“7 Prisioneiros” – Crítica

Utilizando de uma temática pesada e atual, este robusto longa nacional cria um drama envolvente, complexo e uma tensão constante que infelizmente vai se perdendo até seu frustrante final.

Fonte: O2 Filmes e Netflix

A temática sofre tráfico de pessoas e situações análogas a escravidão não é uma novidade no cinema, ela é sempre mostrada de forma realista para evidenciar uma realidade que infelizmente existe e ainda continua sendo um problema para sociedades modernas mesmo com diversas ações de vigilâncias, policiais e instituições governamentais que tentam combater estas práticas ilegais, para não dizer desumanas e cruéis.

O longa “7 Prisioneiros”, filme nacional produzido pela O2 Filmes e adquirido pela Netflix, tendo grandes nomes como Fernando Meirelles (Cidade de Deus) e Ramin Bahrani (O Tigre Branco) financiando a obra dando ainda mais peso para esta narrativa que conta a história de Matheus (Christian Malheiros), um jovem de 18 anos que vive no interior e recebe uma oportunidade de trabalho em São Paulo num ferro velho junto com um grupo de amigos que tentam melhorar de vida, porém acabam se tornando vítimas de um trabalho análogo à escravidão moderna comandada por Luca (Rodrigo Santoro), cabe então a Matheus tomar uma decisão difícil entre trabalhar para o homem o escravizou, ou arriscar qualquer chance de fugir deste cativeiro.

O filme dirigido por Alexandre Moratto (Sócrates) é cheio de boas intenções e consegue se desenvolver muito bem na maior parte do tempo onde o diretor consegue criar uma atmosfera otimista no seu primeiro ato antes de ir mergulhando aos poucos na dura realidade que se revela aos quatro amigos Matheus, Ezequiel (Vitor Julian), Isaque (Lucas Oranmian) e Samuel (Bruno Rocha), que vão sendo explorados trabalhando dia e noite, com pouca alimentação, além de dormir em um quarto pequeno com condições precárias.

Fonte: O2 Filmes e Netflix

Infelizmente este tipo de história poderia facilmente ser baseada em fatos, muitos casos deste tipo já foram mostrados em telejornais de norte a sul causando indignação por todo país e infelizmente isso atinge a maioria da população negra e pobre. O roteiro escrito por Thayná Mantesso (Sintonia) e pelo próprio Alexandre Moratto é denso, cheio de diálogos intensos que ajudam a criar uma atmosfera claustrofóbica ampliado por uma fotografia crua que tenta intercalar a sensação de prisão do ferro velho, com tomadas externas de uma São Paulo extensa, urbana e inóspita.

A verdade é que a medida que vamos entendo a situação dos prisioneiros e como funciona o esquema no ferro velho, mais sombrio a narrativa vai ficando e mais rapidamente as coisas vão acontecendo. Acredito que Moratto consegue estabelecer rápido os riscos e as consequências para os personagens e o que está em jogo ali criando uma trama de sobrevivência que vai ganhando mais camadas à medida que vamos aprofundando principalmente na história de Luca.

Na minha visão o filme consegue prender a atenção bem explorando essas vertentes, porém ao criar expectativas muito altas e uma intensa sensação de algo drástico e impactante irá acontecer, o roteiro arma toda uma linha que vai levar a um certo desfecho para Matheus e seus amigos, porém quando chegamos na metade, há uma quebra neste ritmo, onde Moratto tenta criar uma complexidade a medida que vai mostrando para seu protagonistas que as coisas não são apenas preto no branco.

Fonte: O2 Filmes e Netflix

Eu gosto quando um longa me desafia a querer um final e acaba entregando algo surpreende em contrapartida, é isso que você acaba criando na mente quando assiste “7 Prisioneiros”, talvez por isso que a segunda parte da trama acaba perdendo um pouco de força ao trabalhar a dinâmica entre Matheus e Luca, porém esquecendo de dar uma resolução para os outros prisioneiros que acabam somando sete até a metade da narrativa.

É fato que o filme é bem dirigido, muito bem cuidado e relevante por trazer de forma tão realista uma temática tão surpreendente e importante, para não dizer triste, porém isso não seria nada se o elenco não fosse bom. O destaque aqui fica por conta de Christian Malheiros (Sintonia) no papel de Matheus, de longe o melhor personagem e com a construção mais complexa, vivendo um dilema que Malheiros consegue transmitir muito bem nas expressões e também nos diálogos mostra que mais uma vez o ator se revela uma das vozes negras mais talentosas que temos no momento deixando sua marca nesta nova safra do cinema nacional, sua atuação aqui é bem consistente e marcante.

Outro que merece menção é Rodrigo Santoro (Westworld), o astro conhecido internacionalmente entrega uma atuação grotesca, suja e repulsiva de um vilão cruel que se alimenta de sistema lucrativo que é mais complexo e corrupto do que se pode imaginar, inclusive com ambições internacionais. Outros destaques aqui vão para Bruno Rocha como Samuel e Lucas Oranmian como Isaque, dois atores promissores que mereciam um desenvolvimento melhor, mas ainda assim deixam uma boa impressão.

No geral “7 Prisioneiros” tem mais pontos positivos do que negativos, porém frustra por entregar um final que poderia ser mais ousado ou que desse uma sensação melhor de resolução. Ao invés disso o filme de Alexandre Moratto prefere uma resolução que soa dura, mas que no final das contas é incompleta, mas não menos impactante, porque no geral o filme é uma retratação bastante pesada de situações que acabam por ser a pura evidência e retrato da escravidão moderna, onde o poder público falha em dar assistência e onde um sistema corrupto e implacável acaba prosperando roubando vidas e fazendo não só as vítimas prisioneiras, mas seus familiares também. Com uma forte atuação de Christian Malheiros, esta obra merece ser assistida não apenas como um forte drama, mas como um sinal de alerta também.

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