“Batman (2022)” – Crítica

Conseguindo trazer o melhor Batman adaptado em live-action até então, o drama criminal de Matt Reeves alcança notas altas e entrega um filme consistente, mas que peca pelo fraco terceiro ato e por se segurar demais em meio a tantas boas ideias.

Fonte: Warner Bros Pictures

A construção de um universo é sempre trabalhosa quando se trata de uma mitologia rica ou de uma ideia pré estabelecida que precisa transitar, por exemplo, de uma HQ para uma versão em carne em osso em forma de série, ou até mesmo de um filme. O personagem Batman é um dos super-heróis mais populares do mundo igualando até mesmo ao Homem Aranha em termos de história, personagens e uma galeria vasta de vilões, desta forma adaptá-lo de forma fiel, exige-se um conhecimento profundo de sua mitologia para fazer jus ao complexo universo onde o herói é estabelecido na sombria fictícia cidade de Gotham.

Após a trilogia de Christopher Nolan, estava com a ideia fixa de que estávamos diante da versão definitiva do Batman da DC, até porque “Batman – O Cavaleiro das Trevas” (2008) elevou o nível dos filmes de super-herói a um patamar simplesmente inalcançável. Ainda assim, a sensação de que ainda faltava algo no Batman vivido por Christian Bale, algo que o Batman de Ben Affleck trouxe em “Batman vs Superman: A Origem da Justiça” (2016) do Zack Snyder, a veia de detetive do herói, mas infelizmente o filme é tão inchado e esquecível, que fica difícil você lembrar que Affleck era um morcego no mínimo decente, como enxergamos na versão estendida do Snyder de “A Liga da Justiça”.

A verdade é que faltava um Batman definitivo que pegasse todas essas qualidades e concentrasse num filme só, que capturasse não só a essência do cavaleiro das trevas como a figura das sombras e justiça de Gotham, mas que não ficasse apagado toda vez que um vilão como Coringa aparecesse para roubar a cena e os holofotes. Eis que chegamos em 2022, o diretor Matt Reeves (Planeta dos Macacos: A Guerra) estreou no último dia 3 de março (dia 4 para você que mora nos EUA) prometendo um filme mais fiel, ambicioso e épico com seu novo “Batman” (The Batman, 2022), desta vez protagonizado por ninguém mais e ninguém menos do que Robert Pattinson (Tenet).

Fonte: Warner Bros Pictures

Essencialmente e indo direto ao assunto, o que você precisa saber sobre esse filme será dito nos próximos parágrafos, tentarei ser breve e darei minha avaliação sem spoilers, então pode ficar tranquilo, não estragarei as surpresas do filme. Esta versão do Cavaleiro das Trevas foca em uma versão jovem do Batman, com Bruce Wayne no seu segundo ano como morcego de Gotham, surgindo como uma figura que tenta trazer justiça e segurança para uma cidade afogada em corrupção e violência.

A narrativa é basicamente uma história de detetive que traz um clima noir para sua atmosfera evidenciando uma aura que lembra muito os filmes de David Fincher, como “Se7en” e “Zodíaco”. Com quase 2 horas e 55 minutos de duração contando os créditos, temos aqui uma narrativa densa, sóbria e que traz um certo “realismo”, além de uma construção de universo e o estabelecimento da figura do morcego como um símbolo de esperança que coloca medo nos bandidos que assolam a metrópole de Gotham.

O longa “The Batman” é um filme sensorial, que mexe com os sentidos, então desta forma não existe uma forma de assistir esta obra que não seja na maior tela possível e com o melhor som possível. Isso fica muito claro na forma como Matt Reeves constrói a figura do Batman no submundo de Gotham, como uma figura advinda da sombra, ser quase que mitológico, que ninguém sabe se é real ou não, até que apareça em algum momento.

Fonte: Warner Bros Pictures

Este tipo de sensação é sentida durante todo o filme, aqui fica claro que Reeves quer dar o holofote merecido ao Cavaleiro das Trevas (Bruce Wayne inclusive aparece pouco em público), mesmo que figuras como Mulher Gato (Zoe Kravitz), Pinguim (Colin Farrell) e Charada (Paul Dano) estejam muito bem inseridos e ameaçam tomar o show para si num “batverso” que esta em plena expansão e que traz não só uma veia investigativa que prende atenção do expectador, mas também explora a política corrupta e deturpada de uma cidade cheia de podres que vai sendo dissecada aos poucos a medida que a narrativa avança.

Então por que “The Batman” ainda não pode ser considerado uma obra espetacular? Foi esta pergunta que me fiz assim que os créditos começaram a subir. Um longa que tem uma construção magnifica nos dois primeiros atos trazendo a figura do Charada como vilão principal psicopata que faz o Batman usar sua inteligência e suas habilidades investigativas para desvendar uma teia de mistérios e mortes conseguindo criar um jogo de gato de rato que lembra até mesmo o filme “Jogos Mortais”.                

Porém, falta ao roteiro escrito pelo próprio Matt Reeves e co-escrito por Peter Craig (Atração Perigosa), criar momentos que consigam realmente ter euforia e tensão, apesar da estética contribuir para construir algumas sequências memoráveis (a cena de perseguição de carro com batmóvel é muito boa), muitas delas ficam no meio do caminho entre o êxtase e a satisfação, criando a sensação de que vão entregar algo ainda maior e melhor na cena seguinte, mas que infelizmente não vem.

Fonte: Warner Bros Pictures

A narrativa cresce de forma linear, a cada nova peça desvendada do quebra cabeça, o longa vai ficando mais sombrio, mas a sensação de que falta algo para deixar o filme menos truncado e mais fluído em termos de ação continua ali essencialmente pedindo para acontecer, mas é segurada pela mão de Reeves, que ao se preocupar em construir um universo coeso para possíveis sequências, esquece de entregar algo grandioso e chocante na reta final, algo que o filme passa duas horas e meia desenvolvendo, mas que no final das contas o impacto acaba sendo mínimo.

E isso faz de “Batman” um filme ruim? Jamais, o longa ainda é um deleite para os fãs de super-heróis e para os fãs do morcego. Robert Pattinson no papel do Cavaleiro das Trevas entrega uma atuação memorável, furiosa, inteligente e que realmente funciona dentro desse microverso criado por Matt Reeves, o ator cada vez mais maduro, consegue trazer complexidades para o personagem apenas com olhares e expressões, sem falar que nas cenas físicas ele entrega muito como Batman, além de equilibrar com uma personalidade mais inteligente e pensante que ainda faltava nas versões anteriores do morcego.

O resto do elenco é muito bom, Zoe Kravitz (Animais Fantásticos e os Crimes de Grindelwald) no papel de Selina Kyle, traz uma faceta diferente que equilibra poder, inteligência e sensualidade, numa química elétrica com Pattinson fazendo Batman e a Mulher Gato uma dupla interessante de se acompanhar em cena. Jeffrey Wright (007 Sem Tempo Para Morrer) no papel de Jim Gordon é outra grata surpresa, sua interação com Batman tentando solucionar os mistérios das mortes em Gotham, traz a essência das melhores duplas de histórias de detetive. Andy Serkis como Alfred, esta apenas ok, acredito que a relação dele com Bruce deve ser aprofundada, mas neste filme ela funciona bem.

Fonte: Warner Bros Pictures

Os vilões também tem aqui sua participação marcante, Colin Farrell (Animais Fantásticos e o Onde Habitam) no papel de Pinguim mostra o potencial de um vilão que só tende a crer em futuras continuações. Jon Turturro (Transformers) na pele de Carmine Falcone apresenta uma boa atuação. Porém nenhum deles chega aos pés de Paul Dano (Sangue Negro) no papel do psicopata Charada, o ator está simplesmente incrível, assustador e intimidador, conseguindo criar um antagonismo bastante curioso com Batman.

Em termos técnicos, “Batman” é impecável, a trilha sonora de Michael Giacchino (Homem Aranha Sem Volta Prá Casa) eleva o longa a outro patamar e cria uma atmosfera sufocante, com acordes que devem permanecer no imaginário de muita gente, intercalando um tom sombrio, charmoso e visceral. A cinematografia é um deleite, talvez uma das melhores de Greig Fraser (Duna) até o momento, conseguindo capturar uma Gotham desolada, que ainda possui cores de uma grande metrópole, mas também a crueza e o lado sujo também.

O design de produção e os figurinos são bem feitos, além da parte de maquiagem com destaque a do Pinguim, que simplesmente faz Colin Farrell desaparecer no personagem, sem falar que o som do filme é bastante imersivo gerando boas surpresas em momentos de pura reviravolta. Tudo isso ganha equilíbrio e maestria na direção de Matt Reeves, que consegue fazer com que todos esses aspectos funcionem em prol deixar o filme mais pulsante e extremamente controlado, com cenas de ação e suspense bem pontuadas, conseguindo assim dar um ritmo bom para história mesmo que ainda tenhamos a sensação de estar sendo desnecessariamente longo.

Fonte: Warner Bros Pictures

De uma forma geral, “Batman” é um bom filme, não é excelente, não é espetacular, mas é muito bom. Matt Reeves prometeu um filme de super-herói mais fiel e é exatamente isso que ele entrega, você sente isso assistindo a este drama criminal, mesmo que ainda falte algo no roteiro que deixe a história menos previsível, principalmente no frustrante terceiro ato, onde o filme prefere abdicar de um desfecho mais redondo, em prol deixar um gancho para uma possível sequência, porém a construção bem feita deste universo compensa um pouco essas falhas narrativas. Tendo Robert Pattinson apresentando um de seus melhores trabalhos até então, o longa mostra que está preparando algo muito promissor para o morcego no futuro, e no final das contas, é isso que importa, afinal o entretenimento estará garantido.  

Elo Preto

Atriz: Zoe Kravitz
Personagem: Selina Kyle
Idade: 33 anos

O destaque da coluna de hoje vai para atriz negra Zöe Kravitz no papel de Selina Kyle, também conhecida como alter ego Mulher Gato, uma personagem bissexual, inteligente, linda e que exala uma sensualidade sem exageros, sem falar que possui um arco próprio dentro do filme que deixa a personagem ainda mais complexa e interessante. Kravitz atua muito bem aqui emprestando sua beleza hipnótica e mostrando um talento que só cresce a cada papel de destaque que tem. A atriz norte americana filha do cantor Lenny Kravitz fez filmes como: “X-Men Primeira Classe”, “Mad Max: Estrada da Fúria”, “Homem-Aranha no Aranhaverso” e no recente “Kimi: Alguém Está Escutando” onde ela protagoniza.	

Observação: O filme não tem cena pós crédito.

Gostou? Assista ao trailer. Se já assistiu ao filme, eu adoraria saber sua opinião sobre ele, comente logo abaixo.

Deixe um comentário