“Pantera Negra” – Análise

Um dos blockbusters mais esperados de 2018 se tornou um evento cultural sem precedentes que consolidou Chadwick Boseman como uma mega estrela e trouxe um dos melhores elencos negros da história do cinema juntos numa obra apoteótica e profunda.

Fonte: Marvel Studios

Eu lembro como se fosse hoje, um final de ano como este só que em 2014, Kevin Feige reuniu a imprensa em Los Angeles para anunciar as novidades da sua fase 3 culminando não só no anúncio do personagem sendo introduzido em “Capitão América: Guerra Civil”, mas também do filme do “Pantera Negra” em 2018, colocando altas expectativas num universo adorado nos quadrinhos, mas capaz trazer uma gama rica de cultura afro para o universo da Marvel no cinema.

O que tornou o filme “Pantera Negra” (Black Panther, 2018) um marco no cinema no seu ano de lançamento foram as escolhas felizes feitas pela Marvel. A primeira foi trazer um elenco recheado de estrelas hollywoodianas em sua maioria composta por pessoas pretas liderado pelo talentoso Chadwick Boseman (A Voz Suprema do Blues) no papel de T’Chala, rei de Wakanda e detentor do manto do super-herói que dá nome ao título do filme.

A segunda foi a feliz escolha de Ryan Coogler (Creed – Nascido Para Lutar) para dirigir o longa e a escolha do mesmo para co-escrever junto com Joe Robert Cole (Dias Sem Fim) um roteiro que trouxe não só uma tremenda coesão em termos de equilibrar a grandiosidade de um blockbuster, com uma intimidade de um drama forte, usando como base não só os quadrinhos de Stan Lee, mas a cultura africana em toda sua plenitude e ancestralidade.

Fonte: Marvel Studios

Nos levando a terceira e mais importante, a introdução de universo que abraça a representatividade negra de forma criar um universo que convida o mundo a abraçar a cultura afro de uma forma pouco as vezes vista numa tela de cinema. A trama que conta a história de reinado e um legado, traz T’Chala (Boseman) após o falecimento do pai T’Chaka (John Kani) retornando para Wakanda para assumir o trono e continuar levando seu país a prosperidade.

A narrativa criada com cuidado e feito nos mínimos detalhes para transformar Wakanda num lugar crível com personagens vivos numa região desconhecida no coração do continente africano, foi preciso bastante carta branca por parte de Kevin Feige e acreditar na visão de Coogler de trazer esse universo dos quadrinhos a vida de uma forma não só que ressonasse para o público negro, mas também se tornasse uma trama universal.

Então “Pantera Negra” é não só um filme de ação e de super-herói, mas uma trama política, monárquica e extremamente enraizada na cultura africana, com Ryan Coogler conseguindo fazer um paralelo para aqueles que nasceram com uma visão de um reino livre como Wakanda, daqueles que viveram sobre a influência da cultura ocidental vulneráveis aos preconceitos e racismo.

Fonte: Marvel Studios

É assim que a trama deste longa constrói a ascensão de T’Chala ao poder, sua dificuldade de assumir o trono e manter a paz num país que possui diversas tribos diferentes, além de manter esta terra secreta, longe da visão gananciosa do resto do mundo sem conhecimento da riqueza de uma terra que tem no vibranium, seu maior tesouro. Em paralelo a isto, vemos a construção de um vilão complexo e com boas motivações na pele de Killmonger (Michael B. Jordan), onde Coogler aproveita para fazer suas críticas a colonização dos países de primeiro mundo e ao capitalismo moderno.

Seguindo essa linha percebe-se um filme feito com esmero, milimetricamente bem pensado, com um cuidado não só na história, mas também na parte técnica, com uma trilha sonora com acordes afro e uma pegada moderna que Ludwig Göransson (The Mandalorian) consegue criar e casa com toda a visão contemporânea que Coogler traz, sem perder os traços tribais e ancestrais que um filme africano deve ter.

A ambientação e o design de produção dos cenários concebidos por Hannah Beacher e Jay Hart são riquíssimos e dão autenticidade ao palácio real e as ruas da capital de Wakanda, outro ponto interessante são os figurinos, deslumbrantes, chamativos e desenhados de forma impecável por Ruth E. Carter. A fotografia é outro ponto interessante, destaque para belíssima cena do T’Chala no mundo espiritual, talvez umas sequências mais belas já vistas no Universo Marvel.

Fonte: Marvel Studios

Os efeitos visuais talvez sejam a única ressalva aqui, por mais que eu ame a forma como Wakanda é construída, talvez o ponto mais forte é sentir a capital da região como uma metrópole moderna, nisto os efeitos estão simplesmente impecáveis. Porém os efeitos do Pantera em movimento durante algumas sequências de ação faltam sim polimento e as vezes ficam a desejar, principalmente no terceiro ato, mas nada muito gritante que possa atrapalhar a experiência durante o filme.

Ainda assim, o conjunto é forte e fica melhor quando olhamos o elenco estelar selecionado para o filme, ter Chadwick Boseman como protagonista e Michael B. Jordan como vilão já é um presente e tanto, mas ter atrizes do calibre de Angela Bassett (Invasão a Casa Branca) como a rainha Ramona mãe de T’Chala, a atriz ganhadora do Oscar Lupita Nyong’o (Nós) no papel da agente de Wakanda, Nakia, além de Danai Gurira (The Walking Dead) no papel da guerreira Okoye e Letitia Wright (Os Nove de Mangrove) no papel da jovem Shuri, irmã de T’Chala.

No lado dos atores, temos Daniel Kaluuya (Corra!) no papel de W’Kabi, Forest Whitaker (Uma Invenção de Natal) no papel do sábio Zuri, Winston Duke (Person of Interest) no papel de M’Baku, John Kani (Capitão América: Guerra Civil) no papel do rei T’Chaka, Sterling K. Brown (This Is Us) no papel de N’Jobu, irmão do rei T’Chaka, além dos conhecidos Martin Freeman (O Hobbit – Uma Incrível Jornada) no papel de Everett K. Ross e Andy Serkis (O Senhor dos Anéis) no papel do vilanesco Ulisses Klaue.

Fonte: Marvel Studios

Todos aqui são utilizados da forma mais orgânica possível contribuindo para a trama e tendo um tempo de tela necessário para que todos tenham algum destaque, inclusive as gratas surpresas Letitia Wright e Winston Duke, respectivamente no papel de Shuri e M’Baku, a primeira um poço de inteligência e carisma, o segundo um personagem bem humorado e carismático, são dois talentos revelados pelo filme.

De uma forma geral, “Pantera Negra” possui qualidades que pode ser considerado um pacote completo, trazendo uma imersão grande ao sair da acunha de um simples filme de super-herói e se tornar um fenômeno cultural inspirando adultos e crianças negras ao redor do mundo resultando num entretenimento de massa cabeça que misturas temáticas importantes. É a pura exaltação da cultural afro equilibrando ótimas atuações, direção de primeira e a vontade de marcar uma geração através da representatividade numa trama impactante com alto apelo emocional de negros feita para negros, que se tornou uma obra prima vencedora de três Oscars e faturou gigantes 1,3 bilhão ao redor do mundo, mostrando que é possível entreter e ainda entregar um espetáculo.

“O conjunto da obra e uma produção que respira negritude, Ryan Coogler transforma “Pantera Negra” num filmaço cheio de vida, muito bem atuado e capaz de arrebatar todas as platéias através de uma trama redondinha, muito bem escrita que consegue equilibrar o entretenimento de massa com o melhor do cinema cabeça resultando num dos blockbusters modernos mais aclamados da atualidade.”

– Certificado Excelência Negra

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