“O Esquadrão Suicida” – Crítica

Insano, depravado e ácido, este longa dirigido por James Gunn ainda insiste numa propaganda bélica americanizada e ultrapassada, porém encontra no humor e na ação sua melhor qualidade se tornando um dos melhores exemplares do universo DC no cinema.

Fonte: Warner Bros

O ano era 2016 quando “Esquadrão Suicida” dirigido por David Ayer (Corações de Ferro) estreou nos cinemas depois de uma impecável campanha de marketing que se tornou melhor e até mais relevante para o sucesso do filme, com Will Smith (Bad Boys Para Sempre) liderando um elenco estelar, tendo a estreia de icônicos personagens da DC como Arlequina de Margot Robbie (Aves de Rapina) e Coringa de Jared Leto (Os Pequenos Vestígios), resultaram num fenômeno de bilheteria que faturou US$ 133 milhões em apenas três dias nos EUA e com uma bilheteria final invejável de US$ 746,8 milhões.

Apesar das duras críticas recebidas tanto dos críticos quanto dos fãs, a Warner tinha uma franquia forte nas mãos e uma sequência seria inevitável, porém precisavam garantir que os problemas seriam corrigidos para garantir o sucesso da sequência. Eis que em 2019, James Gunn (Guardiões da Galáxia 1 e 2), foi anunciado como diretor e roteiristas da sequência da história desse grupo de mercenários malucos, trazendo uma espécie de híbrido, meio reboot e meio sequência, o longa acabou perdendo seu principal astro, Will Smith, além de claro a saída de Jared Leto e seu criticado Coringa.

Passado dois anos, uma pandemia (ainda em andamento), um elenco diferente e mantendo apenas algumas peças do longa original, a Warner lançou no último dia 6 de Agosto o filme “O Esquadrão Suicida” (“The Suicide Squad”, 2021), cercado de expectativas, agora protagonizado por Idris Elba (Thor: Ragnarok) liderando um elenco tão numeroso quanto o primeiro, trazendo uma narrativa que mantém certos aspectos da estrutura já estabelecida, mas agora com o toque de midas de James Gunn, resultando numa aventura violenta, gore, estranha e que vai gerar boas discussões por muito tempo.

A narrativa do filme não traz nada de novo, aliás, a premissa é simples mostrando o retorno de Amanda Waller (Viola Davis reprisando a personagem de 2016) recrutando um grupo de criminosos com dons especiais para comporem sua Força de Tarefa X, desta vez para uma missão impossível de entrar no país sitiado de Corto Maltese para destruir um experimento de codinome “Estrela do Mar” na instalação de Jotuheim e impedir que isso se torne uma ameaça global.

Fonte: Warner Bros

Resumindo, o roteiro escrito por Gunn ainda se baseia no jeito norte americano de pensar, sempre existe uma ameaça em algum país mais pobre, um governo opressor, tudo que justifique a intervenção dos EUA e a garantia da “paz mundial”. É claro que isso resulta em vários estereótipos de vilões latinos ameaçadores, regimes totalitários e guerrilhas tentando fazer uma revolução para derrubar o governo ditador da vez, basicamente uma campanha bélica que necessita da intervenção militar dos norte americanos para devolver a paz para um povo sofrido.

Tirando essa ideia bélica equivocada que só contribui para exaltação da máquina militar norte americana, Gunn inclusive critica isso através de um dos membros do esquadrão, mas falaremos mais disto posteriormente. O longa começa bem e seu primeiro ato é uma das coisas mais imprevisíveis e insanas que já assisti este ano, a mente louca de James Gunn funciona como um reloginho aqui, estabelecendo bem os novos e alguns velhos rostos da equipe e os colocando em ação já nos primeiros vinte minutos de filme numa sequência de ação tão absurda que vai decidir de imediato se o expectador vai ou não comprar a ideia do novo longa.

A equipe é composta pelos os novatos Bloodsport (Idris Elba), Pacificador (John Cena), Savant (Michael Rooker), T.D.K (Nathan Fillion), Mongal (Mayling Ng), Blackguard (Peter Davidson), Doninha (Sean Gunn) traduzindo do inglês, Caça-Ratos (Daniela Melchior), Polka-Dot Man (David Dastmalchian), a revolucionária Sol Soria (Alice Braga) e o carismático King Shark (Sylvester Stallone), sem falar nos veteranos Coronel Rick Flag (Joel Kinnaman), Arlequina (Margot Robbie) e Capitão Boomerang (Jai Courtney) retornando para reforçar o time, mostra uma gama de novos heróis para serem trabalhos.

Fonte: Warner Bros

Ao trazer imprevisibilidade para o começo de sua história, James Gunn estabelece rápido que nenhum personagem estaria a salvo em sua narrativa. Com um arco que foca apenas na missão de Jotuheim e se utilizando de flashbacks para desenvolver seus novos personagens, o diretor traz uma dinâmica que não cansa o expectador e ao mesmo tempo cria um ambiente em que a trama anda de forma rápida e satisfatória, se utilizando de humor cretino e muitas cenas de ação sangrentas para deixar tudo ainda interessante de acompanhar.

Em certo ponto, “O Esquadrão Suicida” se estabelece como um filme de missão e nada mais, mas isso é suficiente devido aos recursos utilizados pelo seu maestro na direção. Enquanto o longa de 2016 faltava foco, direção e sequências memoráveis, esta nova versão consegue trazer equilíbrio narrativo entre ação, desenvolvimento de personagens em uma narrativa grandiosa de um elenco que em sua maioria é bem aproveitado.

Com a saída de Will Smith, a entrada de Idris Elba (Alma de Cowboy) foi crucial para liderar o barco, ainda que o ator tenha carisma e presença, ainda lhe falta um apelo mais universal, porém seu personagem Robert Dubois/Bloodsport é bem desenvolvido, mas muito de sua narrativa é bem semelhante a história de origem do Pistoleiro de Smith, inclusive o personagem tem relação conturbada com a filha (Storm Reid) que lhe confere um pouco de humanidade. Sua habilidade como anti-herói é a precisão na utilização de armas de fogo, muito semelhante ao personagem de Will, claramente mostra que o ator fez uma falta para compor o elenco.

Fonte: Warner Bros

Outros destaques vão para a Caça-Ratos de Daniela Melchior (Parque Mayer), sua personagem tem um arco dramático bacana de acompanhar e sua habilidade de controlar ratos se torna peça fundamental na narrativa, principalmente no terceiro ato. Gosto do retorno de Viola Davis (A Voz Suprema do Blues) como Waller, mais louca e perigosa do que nunca exercendo seu poder de controle em cima do esquadrão.

O Joel Kinnaman (Robocop) retornando como Coronel Rick Flag foi positivo, apesar de não trazer novidades, o personagem ainda rende na história. O legal aqui é que James Gunn sabe aproveitar até os menores personagens dentro da sua trama, até heróis como o do ator David Dastmalchian (Homem Formiga e a Vespa) no papel de Polka-Dot Man se torna relevante mesmo com a habilidade ridícula de atirar bolinhas interdimensionais. O retorno de Margot Robbie (Era Uma Vez Em Hollywood) como Arlequina continua sendo algo que agrada, a atriz já doma a caracterização com destreza e apesar de não ser a melhor personagem feminina do longa, Robbie ainda consegue garantir uma das melhores cenas de ação da narrativa e uma das melhores da personagem até o momento.

Talvez um dos grandes destaques do longa seja John Cena (F9: The Fast Saga) no papel de Pacificador, seu personagem é a pura representação da hipocrisia norte americana, de querer resolver os problemas do mundo, mesmo que isso resulte em baixas inocentes. Cena aqui ganha um material bastante rico em mãos, com um personagem odioso, que dificilmente não vai fazer o expectador sentir raiva, principalmente após atitudes duvidosas que toma no final do filme.

Fonte: Warner Bros

Porém, os grandes destaques de “O Esquadrão Suicida” são os personagens em CGI que compõe a equipe, ainda que seja uma participação curta, a Doninha (Sean Gunn) é uma das criaturas mais escrotas, estranhas e engraçadas que já vi num filme de super-herói, no caso anti-heróis. Para superá-lo, apenas o desengonçado e engraçado King Shark (Sylvester Stallone), suas tiradas, suas frases boas, sua violência gráfica, são tão bem inseridas no filme e tem um timming cômico tão bom, que fica difícil do personagem não se tornar um dos seus personagens favoritos quando filme acaba.

Os vilões dos filmes são apenas ok, os generais da fictícia Corto Maltese são puro suco do estereótipo latino, uma pena já que isso é uma visão fraca e limitada de Hollywood em relação a estes países. Peter Capaldi (Paddington 2) como vilão Thinker é subaproveitado, servindo apenas de escada para o vilão Estrela do Mar ou “Starro, O Conquistador”, que surge no terceiro ato de forma ameaçadora fazendo o esquadrão se unir para detê-lo, neste contexto o antagonista funciona, apesar de cair no mesmo problema do longa anterior, criando uma ameaça nível Superman de periculosidade, para um time que ao menos desta vez tem membros que conseguem bater de frente em nível de habilidade.

A verdade é que “O Esquadrão Suicida” corrige a maioria dos problemas do longa de David Ayer, mas tudo isso só funciona, porque James Gunn tem total controle do espetáculo, conseguindo fazer uma obra singular, estranha, absurdamente acelerada que traz uma trilha sonora que desta vez funciona em todos os momentos da narrativa, entrando sempre na hora certa engrandecendo os momentos e as sequências de luta, não só servindo como uma longa montagem musical como foi feito anteriormente.

Fonte: Warner Bros

No lado técnico, o longa é muito bem feito, a fotografia é linda, intercalada por escopos grandiosos evidenciando as belezas naturais nas sequências da ilha. O roteiro é muito bem desenvolvido, os efeitos visuais estão espetaculares, principalmente no último ato onde o filme se rende ao seu lado blockbuster e entrega algo grandioso para justificar seu pesado orçamento de 185 milhões de dólares.

Pensando em tudo que foi discutido, pode-se dizer que “O Esquadrão Suicida” é um produto bem acabado, feito para entreter e não se levar a sério, talvez o humor, o sangue exagerado e alguns aspectos da trama não agrade os mais exigentes, mas não há como negar que James Gunn entrega uma aventura espetacular e honesta, com personagens memoráveis, tiradas excelentes, sem falar que consegue revigorar uma franquia que tem muito para render (vai depender do sucesso comercial é claro).

O diretor está no auge da criatividade, conseguindo dar destaque relevante para estes personagens semi desconhecidos da DC em um filme repleto de anti-heróis tentando salvar o mundo, mostrando que comprometimento e escapismo da melhor qualidade ainda podem render um blockbuster memorável que crava sua marca entre os melhores de 2021 e provavelmente deve ficar entre os favoritos até do mais exigente dcnauta.

Elo Preto

Personagem Bloodsport
Ator: Idris Elba
Idade: 48 anos

O destaque da coluna de hoje vai para um dos melhores atores britânicos da atualidade, Idris Elba no papel do maluco Robert Dubois/Bloodsport, personagem que tem fobia de rato (acredite essa é umas das partes mais engraçadas dele), mas é um assassino eficiente, boca suja, preciso e que vive batendo de frente com Pacificador pela dominância da liderança do Esquadrão, inclusive a cena na selva entre essa dupla invadindo uma aldeia no meio da selva e disputando quem mata mais é um dos momentos mais engraçados e insanos do longa. Elba vende carisma, charme e presença, fazendo o personagem ainda mais interessante e mostrando ser um ator negro de talento único. Elba atuou recentemente "Hobbs & Shaw" como vilão e deve retornar em breve ao personagem da carreira na série "Luther", ele também será visto no longa da Netflix, o aguardado “Vingança & Castigo” dividindo a tela com Regina King e grande elenco.

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