“Beauty (2022)” – Crítica

Um longa sobre os perigos e receios da fama mostra a trajetória de uma cantora negra preste a assinar um contrato para virar uma estrela acaba perdendo gás e soando incompleto ao não ousar em sua narrativa.

Fonte: Netflix

Qual é o preço da fama? Biografias de grandes cantores normalmente seguem uma fórmula básica, mostra de onde a estrela surgiu, mostra sua ascensão intercalado com problemas que acompanham a sua chegada a fama e depois sua queda normalmente atrelada há vícios químicos como drogas ou com bebidas.

Porém antes de chegar neste período, existe sempre aquele momento pouco antes da fama onde o artista precisa lidar com o assédio das grandes gravadoras e empresários que querem assinar contratos milionários que podem mudar suas vidas de um dia para noite, o que também pode se transformar em uma prisão. Estou citando tudo isto para falar do longa de drama da Netflix, chamado “Beauty” (2022), filme dirigido por Andrew Dosunmu (Mother of George) que chega tratando exatamente deste momento chave para vida de uma futura estrela da música.

A trama em questão conta a história de uma talentosa jovem artista negra de nome Beauty (Gracie Marie Bradley), que precisa lidar com diversos dilemas pessoais incluindo a pressão familiar acentuada pelo pai (Giancarlo Esposito) e a pressão de uma grande empresária (Sharon Stone) de uma famosa gravadora para assinar um contrato milionário que pode mudar sua vida para sempre.

Fonte: Netflix

A narrativa é inicialmente bastante interessante, com um primeiro ato que se preocupa em estabelecer a vida da jovem cantora e sua dinâmica com família religiosa, a relação de ciúme e amor com a mãe (Niecy Nash), a convivência com os irmãos Abel (Kyle Bary) e Cain (Micheal Ward), sem falar na sua namorada Jasmine (Aleyse Shannon) com quem compartilha todos seus sonhos e inseguranças.

Talvez a maior questão de “Beauty”, seja no fato do diretor Dosunmu tomar certas decisões que acabam por deixar o expectador distante da história. Ao mostrar um lado externo e mais intimo da personagem título, o diretor ganha no aspecto dramático, inclusive mostrando o quão tóxico é a família da jovem cantora pode ser, mas por outro lado o longa perde bastante ao não abraçar seu lado musical.

À medida que vamos progredindo na trama, percebemos que a história começa a oscilar muito sem desenvolver de uma forma mais eficiente todos os conflitos que cria, ao invés de ser mais incisivo, a direção prefere viver de intenções, inclusive no que diz respeito ao romance entre Beauty e Jasmine que nunca realmente se mostra satisfatório na tela. O segundo ato infelizmente acentua os problemas e começa a mostrar que o filme vai perdendo gás mostrando que a curiosidade em descobrirmos os verdadeiros talentos musicais da protagonista, vão sendo resguardados de tal forma que acabamos não se importando tanto com o desfecho da sua jornada rumo ao estrelato.

Fonte: Netflix

O filme ainda que tenha problemas, mostra ter personalidade própria em diversos momentos, o roteiro escrito pela talentosa Lena Waithe (Queen & Slim) cresce com com diálogos bem escritos e quando traz algumas questões interessantes que moldam Beauty como cantora, como a influência da mãe também cantora, além das ótimas inserções da direção em sempre enfatizar a fonte de inspiração para seu estilo musical com várias sequências com cantoras negras da época soltando a voz em gravações antigas.

O bacana é entender que “Beauty” é um filme sobre os perigos da fama, ainda que falte um aprofundamento mais eficiente do tema, a decisão de focar na relação conturbada que a protagonista tem com pais gera bons momentos dramático que ajudam a segurar trama. Talvez a grande sacada aqui tenha sido a escolha do elenco coadjuvante como Giancarlo Esposito (Breaking Bad e Better Call Saul), Niecy Nash (Reno 911!) e Sharon Stone (Instinto Selvagem), os dois primeiros como pais de Beauty e a terceira como a voraz empresária atrás de um novo talento.

Desta forma a novata atriz Gracie Marie Bradley (Grown-ish) consegue sobressair um pouco mais num papel que não exige muito dramaticamente, mas ainda assim é preciso bastante expressividade em determinadas cenas com poucos diálogos. Ainda que Gracie seja belíssima, fica devendo um pouco no quesito atuação, mas isso também é algo problemático do roteiro e da direção, que privam a personagem título de mostrar realmente sua personalidade como cantora, usando a edição para deixar a atriz praticamente muda nas performances musicais, deixando a curiosidade para imaginação do público.

Fonte: Netflix

E isso resume basicamente porque esta obra não decola como filme, ao trazer um lado mais visualmente artístico, o diretor Dosunmu peca por ser contemplativo demais ainda que mande bem na parte dos conflitos familiares, mas essas ideias se perdem quando não se tem uma constância da história, e quando isso esta preste acontecer, o terceiro ato acaba sendo curto demais dando a sensação de estar incompleto e que poderia render muito mais.

No geral é complicado falar de “Beauty” de uma forma positiva, a premissa tinha muito potencial, mas ao tentar algo diferente do que gênero propõe, o diretor se perde em suas próprias divagações e acaba por frustrar quem assiste. Percebe-se aqui uma oportunidade perdida de mostrar como a fama para atrizes negras (qualquer inspiração na vida de Whitney Houston não é mera coincidência) é mais difícil principalmente numa indústria que impõe padrões de beleza, postura e mudança de personalidade para se encaixarem numa sociedade se baseia no padrão branco de vida, algo que a narrativa tenta mostrar em um determinado momento, mas acaba se perdendo junto com outras boas ideias que se esvaem como vento, mostrando que o filme desaba dentro de sua própria construção entregando um resultado não menos que frustrante.

Gostou? Assista ao trailer abaixo e se já viu ao filme, comente e diga o que achou.

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