelos trailers, pela escalação do elenco bastante diverso e inclusivo e com diversas informações compartilhadas por Rick Riordan e Rebecca Riordan (esposa de Rick e produtora), que estavam ativamente participativos na concepção do seriado desde o roteiro até a escolha do trio principal numa jornada que daria o pontapé para a saga do menino Percy.

Fonte: Disney Plus

Todas as notícias por trás da série eram animadoras e os dois primeiros episódios empolgam mesmo sendo contidos focando em pontos chaves dos capítulos iniciais do livro. O piloto “Sem querer, transformo em pó a minha professora de iniciação à álgebra” (1×01) consegue situar bem o universo fantástico com Percy descobrindo a verdade sobre sua história e enfrentando seu primeiro monstro mitológico na pele de uma professora.

Veja bem, os elementos fantásticos, a atmosfera amena e um pouco de senso de urgência estava ali, mesmo que de forma tímida. A fidelidade dos diálogos e a maioria das cenas são de encantar até aquele fã mais desconfiado. O elenco parecia no ponto certo com algumas poucas exceções. O gancho do final do piloto com Percy, sua mãe e Grover chegando no acampamento traz um confronto com um Minotauro, um desfecho trágico e a certeza que a série estava no caminho certo.

O maior ponto positivo de “Percy Jackson e os Olimpianos” é a forma e o zelo como tudo é adaptado, com easter eggs, algumas cenas extras e a liberdade de aproveitar um formato serializado que dá vantagem para narrativa florescer numa história que tinha muitos elementos em cena. Mas então por que sentimos que a série nunca decola?

Fonte: Disney Plus

Boa pergunta, na verdade esta questão fica no ar quando vemos o potencial do texto, mas nunca sentimos abraçados por este universo. Notasse um cuidado, mas notasse também uma frieza que não deveria estar lá. É claro que o tom é amenizado e devemos levar em conta que estamos diante de uma série infanto juvenil, ou seja, foi feito para crianças e pré-adolescentes, mas até tramas para este público carecem demais energia para funcionar.

O segundo episódio “Eu me torno o líder supremo do banheiro” (1×02) mostra que falta um pouco de sutileza para série evidenciando também um problema de direção. As sequências do acampamento meio sangue, que mesmo rápida nos livros, empolga pelo senso de novidade, algo que não encontramos aqui. Tudo piora quando não temos tempo de ver Percy lidar com emocionalmente com o sumiço da mãe, ou se sentir poderoso quando começa a manifestar seus poderes aquáticos, como na importante cena do banheiro.

A sequência da caça à bandeira é legal e a sua revelação como filho do Deus do Mar é bem feita, mas infelizmente falta emoção. O diretor James Bobin (Dora e a Cidade Perdida) que dirige os dois episódios iniciais, não consegue o equilíbrio necessário para trazer o senso de novidade na narrativa e peca principalmente por não conseguir extrair emoção do ator Walker Scobell (Projeto Adam) no papel de Percy.

Fonte: Disney Plus

Aliás, uma das decepções da série é a inexpressividade de Scobell nas cenas em que precisa de apelo emocional. Enquanto o ator mirim acerta no humor sarcástico de Percy, o que fica muito evidente no episódio “Nossa visita ao Empório de Anões de Jardim” (1×03) onde somos apresentados a uma versão da Medusa (Jessica Parker Kennedy) que aterroriza o trio principal. O ator, por outro lado, peca quando precisa entregar algum tipo de emoção ou reação ao que está acontecendo a sua volta.

Este ponto acaba sendo um problema, pois destoa um pouco de seus colegas de elenco, a começar por Leah Sava Jeffries (A Fera) no papel de Annabeth, que entrega uma boa atuação bastante percebida no episódio “Um Deus compra cheeseburgers para nós” (1×05), onde precisa salvar Percy num parque construído por Hefesto (Timothy Omundson). O melhor do trio é o ator Aryan Simhadri (Doze é Demais), que captura bem a essência curiosa e desbravadora de Grover, nosso sátiro favorito.

A verdade é que a série oscila muito entre altos e baixos dando bastante inconsistência na temporada no geral. Se por um lado, quando acerta empolga muito, como podemos ver no episódio “Meu Mergulho Para a Morte” (1×04), onde somos apresentados a mãe de todos os monstros gerando um gancho empolgante para o episódio seguinte, a série acaba dando passos para atrás com capítulos sem muita inspiração, como o episódio “A ida de uma Zebra a Las Vegas” (1×06), onde temos a sequência do cassino Lótus que é mostrada sem muito encanto.

Fonte: Disney Plus

Em termos de escopo, a trama é bem expandida, mas falta claramente um senso de urgência nesta jornada que visa recuperar o raio roubado de Zeus, tudo é muito protocolar. As crianças em muitos momentos soam engessadas e mesmo com a liberdade de aprofundar e desenvolver personagens, sentimos que passamos muito rápido pelos eventos em episódios que variam muito de duração não mantendo um padrão mais homogêneo.  

É claro que isto não faz de “Percy Jackson e os Olimpianos” um desastre, longe disso, mas fica a sensação de que poderia ser melhor. A produção é caprichada, os efeitos dos monstros mitológicos são bons, a trilha sonora é boa e a ambientação explora bastante as paisagens dos EUA. A fotografia é um pouco escura, mas em outros momentos é um bom incremento ao design de produção que cresce na utilização da tecnologia do “Volume”, principalmente quando descemos ao Mundo Inferior no episódio “De certa forma, descobrimos a verdade” (1×07), de longe um dos lugares mais interessantes mostrados na temporada e onde também conhecemos o charmoso Hades (Jay Duplass).

Talvez o episódio que dissipe as desconfianças e nos faça ter fé que a série tenha um futuro promissor, seja o final de temporada “A Profecia Se Cumpre” (1×08), dirigido por Jet Wilkinson (Warrior Nun), onde vemos a narrativa chegar num ponto de desfecho e temos grandes cenas como a luta de Percy e Ares na praia, ou o confronto do semideus com Zeus (Lance Reddick) ou até mesmo o confronto de Percy com o tal “Ladrão de Raios”, além de uma melhora em termos de atuação do elenco, sendo de longe o melhor episódio da série até o momento.

Fonte: Disney Plus

É claro que os problemas mencionados ao longo deste texto continuam, mas existe aqui um espaço para melhora. Olhando por este lado, talvez no geral a primeira temporada tenha sentido aquela pressão de estreia, com um olhar e peso muito grande do criador em cima dos produtores de forma entregar aquilo que os fãs merecem fazendo jus a uma obra que já vendeu mais de 180 milhões de livros ao redor do mundo.

Desta forma, “Percy Jackson e os Olimpianos” é uma boa série, mas ainda está longe de ser uma grande narrativa no formato. Infelizmente, existe várias ressalvas ao longo da temporada que podem fazer muitos torcerem o nariz, sendo a principal crítica a falta de ritmo na jornada do trio principal e a falta de emoção na maioria das sequências de ação. É claro que ainda temos pontos positivos, como o estabelecimento cuidadoso do romance de Percy e Annabeth, ou a melhora da química do trio principal ao longo dos episódios, além de expandir muitas cenas do primeiro livro ganhando assim em desenvolvimento.

A série termina corretamente, resolvendo a trama principal da temporada, mas cuidadosamente inserindo pontas soltas não só da profecia envolvendo o retorno de Cronos, mas também deixando os vilões bem definidos. Outro ponto que merece destaque é a animosidade existente entre meio sangues e seus respectivos pais, tudo muito bem estabelecido.

Fonte: Disney Plus

Enfim, “Percy Jackson” é um seriado bem adaptado, mas precisa diminuir a seriedade e abraçar seu lado fantástico, bem como deixar esses pré-adolescentes realmente curtirem a jornada. Afinal qual é a vantagem de ter criaturas mágicas e deuses, senão existe senso de deslumbramento com o que está sendo mostrado, não é verdade?!

Observação: Esta foi a última aparição de Lance Reddick, que brilhou na sua breve aparição como Zeus. O ator faleceu 17 de Março de 2023 e foi homenageado na série.

Elo Preto

Personagem: Annabeth Chase
Atriz: Leah Sava Jeffries
Idade: 14 anos

O destaque da Coluna Elo Preto desta edição é a atriz mirim Leah Sava Jeffries no papel da inteligente e habilidosa Annabeth Chase. A pequena consegue entregar uma boa atuação de uma personagem adorada por legiões de fãs, os momentos de heroísmo, as cenas chaves do futuro casal “percabeth” e o senso de liderança, faz desta semideusa uma das partes mais interessantes da série. Leah está definitivamente em desenvolvimento na carreira de atriz, mas em muitos momentos consegue passar segurança no papel, calando a boca de muito “haters” preconceituoso por ai. A jovem atriz mirim começou cedo, já apareceu no seriado “Empire” da Fox e também no filme “A Fera” com Idris Elba, sendo “Percy Jackson e os Olimpianos” seu maior papel de destaque até o momento. Boa sorte para este pequeno talento.   

Gostou? Veja o trailer da primeira temporada e comente abaixo sobre o que achou da série.

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