Sensível, mais maduro e melhor desenvolvido, esta série brasileira da Amazon Prime chega para sua segunda temporada consolidando Liniker como estrela e entregando uma história de cheia de amor e compaixão.
Spoilers Leves da Temporada

Faz mais de um ano que vimos a primeira temporada de “Manhãs de Setembro” estrear no Amazon Prime e trazer uma história sensível, cuidadosa e bastante efetiva ao colocar uma mulher trans nos centros das atenções numa trama que crescia episódio após episódio com um cuidado técnico impecável se tornando um dos produtos nacionais mais interessantes de 2021 e deixando aquele gostinho que a trama ainda tinha muito a render.
Não foi à toa que a série foi renovada em pouco tempo e gerou uma expectativa como a história de Cassandra (Liniker), Gersinho (Gustavo Coelho) e Leide (Karine Teles) iria se desenrolar depois que o trio partiu para uma viagem para Curitiba para que o pequeno fizesse uma prova de matemática e assim ter um futuro. Ou seja, o gancho deixado no final da temporada passada trabalhava com possibilidades.
Quando a série retornou no dia 23 de setembro (fazendo jus ao seu título), seguimos a narrativa de onde paramos, com Cassandra, Gersinho e Leide na estrada, agora voltando de Curitiba após a competição de matemática. O trio se vê em apuros quando o carro quebra no meio da estranha perto de um local conhecido onde a protagonista precisa encarar o passado que deixado para trás.

No episódio “Ah, vida em família…que preguiça” (2×01) somos apresentados ao pai de Cassandra, Lourenço (Seu Jorge), bem como sua madrasta Ruth (Samantha Schmütz), que vivem numa cidade pacata do interior onde as lembranças são dolorosas e que antes faziam parte do passado para aspirante a cantora, mas que agora voltam a assombra-la ao ter que encarar uma figura paterna que nunca a aceitou e uma cidade que não a tratava como pessoa.
A série criada por Josefina Trotta (3%), mantém tudo aquilo que deu certo na temporada anterior, agora explorando outras vertentes de Cassandra como personagem, sua relação com conturbada com pai, o eterno fantasma do abandono da mãe (Elisa Lucinda), mas isso sem esquecer de continuar evoluindo sua relação com filho e os perrengues que a personagem passa na grande São Paulo.
A verdade é que “Manhãs de Setembro” é um seriado bem gostoso de assistir e que neste novo ano ganha mais seis episódios para aprofundar mais da vida dessa moça trans que busca o sucesso e a consolidação de uma vida que estava sendo moldada positivamente quando a mesma estava finalmente com seu apartamento em vão, mas o seriado trabalha com mudanças e com o cotidiano, pois ao flertar com o real em contraponto com a ficção, a série captura bem como é difícil a luta diária numa cidade grande.

Partindo deste ponto a narrativa se mostra numa linha crescente, os episódios “A baguncinha tradicional brasileira” (2×02) e “E hoje é dia de show” (2×03) conseguem estabelecer bons plots em movimento com personagens fáceis de se apegar. Aqui inclusive temos o namorado de Cassandra, Ivaldo (Thomas Aquino) passando por uma mudança drástica na sua vida pessoal com a separação e o fato da filha ter se revelado gay para mãe, abrindo assim a oportunidade de finalmente abraçar seu amor pela cantora.
A série continua tratando temas relevantes de forma natural e criando vínculo do público com expectador em uma história regada por uma ótima trilha sonora e com Liniker soltando a voz em reinterpretações de grandes sucessos da música brasileira principalmente aquelas ligadas a Vanusa. Os conflitos ajudam a potencializar a história e as relações começam a tomar rumos diferentes do inesperado, principalmente quando Cassandra trilha uma maré não muito boa e Leide começa a ver a sorte bater na sua porta.
E entre as duas Gersinho é aquele laço que une as duas pontas, mas é quando está com Cassandra que o roteiro consegue tirar momentos interessante do personagem. Ainda acho o ator Gustavo Coelho um pouco travado em alguns momentos que exigem emoção, porém a presença de atrizes veteranas como Karine Teles (ótima) ajudam o jovem a se desenvolver melhor como fica claro no episódio “De pé ou morta, de joelhos jamais” (2×04).
A verdade é que a direção de “Manhãs de Setembro” consegue dar um ar urbano e bem cuidado para série, que continua com uma fotografia linda tanto externa quanto internas (principalmente nas cenas do bar Metarmorphosis), tomadas elegantes, câmeras estática e mais próxima dos personagens, extraindo momentos tocantes ou pitorescos desses personagens que tem tanto a oferecer.
O seriado conta com retorno do elenco da primeira, com o casal Décio (Paulo Miklos) e Aristides (Gero Camilo) participando mais da narrativa à medida que também passam a compartilhar mais cenas com Leide e Gersinho. Personagens como Roberta (Clodd Dias) e Pedrita (Linn da Quebrada) retornam como alicerce e reforçam o lugar de pertencimento de Cassandra. A pequena Isabela Ordoñez retorna mais carismática mesmo que tenha um papel reduzido neste segundo ano.
A temporada ainda conta com boas participações especiais de cantores conhecidos que vão fazer o público abrir um sorriso no rosto. Os dois últimos episódios “Canta, Canta…” (2×05) e o final de temporada “A Vida Não Pode Ser Só Isso” (2×06) afunila os arcos desenvolvidos e começa dar um desfecho para tramas estabelecidas dando a sensação de fim definitivo ao conseguir finalmente evoluir a relação entre Cassandra e Gersinho.

É importante notar a sensibilidade de “Manhãs de Setembro” em trabalhar seu drama de uma forma refinada e usar a música mais uma vez para trazer emoções exalantes numa narrativa que não para de surpreender mesmo que a história tenha um pouco de previsibilidade. É bonito ver uma trama com uma protagonista trans e negra ser tratada de uma forma tão orgânica, honesta e arrebatadora.
De uma forma geral, o seriado fecha seu segundo ano consolidando-se no formato e conseguindo entregar uma história ainda mais envolvente que traz novos desafios para Cassandra e mostra não só a origem de todos seus conflitos ao explorar sua relação com pai e o desejo da personagem de encontrar a mãe que a abandonou. A personagem ainda que passe por alguns perrengues diários, finalmente percebe que o filho faz parte do seu caminho para felicidade num dos momentos mais emblemáticos da série.
É assim que “Manhãs de Setembro” te chama para abraçar este universo tão real apoiado por um texto poético, sensível e cuidadoso. O último episódio é um dos mais lindos da série e possui outro número musical emocionante de Liniker, na verdade essa temporada esta cheio deles, difícil escolher qual é o mais inesquecível. Mais uma vez é bacana ver uma história tão diversa, sendo produto nacional de qualidade e que trata a comunidade LGBTQI+ de uma forma tão humana e linda, uma série que traz pertencimento num mundo que ainda precisa aprender a respeitar as diferenças, algo que esta obra faz bem e ainda dá boas lições de aceitação, amor e ternura. Com um gancho surpreendente, espero que o seriado seja renovado e que possamos continuar acompanhando a vida de Cassandra e sua jornada rumo ao estrelato.
Gostou? Veja o trailer da segunda temporada abaixo ou comente nos comentários sobre que achou da temporada.


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