“A Escola do Bem e do Mal” – Crítica

Magia e fantasia se unem numa trama inchada e extensa que traz um escopo ambicioso e um elenco coadjuvante recheado de estrelas e o desejo de virar uma franquia de filmes.

Fonte: Netflix

As histórias de fantasia são o gênero mais celebrado da cultura pop depois dos filmes de super-heróis atualmente. Uma onda que começou no início dos anos 2000 com “Harry Potter” e “O Senhor dos Anéis”, se estendendo no final da última década com “Crepúsculo” e “Jogos Vorazes” e suas sequências, escrevendo um novo capítulo para adaptações literárias, que chegou ao seu momento de escassez em 2016, mas agora tenta se reerguer novamente não só no cinema, mas também nos streamings.

Até hoje os estúdios tentam achar o novo “Harry Potter”, o novo “Crepúsculo” através de franquias que podem replicar em popularidade e sequências atraindo milhões de pessoas pelo mundo. E com a Netflix não é diferente, mas agora parece que a locadora vermelha está cada vez mais perto de achar um universo fantástico de filmes para chamar de sua, a aposta da vez é o filme que estreou no dia 19 de outubro, “A Escola do Bem e do Mal” (The School For Good and Evil, 2022), dirigido por Paul Feig (Um Pequeno Favor).

O longa é baseado no livro homônimo de Soman Chainani fazendo parte de uma coleção de seis livros que conta a história de duas amigas, Sophie (Sophia Anne Caruso) e Agatha (Sofia Wylie), que vivem juntas em uma vila numa terra distante e tem sua amizade sendo testada ao serem transportada para uma escola encantada onde heróis e vilões são treinados para proteger o equilíbrio entre o Bem e o Mal.

É claro que a trama tem uma premissa que lembra bastante o seriado “Once Upon A Time”, mas também de imediato percebemos uma vibe que lembra a série de filmes “Harry Potter”, com Sophie e Agatha sendo recrutadas pelos dois lados da escola, com a loirinha sonhadora indo parar do lado dos vilões e a segunda indo parar no lado dos heróis, dando início a toda uma preparação para se tornarem bruxas e princesas.

O mais complicado do roteiro assinado por David Magee (As Aventuras de Pi) e Paul Feig, é condensar 350 páginas num filme de 2 horas e 28 minutos, claramente vemos um esforço da escrita de fazer todo o conceito criado por Soman funcionar e ser introduzida para audiência de uma forma bastante dinâmica que possa capturar sua essência literária e assim também satisfazer os fãs mais exigentes da obra.

Talvez a direção de Paul Feig controle bem a narrativa em muitos aspectos, o primeiro ato, por exemplo, desenvolve bem a relação entre as amigas protagonistas e consegue de forma bem expositiva mostrar como funciona o recrutamento para escola mágica. O problema talvez seja o fato de a trama parecer inchada demais, com conceitos sendo mostrados um atrás do outro fazendo com que o expectador fique perdido com tanta informação.

Fonte: Netflix

Ao criar essa confusão mental, o filme carece de mais respiros, que poucas vezes acontecem, mesmo que a direção de Feig consiga ter seus méritos ao imprimir um ritmo de aventura numa trama que tem uma mitologia bastante rica, ainda parece ser apenas pinceladas em tela, sem ter um desenvolvimento adequado ou aprofundado. É claro que o longa consegue se segurar por conta própria ao trazer um elenco coadjuvante caro e talentoso para servir de suporte as novatas atrizes protagonistas.

Colocar Charlize Theron (Mad Max: A Estrada da Fúria) como a maléfica Lady Lesso, Kerry Washington (Scandal) como a excêntrica professora Dovey, Michelle Yeoh (Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo) como professora Anêmona e Lawrence Fishburne (Black-ish) no papel do diretor da Escola, mostra que o filme tem seu chamariz apoiado atores veteranos renomados de forma realmente começar uma franquia de filmes tão almejada pela Netflix, talvez por isso também que a obra que claramente funcionaria melhor como seriado, tenha sido feito em formato de longa-metragem.

O lado mais positivo de “A Escola do Bem e do Mal” é o fato do longa ser uma aventura que claramente é descompromissada mesmo que as vezes se leve a sério demais, porém ao se apoiar no seu lado mais canastrona quando precisa consegue deixar o clima mais leve e bom de assistir. Em termos de produção, os efeitos visuais são bons, a trilha moderna também, bem como o figurino, no geral nota-se um orçamento pomposo visualmente, o suficiente para ver que a obra foi feita para ser um blockbuster.

Fonte: Netflix

O segundo ato do filme começa a sofrer um pouco com a extensa narrativa, o ritmo antes dinâmico, fica cadenciado, porém até esse ponto o roteiro já conseguiu estabelecer bem a personalidade das duas protagonistas, além dos conceitos de como funciona a escola, em muitos aspectos novamente digo que lembra “Harry Potter” por conta das aulas, treinamentos, interação entre alunos e sem falar na sensação de deslumbramento ao descobrirmos habilidades que as personagens vão adquirindo ao longo da história, bem como as criaturas mágicas que habitam esse universo.

O fato é que falta “A Escola do Bem e do Mal” um pouco de sutileza e expertise ao estabelecer melhor a rivalidade entre Sophie e Agatha, enquanto a atriz Sophia Anne Caruso (Eu Sou O Número 4) parece a vontade no papel nos fazendo embarcar na sua jornada de mudar de lado na escola e se tornar uma princesa mesmo com uma aura bastante vilanesca, vejo que a atriz Sofia Wylie (High School Musical: A Série) demora um pouco para ficar a vontade como Agatha, que tem toda a jornada da heroína moldada no cerne da narrativa, mas que só fica interessante na segunda metade do filme.

O terceiro ato é muito bom em termos de ação e reviravoltas, porém notasse que falta sim o roteiro desenvolver melhor os personagens adolescentes coadjuvantes da narrativa, isso quase acontece com Príncipe Stefan que sai dos moldes do mocinho sem conteúdo, porém acaba sendo deixado de lado sem maiores explicações, sem falar que falta um aprofundamento na trama dos professores, principalmente Lady Lesso vivida por Charlize Theron que tem uma relação com vilão Rafal vivido pelo ator Kit Young (Sombra & Ossos), mas ao focar na amizade das protagonistas o filme perde a oportunidade de também enriquecer ainda mais um universo bastante promissor.

Fonte: Netflix

No geral, “A Escola do Bem e do Mal” é um bom filme, possui sim algumas ressalvas, mas consegue trazer uma fantasia visualmente agradável e com muito potencial para crescer. As boas reviravoltas e os diversos elementos que vão sendo introduzidos, poderiam ter tido um polimento melhor, mas no geral acabam funcionando. O longa tem alguns aspectos irregulares, mas traz bastante diversidade, empoderamento feminino (trama dominada por mulheres fortes) e a quebra dos clichês definidos para mocinhos e vilões. A direção de Paul Feig não é tão inspirada, mas também não compromete, conseguindo estabelecer uma mitologia que só fica mais interessante pela a escolha do elenco e provavelmente irá agradar aqueles que querem entretenimento mais escapista. Com um final descarado para uma sequência, este longa abre as portas para um possível novo universo que promete atrair uma nova legião de fãs.

Elo Preto


Atriz: Kerry Washington
Personagem: Professora Dovey
Idade: 45 anos

O destaque da coluna de hoje é a maravilhosa Kerry Washington, atriz norte americana que está no longa “A Escola do Bem e do Mal” no papel da alienada e boazinha Professora Dovey, papel este que Washington consegue trazer alguma personalidade e carisma, mesmo carecendo de mais desenvolvimento. Esta atriz negra conhecida pelo seu papel de protagonismo na série Scandal, chega aqui para engrossar um elenco de atriz famosas e talentosas num universo que tem tudo para ser um chamariz de algo maior. Washington já fez alguns longas de destaque como o drama “Ray” e o violento “Django Livre”, além do musical “A Festa de Formatura” e este é seu primeiro grande blockbuster. Atriz está filmando no momento o longa “Shadow Force” do diretor Joe Carnahan que ainda tem Omar Sy e Mark Strong no elenco.

Gostou? Veja o trailer e comente logo abaixo se já assistiu ao filme.

Deixe um comentário