“Anos Incríveis (2021)” – 1° Temporada – Crítica

Inicialmente com cara de remake, esta nova obra é um spin off cheio de vida que traz o cotidiano de uma família negra nos EUA dos anos 70 trabalhando temas raciais e sociais numa trama cheia de vida e laços de ternura.

Fonte: ABC Studios

Séries familiares não são novidades no mundo do entretenimento, existe diversas que se tornaram fenômeno de audiência e duraram por várias temporadas. O seriado “Anos Incríveis” de 1988 é um exemplo deste tipo de série de sucesso, tendo uma trama simples contando a história do jovem Kevin Arnold (Fred Savage) e sua família, durante seis temporadas a obra que se passava nos anos 60 e 70 abordou diversas temáticas da época, além das experiências de vida do próprio protagonista e seus parentes, tudo isso de uma forma humana e singela que conquistou famílias por gerações se tornando uma das melhores obras feitas para TV.

Quando se trata de famílias negras, estas séries também são frequentes, tendo seu auge nos anos 90 com vários sitcons de sucesso. Dito isso estou aqui para falar do seriado norte americano do canal ABC (Disney) e agora disponível no Disney Plus, “Anos Incríveis” (The Wonder Years, 2021), sim este remake da série dos anos 80 citada anteriormente vem de uma forma repaginada dessa vez focado na vida de uma família negra se passando no final dos anos 60, assim como a série original, porém tocando em questões raciais e sociais tudo pelo ponto de vista do pequeno Dean Williams (Elisha Williams) que vive com sua família no pacato subúrbio de Montgomery no Alabama.

A série criada por Saladin K. Patterson (Psych) e produzida por Fred Savage protagonista da obra original que inclusive dirigiu alguns episódios desta nova versão, traz uma trama bastante gostosa de assistir. Ao se ambientar entre os anos 60 e 70, podemos perceber um contexto social importante, porém o ponto mais forte da narrativa é saber dosar drama e comédia na medida certa entregando um produto bem acabado que tem uma crescente bastante significativa durante seus 22 episódios que compõe a primeira temporada.

Fonte: ABC Studios

E esta obra vai além, não só tenta capturar a magia da série original, como também insere um contexto mais extrovertido e inteligente que as vezes lembra muto outro seriado fenômeno, “Todo Mundo Odeia o Chris”. Quando assistimos ao piloto (1×01), conseguimos ver um tom que mistura bom humor, temática social forte e personagens carismáticos liderado pelo jovem Elisha Williams em um universo riquíssimo em cultura negra norte americana.

Ao trazer um pano racial e social para história, “Anos Incríveis” ganha em camadas e o fato de a história ser narrada por uma versão adulta de Dean, voz do ator Don Cheadle (Vingadores Ultimato), deixa tudo mais interessante mostrando que o roteiro sabe exatamente onde ir e o público que quer atingir. Desta a forma a série começa sua jornada apresentando vários momentos e dinâmicas entre o protagonista intercalando seus momentos na escola interagindo com amigos, sendo os principais, Brad (Julian Lerner) e Cory (Amari O’Neil), além de seu amor de infância Keisa (Milan).

A série começa a ficar mais dinâmica assim que os episódios vão avançando e à medida que vamos conhecendo mais personagens, mas o alicerce familiar que é base da série vai ficando cada vez melhor com os pais de Dean, Lillian (Saycon Sengbloh) e Bill (Dulé Hill) sempre trazendo boas lições e ensinamentos para seu filho caçula. O garoto ainda conta com a irmã mais velha Kim (Laura Kariuki) e seu irmão mais velho Bruce (Spence Moore II) para ajudarem no seu amadurecimento, este último inclusive está fora lutando na guerra do Vietnã.

Fonte: ABC Studios

O mais emblemático na série, é que ela não só aborda temáticas sérias como racismo e feminismo, isso está implícito no contexto, mas sempre trabalhado no momento certo. O cuidado de Saladin em fazer uma história pelo ponto de vista de uma criança consegue criar vários arcos que ajudam a moldar Dean como pessoa, episódios como “The Workplace” (1×04), “The Lock In” (1×05) e “Independence Day” (1×07) são ótimos para mostrar que a série sabe abordar temas mais leves como amor na juventude e relacionamento entre pais e filhos, assim como assuntos mais sérios como guerra e assédio no trabalho, tudo isso de uma forma que surpreenda quem assiste.

O melhor da trama também é o fato de não se apoiar muito na série original, apesar do formato ser semelhante, os assuntos abordados tomam um contexto diferente quando você tem uma família negra no centro da narrativa. Os episódios são bem dirigidos e o ritmo deixa tudo muito fácil de acompanhar fazendo os vinte minutos de projeção passarem voando. Em termos técnicos a de se elogiar a fotografia, bem como a trilha sonora e a ótima ambientação da narrativa que consegue realmente nos transportar para os EUA dos anos 60.

Ao investir em personagens, “Anos Incríveis” nos ganha por usar a inocência, timidez e personalidade do protagonista para nos emocionar, conseguindo assim que embarquemos na jornada de Dean rumo ao seu crescimento. A série consegue manter o ritmo e a qualidade durante a maior parte do tempo e o humor sempre está a espreita salpicado por um texto que quer ser lembrado por oferecer algo mais, como podemos ver nos episódios “Home For Christmas” (1×09), “Country Dean” (1×14) e “Jobs and Hangouts” (1×17).

Fonte: ABC Studios

Quando a série abraça as questões raciais, sobe de patamar para entregar excelência e boas lições para seu público, em “Black Teacher” (1×15) temos talvez o melhor episódio da temporada, onde a temática da inclusão e preconceito são tratados de uma forma bastante franca e honesta. A série ainda entrega outros ótimos episódios como “Bill’s New Gig” (1×20), “Where No Dean Has Been Before” (1×21) e “The Valetine’s Day Dance” (1×13).

O mais legal aqui é que “Anos Incríveis” abandona a alcunha de remake e se firma como spin off fazendo ponte com a série original trazendo uma surpresa no especial episódio “Love & War” (1×19), onde a narrativa entra em sua reta final e começa a traçar seu próprio caminho sem se apegar ao sucesso da sua versão anterior. O que nos leva a outro ponto, o seriado possui um elenco que vale cada segundo do tempo investido.

Se Elisha Williams é um poço de carisma e talento no papel do estabanado Dean, os atores Dulé Hill (Black Monday) e a belíssima Saycon Segbloh (Respect – A História de Aretha Franklin) nos papéis dos pais do garoto, garante um reforço muito bem vindo no papel de coadjuvantes. A atriz Laura Kariuki (Black Lighting) no papel de Kim, o ator Julian Lerner no papel de Brad, além de Milan no papel da pequena Keisa, são outros bons destaques que ajudam a reforçar o elenco mirim acabam por tomar boa parte das tramas na temporada.

Fonte: ABC Studios

No geral, “Anos Incríveis” é um seriado maravilhoso com boas histórias e confusões em profusão, mas tudo de maneira leve servindo de entretenimento para toda a família. Sem o peso de parecer um remake desnecessário, a série traça seu próprio caminho que fica cada vez mais claro a medida que vamos terminando a temporada. A primeira parte é boa, mas a segunda metade do primeiro é simplesmente ótima, conseguindo trazer interações do protagonista com vários membros da família como parte do seu crescimento como um jovem negro em pleno período da luta pelos direitos civis.

Ao chegarmos no final da temporada com episódio “Love, Dean” (1×22), a certeza que temos é que estamos diante de um produto televisivo diferenciado e especial. Com toques de comédia, diálogos sagazes e bem inseridos, além de um elenco bastante talentoso, “Anos Incríveis” nova versão veio para mostrar que é possível fazer boas histórias e bons remakes, só é preciso trazer alma e coração para uma história bonita de assistir e fácil de se apaixonar, ao vermos a vida e as escolhas de Dean durante a narrativa, podemos perceber o quanto a juventude de uma criança pode ser complexa, divertida e inocente, fazendo parte do nosso crescimento como seres humanos, onde a infância é só primeiro passo, e talvez o divisor de água rumo ao desconhecido e desafiador mundo adulto.

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