Uma aventura honesta! O novo capítulo da franquia “Transformers” traz feras, muita ação, um plot sem grandes novidades com foco nos 90, conseguindo entregar um filme que apesar das ressalvas, entretém.

Quando o primeiro “Transformers” estreou em 2007, foi um impacto muito grande trazendo uma revitalização dos blockbusters de ação, não por ser inovador, mas por conseguir unir a direção frenética de Michael Bay (Ambulância – Um Dia de Crime), a produção de Steven Spielberg, o protagonismo da estrela em ascensão na época Shia LaBeouf (Honey Boy), trilha sonora marcante de Linkin Park e a revelação da bela jovem Megan Fox, num entretenimento com muita ação, aventura e efeitos acachapantes gerando uma bilheteria gigantescas e várias sequências igualmente barulhentas e geradoras de grana fácil.
Após 16 anos, a franquia “Transformers” perdeu fôlego, depois do fracasso comercial de “Transformers: O Último Cavaleiro” em 2017, a Paramount Pictures e a Hasbro afastaram Michael Bay (agora funcionando apenas como produtor) e trouxe Travis Knight (Kubo e as Cordas Mágicas) para comandar a aventura juvenil “Bumblebee” em 2018, uma espécie de reboot/remake (você escolhe) que deu um novo gás para franquia numa aventura oitentista protagonizado pela jovem Hailee Steinfeld (Homem-Aranha Através do AranhaVerso) e assim conseguindo conquistar a crítica especializada e o público principalmente os fãs dos desenhos antigos.
Corta para este ano, finalmente ganhamos mais um filme da franquia, “Transformers: O Despertar das Feras” (Transformers: Rise of the Beasts, 2023), agora levando a trama dos robôs gigantes para os anos 90, temos um longa com vontade de ser grande como os filmes de Michael Bay, mas mantendo os pés no chão estabelecidos pelo filme do “Bumblebee”. Sai Travis Knight e entra Steven Caple Jr. (Creed II), numa história que traz a presença dos Maximals, uma espécie de Autobots primitivos que precisam se juntar a Optimus Prime (voz de Peter Cullen) e companhia para impedir que os Predacons e Terrocons tomem posse de um artefato que pode trazer o terrível Unicron para destruir o planeta Terra.

É deste modo que o roteiro escrito a três mãos por Joby Harold (The Flash), Darnell Metayer (Black Mafia Family) e Josh Peters (Black Mafia Family) explora a nova aventura colocando como elo humano o jovem Noah Diaz (Anthony Ramos), que vive com a mãe e o irmão pequeno Kris (Dean Scott Vasquez) em Nova York, e que acaba cruzando caminho com o robótico Mirage (voz de Pete Davidson) que transforma num porshe sendo um dos membros da equipe de Optimus Prime.
O primeiro ato que começa com flashback das Feras fugindo do seu planeta natal do ataque dos arautos de Unicron, principalmente do ameaçador Scourge (voz de Peter Dinklage), indo parar na Terra, onde esconderam a chave Transwarp capaz de abrir portais pela galáxia, onde Unicron possa chegar com mais facilidade e causar destruição. Após este começo frenético, a trama desacelera e pouco empolga, o plot foca muito na figura de Diaz e também da jovem estagiária Elena Wallace (Dominique Fishback), tentando criar um elo com público, demorando mais de vinte minutos para realmente acelerar o ritmo.
É claro que isso não é propriamente um defeito, é preciso estabelecer a época deste arco, mas este ritmo mais cadenciado é muito linear e permeia o filme inteiro, se tornando algo operante e sem encanto, ainda que tudo seja muito bem produzido, o roteiro é corretinho inserindo elementos de drama explorando a relação de Noah e seu irmão pequeno que tem uma doença que precisa de tratamento.

Olhando por esse lado que “Transformers: O Despertar das Feras” se destaca, é uma aventura descompromissada que é bem montadinha com começo, meio e fim, mas falta algo, falta um senso de urgência que os filmes do Michael Bay tinham, além da sensação de perigo e grandiosidade que Steven Caple Jr não consegue capturar, enquanto por um lado sua direção é eficaz em manter a história sóbria e bem dosada nas sequências de ação (todas muito bem filmadas), falta uma personalidade própria em trazer uma marca para franquia, algo que também achei que faltou inclusive no elogiado “Bumblebee”.
Talvez o elemento que torne esse longa algo que valha a pena assistir, seja a forma como equilibra bem, ação e a ambientação dos anos 90, que revela uma trilha sonora recheada de clássicos do hip hop que vão de Notorious Big, passando por Tupac até Wu Tang, que ajudam dar um gás na trama que as vezes carece de uma dinâmica melhor e uma fluidez que só realmente vem perto do terceiro ato, de longe o melhor momento do filme.
O elenco é bom e representativo, claramente vemos um filme que abraça o estilo da cultura preta dos anos 90 (vantagens de ter um diretor negro no comando), misturado com a cultura latina, representado aqui por Anthony Ramos (Em Um Bairro de Nova York) e pela talentosa Dominique Fishback (Enxame), dois protagonistas que tem pouca química juntos, mas ao menos são bem desenvolvidos dentro desta jornada. Pelo lado dos robôs gigantes, Optimus Prime é sempre destaque, mas desta vez o personagem está mais carrancudo que o normal, deixando os holofotes para Mirage e Bumblebee que esbanjam carisma e emoção, além dos Maximals, com destaque para Optimus Primal (voz de Ron Perlman) e Airazor (voz de Michelle Yeoh).

Em termos técnicos, a obra é um blockbuster estravagante com locações que vão desde Nova York até o Peru onde a ação toma forma, os efeitos visuais são bons, ainda que dê prá notar que as vezes não estão bem encaixados no ambiente ou quando vemos uma interação entre humanos e máquinas, sem falar que o design dos robôs são pouco inspirados, não lembrando os antigos design dos filmes de 2007 a 2011, mas nada que atrapalhe a experiência, afinal toda a pirotécnica e sequências de ação são muito boas, com fotografia nítida que você consegue ver tudo que acontece em tela.
De uma forma geral, “Transformers: O Despertar das Feras” é uma aventura honesta, mas claramente mostra uma franquia que perdeu gás, que não rende muita empolgação, ainda que esboce momentos que lembre os tempos mais aquecidos das aventuras anteriores, isto fica muito claro no grandioso terceiro ato, com ação da boa cheia de explosões e tomadas épicas (detalhe na cena do Bumblebee, simplesmente espetacular), mostrando que o longa ainda tem lampejos positivos daquele entretenimento feito para os amantes do desenho dos anos 80 e dos filmes da era Bay. Porém, o fato de fecharem este filme de uma forma positiva mesmo deixando ganchos para uma possível sequência, inclusive abrindo as portas para um crossover com outra franquia famosa da Hasbro, mostra que Hollywood precisa saber a hora de parar, claramente a bilheteria razoável é um alerta que a era “Transformers” chegou ao fim, sendo “O Despertar das Feras” o último suspiro de uma bem sucedida empreitada que deu sinal que chegou no seu ponto final.

Elo Preto
Personagem: Elena Wallace
Atriz: Domnique Fishback
Idade: 32 anos
O destaque da coluna de hoje vai para Dominique Fishback no papel da nerd e inteligente Elena Wallace, uma historiadora em formação que decifra relíquia e acaba descobrindo uma peça mágica que faz parte de uma guerra entre Maximals e Terrorcons, a atriz entrega vitalidade e urgência para uma personagem esperta dividindo os holofotes com o ator Anthony Ramos. A jovem nascida Nova York, está tendo um grande ano sendo indicada ao Emmy de melhor atriz por conta da minissérie “Enxame” da Prime Video, Dominique que teve um grande destaque no filme da Netflix “Power” com Jamie Foxx, também participou do premiado “Judas e o Messias Negro” e do longa “O Ódio Que Você Semeia”, um talento negro em ascensão que merece ficarmos de olho.
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Muito bom, parabéns pelo texto.
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Excelente texto, muito bom, parabéns.
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