Esta minissérie da Paramount Plus conta a história do maior lutador de MMA do UFC através de uma pegada mais intimista que só peca por ter poucos episódios para desenvolver melhor seus personagens.

Estamos em um momento bom do audiovisual nacional, as cinebiografias estão em alta atraindo o público brasileiro para as salas de cinemas pelo país, resultando assim em sucessos como “Mussum, O Filmis”, “Nosso Sonho – A História de Claudinho & Buchecha”, “Meu Nome É Gal”, além do recente hit de janeiro “Mamonas Assassinas – O Filme”. Na telinha da TV não anda sendo muito diferente e apesar de pouco marketing, as biografias tem sido feitas também pelos streamings.
Um exemplo disto, é a tele biografia “Anderson ‘Spider’ Silva” (2023), uma produção da Pródigo Filmes em parceria com Paramount Pictures que estreou no streaming Paramount Plus no final do ano passado. A trama desta minissérie conta a história do nosso glorioso Anderson Silva (William Nascimento – Versão Adulta) desde sua infância, passando por sua adolescência conturbada, até chegar na sua vida adulta até chegar ao estrelato no UFC.
A série criada por Marton Olympio (Alemão 2) e com episódios dirigidos pelo experiente Caito Ortiz (O Roubo da Taça), é pautada pela boa produção e uma escolha correta de elenco que faz a história funcionar. O primeiro episódio consegue estabelecer bem a trama ao mostrar Anderson num momento crucial da vida entrando numa sorveteria com rosto machucado e cheio de hematomas.

A partir deste ponto somos levados de volta a sua adolescência em um bairro modesto de Curitiba no Paraná onde o garoto viveu com os tios, dona Edith Silva (Tatiana Tibúrcio) e Benedito Silva (Seu Jorge), bem como os primos. O roteiro não se retrai, mostrando um Anderson (Bruno Vinícius – Versão Adolescente) cheio de personalidade, porém retraído devido a infância difícil com a mãe, tudo isso acentuado pelas dificuldades de estudar numa escola sulista onde infelizmente o racismo e o bullying eram bastante recorrentes tanto para ele, quanto para seus primos.
Acredito que a minissérie não tenta amenizar esta parte difícil da vida de Anderson, inclusive o roteiro que ainda tem colaboração de várias pessoas como: Susan Kalik, Eliana Alves Cruz, Nathalia Cruz, Raul Perez, Álvaro Campos e Luiz Guilherme Assis, procura mostrar que muito do jeito do garoto, vem dessa dificuldade em pertencer e crescer num ambiente hostil criou uma raiva internalizada que precisava ser liberada. E isto, vem através da luta.
É bacana ver como o lutador apesar das dificuldades, conseguiu ter uma base forte através da família e amigos. Ainda que ache o primeiro episódio bom, nota-se aqui uma trama um pouco apressada na forma como passa por acontecimentos da vida do lutador, isto fica ainda mais evidente no segundo episódio, que apesar de ser melhor, avança no tempo para mostrar a vida de Anderson já adulto tentando sustentar a esposa Dayane (Larissa Nunes) e os dois filhos pequenos.

A minissérie é marcada principalmente pela boa produção, a direção de Caito ajuda bastante essas progressões temporais não soarem estranhas para o público, isto deixa a série dinâmica com ritmo agradável de acompanhar. A fotografia deslumbrante, os figurinos de época, a direção de arte e a trilha sonora (inclusive a abertura cantada por Seu Jorge numa releitura de “Ain’t No Sunshine” de Bill Withers, é linda) mostram uma evolução boa do audiovisual brasileiro com investimento vindo de fora.
É com estes bons atributos que “Anderson ‘Spider’ Silva” cresce como minissérie, principalmente quando vemos a ascensão de Anderson, desde seus treinamentos nos EUA, até suas lutas pelo mundo incluindo uma de suas maiores conquistas no Japão, como é mostrado no terceiro episódio.
Esta força narrativa vem muito da escolha certeira do elenco, enquanto os atores William Nascimento, Bruno Vinícius e o pequeno Caetano Vieira (Anderson na infância) mostram talento ao interpretar o lutador em diversas fases de sua vida, o elenco coadjuvante majoritariamente negro que mistura veteranos e novatos ajuda a dar sustentação a história. Destaque para Larissa Nunes (Coisa Mais Linda) no papel de Dayane, Seu Jorge (Manhãs de Setembro) no papel de Benedito, Douglas Silva (Cidade de Deus) no papel do empresário Max Freitas e a ótima Tatiana Tiburcio (União Instável) que entrega uma atuação calorosa e a melhor da série.

O resto do elenco merece menção, como Dudu Azevedo (Muita Calma Nessa Hora) no papel de Minotauro, Milhem Cortaz (Tropa de Elite) no papel do treinador Santiago, além das atrizes Iza Moreira (Boca a Boca) e Jennifer Dias (Mussum, O Filmis) que fazem a prima de Anderson, Sandra, em fases diferentes. A sintonia destes atores ajuda a história a crescer, de tal forma que ficamos na expectativa de ver mais desenvolvimento desses personagens.
É por conta disso que a limitação no formato minissérie atrapalha um pouco “Anderson ‘Spider’ Silva” a ser tornar uma série acima de outras no gênero, pois ao pular de pressa demais eventos para se estabelecer em outro ponto da história do lutador, o roteiro acaba criando pontas soltas que nunca são aprofundadas ou tem um desfecho, como a perda da relação da família e amigos em Curitiba por conta da fama meteórica, principalmente com a tia que o criou, ou na superficial relação com os cinco filhos que inclusive é mostrado que sofreram racismo nos EUA, mas isso nunca é desenvolvido, ou a crise no casamento devido aos compromissos infinitos para consolidar a própria marca.
Falta ainda a série se aproveitar do amor do brasileiro pelo MMA para criar uma antecipação para lutas do atleta, perdendo a oportunidade de mostrar o quão genial e letal o lutador era dentro do ringue no início de sua jornada. Momentos estes que poderiam servir de catarse entre episódios, mas são abreviados para focar mais no drama pessoal do personagem pós combates, como é mostrado no episódio quatro que tem a luta mais difícil de sua carreira.

No entanto, por tudo que foi comentado, não há como negar que “Anderson ‘Spider’ Silva” é uma boa minissérie, não só por mostrar a trajetória do lutador, mas por evidenciar sua luta e dificuldades na infância e adolescência de forma humanizar toda sua trajetória, mostrando seus erros e acertos. A narrativa estabelece um desenvolvimento tão bom que deixa a sensação que poderiam esticar a série um pouco mais para apreciarmos a obra, isso fica evidente no final da temporada no ótimo quinto episódio. Que se apoia na carga emocional do protagonista colocando sua família como o ponto central de seu sucesso que mostra que apenas com esta base Anderson se tornaria um campeão completo, isto parece clichê, mas com certeza funciona muito bem.
E por ter este ponto positivo, pode-se dizer que a minissérie é um produto nacional bem acabado que merecer ser assistido principalmente se for fã de MMA e do Anderson Silva. O mais legal aqui é ver um dos atletas negros mais influentes da geração atual ganhar uma tele biografia satisfatória, realizada do jeito certo com um elenco negro talentoso regado a uma história de superação incrível e emocionante.
Gostou? Veja o trailer e comente abaixo se assistiu.



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