“The Blackening – Jogo Mortal” – Crítica

A comédia dirigida por Tim Story, entrega uma sátira inteligente, bem humorada e cheia de reviravoltas num filme que não teve muito sucesso, mas com certeza merece uma chance para os amantes do gênero.

Fonte: Lionsgate

Um dos gêneros mais interessantes do cinema é a paródia, uma releitura cômica de algum clássico, algum gênero popular, algum filme marcante, tudo isso de forma irreverente e bem humorada. Os filmes mais conhecidos e memoráveis deste gênero são da franquia “Todo Mundo Em Pânico”, que até hoje são lembrados como referências de boas paródias tirando sarro de outras franquias de sucesso em sequências de comédia memoráveis.

É seguindo esta linha, porém entregando um tom mais sério em alguns momentos que a nova comédia produzido pela Lionsgate, “The Blackening – Jogo Mortal” (“The Blackening, 2022) estreou este ano nos EUA, sem muito alarde, apenas recebendo uma boa recepção por parte da crítica especializada, sendo completamente ignorado pelo público durante sua exibição nos cinemas. Este longa dirigido por Tim Story (Quarteto Fantástico (2005)) conta a história de sete jovens negros que vão comemorar o feriado de Junnetenth numa cabana, mas acabam se deparando com uma trama macabra e um assassino que quer mata-los.

A narrativa do filme não é muito inovadora, na verdade é a forma como tudo aqui é trabalhado pelo roteiro escrito por Tracy Oliver (Viagem das Garotas) e Dewayne Perkins (Brooklyn Nine-Nine) através de clichês e estereótipos que faz com que essa comédia seja uma das mais interessantes do ano, replicando a trama dos jovens indo parar num lugar aparentemente amigável, mas que acaba se tornando uma armadilha que normalmente resulta num banho de sangue.

Fonte: Lionsgate

Este tipo de produções, normalmente são protagonizados por jovens brancos curtindo a vida num lugar inóspito tendo sempre um assassino maluco a solta, neste caso, a trama é a mesma, só que desta vez temos os amigos: King (Melvin Gregg), Allison (Grace Byers), Clifton (Jermaine Fow), Dewayne (Dewayne Perkins), Lisa (Antoinette Robertson), Shanika (X Mayo) e Nnamdi (Sinqua Walls), são todos negros, na flor da idade e prontos para curtir um final de semana com bebidas num feriado voltado para cultura negra.

O mais bacana aqui é como “The Blackening” subverte todas as expectativas ao começar sendo clichê e depois se transformando todos os estereótipos de filmes de terror numa comédia que consegue abraçar bem humor e suspense, sabendo dosar tudo isto num nível de tensão palpável que acabam por gerar boas risadas pela forma como os personagens lidam com a situação, ainda que tenha sequências de pura tensão.

O fato do longa ser uma comédia voltada para o público negro, a torna um pouco nichada, algo que o diretor Tim Story já havia feito na comédia “Uma Turma da Pesada” e aqui replica de uma forma ainda mais esperta, pegando várias referências a cultura pop e usando isso como ferramenta para alimentar o lado de terror narrativa, quando o grupo acaba encontrando um jogo de tabuleiro chamado “The Blackening” que é um termo racista nos EUA e seria traduzido aqui literalmente como “O Escurecimento”, que acaba abrindo um quiz de pergunta e respostas que só pessoas pretas poderiam responder, abrindo assim o jogo maluco proposto pelo assassino que os observa na casa de campo no meio do nada.

Fonte: Lionsgate

É nesta pegada que “The Blackening” atiça a curiosidade de seu público abrindo espaço para boas críticas sociais e utilizando o exagero para tirar sarro não só de narrativas de terror conhecidas como “Sexta Feira 13” e “Eu Sei O Que Vocês Fizeram No Verão Passado”, mas também dos clichês do gênero, como se separar para investigar, ou ser o primeiro negro a morrer no jogo do assassino, tudo aqui é utilizado da forma mais cômica e escrachada possível, seguindo em alguns momentos o mesmo caminho trilhado por “Todo Mundo Em Pânico”, mas sem cair no humor pastelão, se mantendo no micro espaço entre a comédia irreverente com humor esperto e o suspense clichê com resultados inusitados.

O filme talvez limite seu público, por ter piadas que onde é preciso ter uma boa gama de conhecimento da cultura pop dos EUA, assim como da cultura pop preta, afinal o roteiro é uma metralhadora de referências, com nomes, séries e tiradas que só serão cem por cento entendidas se você tiver uma boa base dos filmes e séries produzidos por lá. Isto acaba tornando a trama do longa menos universal e mais especifica, sendo bem pontual em alguns casos, mas existe outros momentos, que se você for fã de terror, conseguirá identificar de imediato.

Falando em identificação, o elenco é outro ponto positivo desta produção, gosto bastante que todos os protagonistas parecem bem entrosados e abraçam todos os estereótipos relacionados a pessoas pretas. Os destaques aqui vão para Grace Byers (Um Maluco no Pedaço), X Mayo (A Despedida) e o engraçado Dewayne Perkins (Família Upshaw), porém é bom dizer que o restante também apresenta um trabalho decente, Sinqua Walls (Homens Brancos Não Sabem Enterrar) e Diedrich Bader (A Família Buscapé) são rostos conhecidos que merecem menção.

Fonte: Lionsgate

Em termos técnicos a direção de Tim Story é um dos grandes destaques, além do roteiro, que traz assuntos como colorismo, bullying, racismo e outras pautas interessantes que aqui são tratadas de uma forma mais leve, mas de forma muito pertinentes, se baseando em estereótipos que são representados de uma forma propositalmente exagerados inseridos no contexto do terror que ajudam os personagens a se tornarem mais espertos e menos burros, como é comum neste tipo de narrativa dentro do gênero.

De uma forma geral, “The Blackening – Jogo Mortal” é aquela comédia que não se espera muito, mas acaba entregando mais do que se imagina, muito bem desenvolvida, com um humor ácido e que sabe brincar com velhos clichês utilizando-se pautas raciais de uma forma bastante inteligente, além de brincar com gênero transformando a narrativa numa paródia esperta que pode causar certo estranhamento por ser mais direcionada ao público negro, mas promete ser uma surpresa para aqueles que esperam algo bem humorado que tira sarro de filmes de terror do gênero e ainda evolui em termos de sátira, que funciona bem por conta do elenco afinado e da direção, merecendo ganhar mais atenção daqueles que produção um bom passatempo no final de semana.

Observação: Disponível na Netflix a partir do dia 16 de maio.

Gostou? Veja o trailer abaixo e comente se já assistiu ao filme.

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