“Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” – Crítica

Esta prequel de “Jogos Vorazes” é uma adaptação fiel, com atuações consistentes, cenas de ação violentas (mas sem sangue) e uma expansão bastante produtiva e correta do universo de Suzanne Collins.

Fonte: Lionsgate

Quando Suzanne Collins anunciou que escreveria um livro sobre a história do vilão de Jogos Vorazes de forma explorar os primeiros torneios anos antes da sua trilogia literária, muitas pessoas incluindo este que vos escreve ficou bastante preocupado em como seria esta narrativa, uma vez que a preocupação de humanizar uma figura como Snow seria um grande erro na visão de muitos fãs e amantes deste universo.

O livro foi lançado em 2020 e após lê-lo, percebi que a história falava sobre mais do que a história de um vilão, falava sobre a natureza do ser humano e como mecanismos externos e internos podem influencia-lo a tomar caminhos que o levasse a escolher entre o bem e o mal. Essa complexidade que cai numa área cinza e foi este contexto que tornou o livro escrito por Collins algo surpreendente e extremamente viciante de acompanhar.

Com o sucesso dos filmes protagonizados por Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) no cinema, a Lionsgate percebeu que tinha uma mina de ouro nas mãos, então naturalmente que mesmo após a conclusão de “Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 2” em 2015, esta nova trama ganharia uma adaptação no futuro. Nesta semana finalmente chegou o dia da estreia de “Jogos Vorazes: A Cantiga dos Passaros e das Serpentes” (The Hunger Games: The Ballad of Songbirds and Snakes, 2023), adaptação do livro de mesmo nome que se passa 64 anos antes dos eventos da quadrilogia original e conta a história do jovem Coriolano Snow (Tom Blyth) antes de se tornar presidente de Panem.

Fonte: Lionsgate

O longa traz de volta Francis Lawrence (Jogos Vorazes: Em Chamas) que dirigiu três filmes da franquia e agora retorna para mais uma vez adaptar esse período para telonas. O roteiro ficou a cargo de Michael Lesslie (Treze Vidas: O Resgate) e Michael Ardnt (Jogos Vorazes: Em Chamas), que adaptaram de forma bastante fiel uma história longa que se passa durante a décima edição dos Jogos Vorazes numa época bem menos tecnológica e menos “glamourosa” para os tributos que participavam.

O filme é dividido em três partes, basicamente em três atos, o primeiro é focado em estabelecer o período dos acontecimentos e a vida levada por Coriolanus Snow, jovem que veio de uma família renomada, mas que agora está em decadência vivendo num apartamento caindo aos pedaços com a prima Tigris (Hunter Schafer) e a avó (Fionnula Flanagan), porém precisa manter as aparências até que consiga uma posição melhor que o leve a cursar a Universidade da Capital que pode futuramente livrá-lo da pobreza.

O importante aqui é que para quem conhece a trama, tudo vai soar familiar e muito bem escrito, com algumas poucas mudanças. Para aqueles que não leram ou não estão familiarizados com a história, pode ser um pouco desafiador lembrar de todos os nomes que aparecem em tela, mas a direção de Lawrence é correta na execução, dando espaço para figuras relevantes que serão importantes no decorrer da história, como o diretor Casca Highbottom (Peter Dinklage) e a perigosa dra Volumnia Gaul (Viola Davis).

Honor Gillies as Barb Azure, Konstantin Taffet as Clerk Carmine and Rachel Zegler as Lucy Gray Baird in The Hunger Games: The Ballad of Songbirds and Snakes. Photo Credit: Murray Close

O grande foco da história na verdade é a relação entre Snow e Lucy Gray (Rachel Zegler) que acabam tendo o destino cruzado depois de uma mudança nos jogos com os tributos ganhando mentores que irão ajuda-los a vencer dentro da arena. O filme fala muito sobre ambição, talvez por isso os diálogos inicialmente mostram bastante a futilidade e arrogância do povo capital em contraponto a rebeldia e desejo de liberdade dos distritos.

Tudo que deu certo nos filmes anteriores, é usado aqui de uma forma bastante consistente por Francis Lawrence, o cineasta mais amadurecido e calejado neste universo, consegue equilibrar bem o foco nas ambições de Snow e toda a antecipação para o começo dos jogos vorazes. A parte política, o perigo dos ataques da resistência, o sistema opressor, a pobreza exacerbada dos distritos em relação a capital, tudo é muito bem inserido de forma enriquecer ainda mais a jornada desses personagens.

A parte técnica inclusive vale todos os elogios por uma ambientação magnifica e imersiva, a Capital tem um ar mais antigo, ainda se recuperando dos tempos sombrios, a pobreza acentuada nos distritos é ainda mais evidente, assim como a certa precariedade dos jogos numa vibe retro futurista. A fotografia e a trilha sonora são belíssimas, os efeitos visuais são decentes e os figurinos seguem o mesmo cuidado.

O elenco é um caso a parte, muito do filme só funciona porque os atores mostrando uma dedicação excedente. Gosto que Tom Blyth (A Idade Dourada) consegue fazer um Coriolano Snow que exala dualidade, uma pessoa altruísta, observadora e fria que possui uma integridade que é sempre colocada a prova por outros personagens, o ator está muito bem apesar de mostrar certa inexperiência em algumas cenas, mas no geral se sai bem e consegue entregar como protagonista.

Fonte: Lionsgate

Outro grande destaque é Rachel Zegler (Amor, Sublime Amor) no papel de Lucy Gray, uma personagem complexa, doce e forte que consegue roubar as cenas em vários momentos numa adaptação bastante fiel inclusive nas cenas que precisa cantar, a voz da atriz é linda e tocante conseguindo dar um tom mais vivo a trama. A atriz Viola Davis (A Voz Suprema do Blues) dá um show no papel de Dra Gaul que nas mãos de outra pessoa soaria bastante caricata, aqui vemos Davis sumir no papel de uma vilã perigosa e implacável que apesar do visual meio estereotipado, consegue passar um tom bastante intimidador.

Vale também uma menção para boa Hunter Schafer (Euphoria) no papel de Tigris, Josh Andrés Rivera (Amor, Sublime Amor) no papel de Sejanus Plinth e também Jason Schwartzman (Quis Lady) no papel de Flickerman, talvez o personagem mais bem adaptado aqui, inclusive o ator consegue facilmente superar a mesma versão interpretada por Stanley Tucci. Peter Dinklage (Game of Thrones) no papel de Highbottom é apenas ok, nada muito novo para os personagens que costuma interpretar.

Com performances consistentes, “Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” consegue se elevar como cinema quando o segundo ato toma forma e os Jogos acontecem, é aqui que o filme realmente mostra a que veio, o ritmo é feroz e acelerado com a tensão subindo acentuada por uma direção bastante eficaz de Lawrence que sabe intercalar a intensidade das cenas de ação na arena e os momentos de tensão dos mentores assistindo seus tributos se devorando nos telões.

Fonte: Lionsgate

A narrativa simplesmente voa principalmente quando precisa intensificar a relação entre Snow e Lucy, além de mostrar o jogo de interesse dos mentores tentando a glória em meio ao experimento assistido de Gaul. É claro que as vezes falta um aprofundamento maior de alguns personagens secundários, mas o diretor consegue ser menos expositivo e mostrar mais ao invés de só entregar tudo com diálogos.

O filme tem várias nuances e complexidades que as vezes podem passar despercebidas, mas ficam evidentes no terceiro ato, que senão é o melhor momento do filme, ao menos consegue trazer toda a carga dramática e ambiguidade que a trama precisa, o final é bastante fiel e talvez tenha um impacto maior para os leitores, mas não deixa de envolver o público de primeira viagem, principalmente aqueles que buscam uma boa história para assistir.

De uma forma geral, “Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes” é um ótimo filme, uma adaptação competente que respeita aquilo que foi estabelecido e entrega aquilo que se espera. Talvez não seja um grande filme em termos de impacto cinematográfico, mas chega muito perto principalmente quando consegue expor o conceito dos jogos vorazes seja nas violentas cenas de ação que poderiam facilmente elevar a classificação iniciativa do filme se tivesse mais sangue, seja por palavras nos bons diálogos sobre poder e controle entre um ambicioso Snow e uma inescrupulosa Dra Gaul.

Portanto, se você não seguia a história, mas está curioso, com certeza vale o ingresso, agora se você é um leitor fiel deste universo, a adaptação é um presente principalmente por contar com atuações magnificas de Rachel Zegler e Viola Davis em personagens marcantes que na tela que ficam ainda melhor na companhia do resto do elenco. A trama consegue expandir um universo de uma forma primorosa que deixa aquele gostinho de que existe muito mais a ser contado, que se tiver a mesma qualidade, será muito bem-vindo.

Elo Preto

Personagem: Dra Volummia Gaul
Atriz: Viola Davis
Idade: 58 anos

O destaque da coluna de hoje é a atriz ganhadora do Oscar Viola Davis com a personagem a Dra Gaul, uma cientista da capital e idealizadora dos Jogos Vorazes com uma personalidade fria, calculista e manipuladora que tenta a todo custo emplacar a competição que estava começando a perder o interesse do público. Viola mostra porque é uma das melhores atrizes da atualidade e a principal referência negra em Hollywood hoje, entregando uma vilã sem meio termos e extremamente perigosa, a atriz simplesmente brilha sem cair no maniqueísmo. Viola lançou um livro recente “Em Busca de Mim”, além de atuar em “A Mulher Rei” e no drama “Air: A História Por Trás do Logo”, logo ela estará protagonizando o drama “I Almost Forgot About You”.

Gostou? Veja o trailer do longa e comente abaixo se já assistiu ao filme.

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