“União Instável” – Crítica

Esta comédia romântica brasileira protagonizado por um casal negro e um elenco coadjuvante de peso, exala potencial, mas peca por desenvolver pouco seus personagens se perdendo nos próprios clichês.

Fonte: Netflix

O cinema nacional está tendo uma oportunidade interessante com esta onda de streamings, afinal uma porcentagem do investimento em produções brasileiras é obrigatória para que possam atuar aqui no país. Isto gera boas oportunidades para os cineastas brasileiros e atores de não só garantir emprego, mas também mostrar nossa cultura ao exterior através destas plataformas.

O maior desafio destes investimentos estrangeiros do Brasil é tentar equilibrar nossa forma de fazer cinema e tv, com o que é mostrado lá fora. Muito se percebe que existe uma perda de identidade onde nossa cultura acaba sendo pasteurizada para se adaptar ao modelo norte americano e não ao contrário. É claro que existe boas produções nacionais e este ano tivemos a temporada brilhante de “Cangaço Novo” mostrando que é possível fazer um produto nacional bem feito sem perder o caldo brasileiro e tem outras produções como a série “Sintonia” e “Manhãs de Setembro” que aprenderam com o tempo a focar no que é nosso.

Em termos de série, estamos no caminho certo, porém em se tratando de filme, ainda precisamos de um controle maior em nossas produções que por mais que estejam acontecendo, ainda carecem de uma identidade brasileira mais marcante. É seguindo esta linha que venho falar da comédia romântica “União Instável”, produção brasileira da Netflix que chegou no catálogo no dia 24 de novembro sem muito alarde ou divulgação.

Fonte: Netflix

O longa dirigido por Silvio Guindane (Mussum, o Filmis) conta a história de um casal que se vê as vésperas do casamento de suas vidas, mas devido a algumas complicações, a cerimônia corre o risco de não acontecer e acabar em um desastre. A trama é simples, clichê e parecida com tudo que você já viu dentro deste gênero.

Desta forma, o que talvez diferencia esta comédia das outras, é exatamente o fato de ter um casal negro como protagonistas. Normalmente estas comédias são protagonizadas em sua grande maioria por jovens brancos sarados e com bastante sex appeal. Aqui temos Alex (Dan Ferreira), um cara inteligente e nerd que esta preste a fechar a venda de um jogo de realidade virtual que pode leva-lo para trabalhar na Europa. Por outro lado, temos Eva (Dandara Mariana), uma executiva bem sucedida que tem sua vida mudada ao se mudar para São Paulo para ficar com Dan.

O longa começa bem, a narração em off dividida pelo casal dá o tom da narrativa que começa com os preparativos do casamento e como suas respetivas famílias estão se virando para chegarem em Ilhéus para cerimônia de matrimônio. O roteiro escrito por Renato Fagundes e Belise Mofeoli é bem objetivo e expositivo, mostrando os membros da família da noiva e do noivo, bem como suas respectivas amizades, normalmente isto fica muito mal inserido em comédias deste estilo, mas aqui ajuda a situar bem o expectador.

Fonte: Netflix

Apesar da história não trazer muitas novidades, a narrativa ganha pontos ao se dividir em uma trama principal e várias subtramas colocando Dan e seus amigos numa missão de levar o vestido da noiva até o destino, enquanto também acompanhamos a noiva e suas amigas cuidando dos preparativos. E ainda temos uma subtrama com parte da família dos noivos na estrada a caminho do casamento.

Tudo é muito bem montado, o clima do filme é leve, fácil de agradar, a fotografia é solar e belíssima (as paisagens da Bahia são lindíssimas), os conflitos e as desconfianças, bem como as incertezas do casal, são muito bem desenvolvidas, mas ainda assim, a sensação de que falta algo é inevitável. O longa não explora a química do casal principal então fica complicado de o expectador gostar ou criar uma conexão com os personagens de Dan Ferreira (Meu Nome É Gal) e Dandara Mariana (Travessia), que até se esforçam, mas falta mais tempo para nós conhecê-los melhor e falta mais tempo de tela com os dois juntos, sendo que a narrativa os mantém muito tempo separados.

Ainda que parte disto seja um problema do roteiro que tenta dá um tom mais sóbrio com conflitos reais, a direção de Guindane deixa muito a desejar em muitos momentos, principalmente porque fica a grande sensação que o filme não toma respiros, servindo ao elenco coadjuvante totalmente voltado para comédia ajudar a dar brilho a uma história que deveria abraçar mais seu lado cômico.

Fonte: Netflix

Se falta equilíbrio no romance e na comédia, “União Instável” vale muito pela profusão de rostos conhecidos que tentam deixar a narrativa mais gostosa de assistir e mereciam mais desenvolvimento, principalmente por conta da presença de nomes como: Tatiana Tibúrcio (Terra E Paixão), Serjão Loroza (Mussum, O Filmis), Stepan Nercessian (Mussum, O Filmis), Katiuscia Canoro (Tô Ryca), Vilma Melo (Encantados), Cristina Pereira (De Pernas Pro Ar), Lellê (Nosso Sonho), Negra Li (O Segundo Homem), Estevam Nabote (Portugal Show) e Yuri Marçal (Mussum, O Filmis).

No geral, “União Instável” soa como filme feito por encomenda, falta um pouco de química ao casal principal, falta um pouco de charme, ainda que a comédia seja visualmente caprichada e tente momentos interessantes como um final fora da curva para comédias românticas, fica claro que no geral a trama é bem óbvia. Existe aqui um potencial que poderia ser melhor aproveitado, mas por ter uma duração tão curta (apenas 80 minutos), não temos tempo para desenvolver o romance em sua totalidade, assim como os conflitos familiares, mesmo que em certos momentos percebemos que tudo é feito para ser descompromissado, mas é pouco mesmo para uma temática tão rica e com belos protagonistas que mereciam um material melhor para brilhar.

Gostou? Veja o trailer e comente se já assistiu ao filme.

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