Uma construção incompleta! A coluna elo preto com destaque para Djimon Hounsou apresenta esta obra épica dirigida por Zack Snyder que possui todos os elementos de um grande sci-fi, porém peca ao contar uma história que falta desenvolvimento de personagens e entrega pouca ação.

Quando George Lucas apresentou seu Star Wars para o mundo em 1977, foi um marco de uma era ao introduzir um fazendeiro que embarca numa jornada extraordinária que surpreende por entregar elementos de ação, ficção científica e um forte senso de novidade que encantou plateias do mundo todo fazendo o simples, mas entregando o diferente. Este gênero “space opera” ou “ópera espacial” é a brecha que todo contador de história precisa para levar a fantasia para dentro da ficção científica e criar uma aventura com várias possibilidades e vastos universos.
É desta forma que o cineasta Zach Snyder (A Liga da Justiça de Zach Snyder) entrega seu projeto e paixão pessoal na forma da superprodução da Netflix, “Rebel Moon: Parte 1 – A Menina do Fogo” (Rebel Moon: Part 1 – The Child of Fire, 2023), um dos filmes mais esperados da temporada, conta a história de uma guerreira, Kora (Sofia Boutella), que parte numa jornada para reunir guerreiros para proteger uma vila na lua de Veidt ameaçada por forças externas do poderoso “Mundo Mãe”.
A história foi desenvolvida por anos por Snyder e o roteiro ficou a cargo também de seus parceiros Shay Hatten (Army of the Dead – Invasão em Las Vegas) e Kurt Jhonstad (300), tudo isto é sentido em todo o primeiro ato desta trama que começa de forma cuidadosa estabelecendo este mundo novo focando numa escala menor quando encontramos Kora nesta pacata vila que é tomada por pânico com a chegada do intimidador Almirante Aticcus Noble (Ed Skrein) e seus soldados.

Talvez o que mais podemos tirar de positivo de “Rebel Moon” é o esforço de Snyder em apresentar uma aventura espacial com clara influência em outras fontes pegando elementos de “Os 7 Samurais”, algumas pitadas de “Star Wars”, mas também com elementos de “Duna” e outras obras similares. Não existe aqui um senso de novidade em termos de história, apesar da ambição do escopo, a narrativa logo cai no senso comum de uma trama que já foi vista diversas vezes e contada de formas diferentes.
O grande problema do longa na minha visão é a forma como constrói este universo com bons personagens, mas nunca desenvolve inteiramente nenhum deles. Com exceção de Kora que tem toda a trama esmiuçada criando uma ligação entre seu passado e o “Mundo Mãe”, principalmente ao imperador Balisarius (Fra Fee), molda-se aqui a jornada de heroína da personagem, os outros rebeldes são apresentados um a um, mas nenhum ganha uma identidade ou personalidade, são personagens com poucos diálogos e interações que carecem de aprofundamento ficando apenas no campo do potencial.
Inclusive esta palavra é muito o que define “Rebel Moon”, uma narrativa promissora que é muito contida ao invés de ser realmente abraçada. Fica claro o cuidado de Snyder ao construir este universo, mas fica claro também que suas qualidades como contador de história deixam a desejar a partir do momento que falta o elemento principal para que o filme seja abraçado com unanimidade que é o entretenimento.

Enquanto o começo do filme é bastante interessante ao colocar Kora em ação em duas boas sequências (uma em um celeiro e outra em um bar com criaturas estranhas), o plot vai ficando cansativo quando o diretor estende a jornada da personagem pelo vasto universo conhecido acompanhado do fazendeiro Gunnar (Michiel Huisman) e posteriormente encontrando Kai (Charlie Hunnam), Tarak (Staz Nair), Nemesis (Bae Doona), General Titus (Djimon Hounsou), Darian Bloodaxe (Ray Fisher) e Milius (E. Duffy) formando um esquadrão de rebeldes para lutar com as forças de Noble.
Falta a “Rebel Moon” se divertir com consigo mesmo, os personagens parecem travados e contidos se segurando enquanto o filme não cria elementos de tensão ou antecipação, ficando no campo da construção de mundo e contemplação. Snyder claramente segura a mão no que quer contar, mas acaba exagerando nos seus maneirismos de sempre, principalmente com o uso de “slow motion” em todas as cenas de ação até em momentos que não é preciso usar, criando uma certa distração desnecessária.
Nem tudo é perdido no longa, o universo criado ao menos é visualmente bacana, apesar do excessivo uso da dessaturação de cores e lens flares, existe tomadas bonitas em mundos desérticos como a sequência de introdução de Tarak que é belíssima, ou na sequência no submundo do planeta Daggus onde somos apresentados a personagem Nêmesis que precisa enfrentar a criatura Hamada, duas boas cenas que mostram o potencial deste novo mundo.

Em termos de produção, “Rebel Moon” possui uma boa fotografia, bem como uma ambientação que preocupa em ter menos elementos em CGI e mais cenários práticos. Os efeitos visuais são o grande destaque, principalmente ao mostrar criaturas estranhas e bichos voadores imponentes, bem como robôs e naves em profusão. A trilha sonora é razoavelmente boa, mas nada que impressione, a edição é problemática, pois para chegar num corte mais acessível de duração, o diretor acaba deixando alguns vácuos que claramente devem ser preenchidos com uma versão estendida do longa já anunciada.
O elenco é grande, mas os destaques são limitados exatamente porque os personagens são apenas introduzidos aqui. Ed Skrein (Deadpool) é um bom vilão na pele do Almirante Noble, intimidador, cruel e implacável. A atriz Bae Doona (O Mar da Tranquilidade) no papel de Nemesis é a personagem mais visualmente chamativa. Sofia Boutella (A Múmia – 2017) no papel de Kora possui presença de tela e o melhor desenvolvimento da narrativa como mencionado anteriormente, a atriz consegue segurar bem o protagonismo. O robô Jimmy (voz de Anthony Hopkins) é simplesmente maravilhoso, com efeitos caprichados em sua concepção, além de servir como narrador da história, é de longe um dos personagens mais intrigantes.
De uma forma geral, “Rebel Moon: Parte 1 – A Menina de Fogo” é um filme ok dentro daquilo que se propõe, mas sofre com ritmo irregular e falta desenvolvimento de personagens. Zach Snyder constrói um lore com potencial, mas nunca atinge a cartase do entretenimento, tudo soa como um grande primeiro ato de construção de universo que nunca decola, falta sequências empolgantes e falta abraçar realmente aquilo que precisa contar.
A falta de uma crescente até o final e a falta de emoção em momentos que exigiam que os personagens brilhassem resulta num produto frustrante quando colocamos em um escopo geral. Apesar de não ser um desastre, esta ficção científica fica muito abaixo por desperdiçar um potencial imenso com personagens que clamam por mais espaço. As criaturas apresentadas são bacanas, assim como os planetas e o design de produção, mas para torna-los marcantes, é preciso que Snyder realmente abra mão dos maneirismos e deixe a história acontecer como se deve, ao menos é o que promete acontecer na segunda parte desta jornada. A expectativa agora é que “A Marcadora de Cicatrizes” entregue aquilo que merecemos, ação e entretenimento desenfreado.
Observação: O teaser de “Rebel Moon: Parte 2 – Marcadora das Cicatrizes” é mostrado após os créditos. O longa estreia dia 19 de abril de 2024.

Elo Preto
Personagem: General Titus
Ator: Djimon Hounsou
Idade: 59 anos
A coluna elo preto traz o destaque para o ator Djimon Hounsou no papel do General Titus, um gladiador antes comandante implacável das tropas do “Mundo Mãe”, está exilado no planeta Pollux e encontra em Kora a chance de um momento de redenção. Apesar de faltar um aprofundamento em seu personagem, Hounsou entrega aquilo que se pede num papel que claramente terá mais destaque no futuro. Um dos atores negros mais talentosos das últimas décadas, encantou o mundo no longa pelas atuações em “Terra dos Sonhos” e “Diamante de Sangue”, seu currículo ainda conta com várias produções como “Amistad”, “Gladiador”, “Guardiões da Galáxia”, “Velozes & Furiosos 7”, “King’s Man: A Origem” e recentemente no longa “Gran Turismo”. A próximos produções com o ator serão “Rebel Moon: Parte 2” e “Um Lugar Silencioso: Dia Um” em 2024.




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