“Black-ish” – 4° Temporada – Crítica

Iniciando nosso “Maratona em Hype”, começando como uma das comédias negras mais sensacionais da atualidade que traz em seu quarto ano o equilíbrio perfeito entre humor e drama na sua melhor temporada até então.

Fonte: ABC Studios

Sinto falta de comédias nacionais focadas em famílias negras, na verdade o Brasil tem um sério problema de representatividade na TV aberta e na TV paga, as novelas têm esse problema, assim como nos seriados mais populares. Essa falta de representação aqui no país, sobra nos EUA, que tem um histórico de luta por espaço na mídia desde os tempos antes dos movimentos pré direitos civis. Desde então seriados negros na TV norte americana tem sua própria trajetória de afirmação e consolidação.

Atualmente essas comédias não só se restringem aos canais voltados para o público negro, mas também para aqueles maiores de grande audiência, um deles é a ABC, canal do conglomerado Disney que aposta em diversas séries que abraçam a diversidade e atualmente esta cada vez mais abrangente neste quesito, foi lá que surgiu em 2014 a série “Black-ish”, série de comédia criada por Kenya Barris (BlackAF) e que se tornou um produto premiado e elogiado tanto pelo seu público alvo, quando pela crítica especializada, a levando a figurar constantemente nas premiações do Emmy, basicamente o “Oscars” da TV norte americana.

Esta comédia que conta a história dos Johnson, uma família negra bem-sucedida de classe média que mora num subúrbio que busca resgatar sua ancestralidade depois que Dre (Anthony Anderson), o patriarca da família percebe que está perdendo contato com suas próprias raízes, assim como sua família. Além dele, temos Rainbow (Tracee Elis Ross) sua esposa, Zoey (Yara Shahidi) a filha mais velha do casal, seu filho Andre Jr. (Marcus Scribner) e os gêmeos Diane (Marsai Martin) e Jack (Miles Brown), sem falar na presença constante dos pais de Dre, Ruby (Jenifer Lewis) e Pops (Laurence Fishburne).

Fonte: ABC Studios

A série que começou seu primeiro ano tentando sair da sombra de ser só mais uma série de comédia, começou a ganhar notoriedade aos poucos, com um humor leve, boas tiradas e com várias críticas pertinentes principalmente relacionados aos negros e a cultura negra, a série encontrou seu prumo ainda na primeira temporada, conseguindo nos fazer afeiçoar ao elenco principal de tal forma que era difícil de largar. A segunda e a terceira temporadas, foram onde a série se consolidou no formato trazendo episódios temáticos de Halloween engraçadíssimos, e episódios com tons mais sérios para falar da temática de racismo e até mesmo sobre violência relacionado a armas de fogo, tema delicado para os norte-americanos.

A narrativa da série também é bastante educativa, com a narração em off de Dre, a comédia sempre faz relação ao que aconteceu no passado desde os tempos da escravidão nos EUA, com o que acontece hoje no país, desta forma ganhamos em história e ainda fazemos reflexões sobre o assunto, tudo muito bem dosado mostrando um roteiro que se preocupa em dar peso ao que sugere, mas sem esquecer de trazer um tom cômico esperto que acaba por quebrar qualquer resistência sobre o tema da vez.

Digo tudo isso e começando a minha “Maratona em Hype” falando especificamente da quarta temporada de “Black-ish”, que após três boas temporadas, acaba por subir um patamar na qualidade de seus episódios, trazendo uma carga dramática bastante interessante para o seriado de forma engrandecer as atuações do elenco principal e trazer emoção para seu público em questões não só relevantes para os negros, mas algumas questões sociais bem relevantes e universais.

O final da terceira temporada nos trouxe um pouco de emoção com nascimento do quinto membro da família Johnson, o bebê Devante, nos deixando curiosos como seria a dinâmica da família agora com mais pimpolho na mistura. A quarta temporada se passa pouco tempo depois desses eventos, trazendo a premiere “Juneteenth” (4×01) que explora uma das datas mais simbólicas dos EUA em relação ao povo negro, dia este que os escravos descobriram que estavam livres em meados de 1865, aqui temos a família fazendo sua própria versão do evento que gera boas risadas e uma performance musical espetacular (link abaixo) numa clara homenagem ao musical teatral Hamilton, ao mesmo tempo que ressaltam a importância de comemorar o feriado.

Fonte: ABC Studios

Como citei anteriormente, vemos esta quarta temporada atingir uma carga dramática muito alta e isso tudo começa já no segundo episódio “Mother Nature” (4×02), com Bow sofrendo com depressão pós-parto que acaba não só afetando sua relação com o bebê Devante, mas também com o resto da família. Aqui vemos uma série que sabe desenvolver um assunto sério, sem pesar no tom dramático, isso tudo só funciona por conta do roteiro esperto e por causa da atuação exemplar de Tracee Ellis Ross (A Batida Perfeita).

Este assunto é um dos muitos que ajudam a dar corpo e desenvolver esta temporada, temas como golpe em idosos focado na personagem Ruby no episódio “Elder Scam” (4×03) e reabilitação de pessoas negras a sociedade depois de serem presas num episódio focado em Dre e seu amigo que irá sair da cadeia no episódio “Please Don’t Feed The Animals” (4×07) mostram a versatilidade de “Black-ish” em transitar em vários assuntos importantes se mostrando bastante atual em relação a assuntos recorrentes na sociedade.

A série vai ainda mais fundo em temáticas focadas em pessoas pretas, como o episódio sobre diabetes ser tendência na comunidade negra focada em Dre, no interessante “Sugar Daddy” (4×09), ou sobre um problema que vira e mexe vira tema recorrente na série, como o colorismo, foco do episódio “Bow Knows” (4×12). A série também não tem medo de falar sobre sexualidade no final da adolescência e começo da vida adulta como fica claro no engraçado “R-E-S-P-E-C-T” (4×14) focado em Junior e na sua irmã Zoey.

Fonte: ABC Studios

O legal é que após três temporadas, o seriado fica ainda melhor com o elenco estando bastante afiado nos momentos mais cômicos, apesar de repetir algumas coisas em determinados momentos, como Dre sempre subestimando a inteligência de seu filho Andre, ou Bow e Ruby entrando em pequenos atritos, ou o grupo do escritório de Dre sempre fazendo comentários ridículos (o personagem Charlie continua excelente), porém a série mostra aqui preparada para quebrar esse ciclo e seguir caminhos mais interessantes e com um tom que vai mudando aos poucos a medida que as crianças e os filhos adolescentes do casal vão crescendo.

O legal é que após três temporadas, o seriado fica ainda melhor com o elenco estando Com a filha mais velha Zoey aparecendo de vez enquanto agora que está na faculdade (ganhando seu próprio spin off inclusive, Grown-ish), a série dá mais espaço para os outros irmãos (Andre Jr, Diane e Jack) brilharem ainda mais nesta temporada, gerando episódios divertidos como “Advance To Go (Collect $200)” (4×04), “White Breakfast” (4×15) e “Dog Eat Dog World” (4×19). Outro ponto positivo é que Ruby continua sendo uma das melhores personagens do seriado, com suas tiradas antológicas, seus comentários ácidos e flertes inoportunos, ela esta ótima num dos meus episódios favoritos da temporada, “North Star” (4×17), com a família de Bow indo jantar no feriado de Páscoa.

A comédia eleva seu nível de excelência no arco da crise conjugal, os quatro últimos episódios da temporada “Fifty-Three Percent” (4×20), “Blue Valentine” (4×21), “Collateral Damage” (4×22) e “Dream Home” (4×23) são sensacionais, o roteiro desmitifica a aparente perfeição do casal Johnson de uma forma bastante realista, conseguindo surpreender ao mostrar lados de Dre e Bow que não conhecíamos até então, onde a sintonia que existia simplesmente sumiu dando lugar a problemas de relacionamento que a narrativa vai mostrando que foram sendo jogados para baixo do tapete, mas que agora surge como uma bomba relógio gerando brigas e conflitos afetando não só eles, mas seus filhos e parentes também.

Fonte: ABC Studios

De uma forma geral, vemos que “Black-ish” consegue entregar sua temporada mais cativante e mais emocionante até então, talvez uma das mais engraçadas também, num ano em que o elenco brilha proporcionalmente e onde os protagonistas Tracee Elis Ross e Anthony Anderson entregam atuações bastante consistentes e emocionantes, principalmente na reta final mencionada anteriormente. É neste momento que a comédia deixa de ser mais uma comédia na grade da ABC, para se tornar uma das mais criativas e versáteis da atualidade, com uma qualidade dramática excelente e um bom humor que é impossível não se apaixonar.

Vemos aqui que Kenya Barris e seus roteiristas conseguem o equilíbrio perfeito na sua melhor temporada até então, além de consolidar “Black-ish” como uma das melhores comédias atuais, a série também entrega também uma de suas melhores comédias protagonizadas por uma família negra dos últimos anos, conseguindo manter um ritmo dinâmico por 23 episódios sem cair na mesmice e sempre trazendo questões importantes para serem discutidas principalmente relacionado a experiência de ser negro nos EUA atual.

Gostou? Então veja o vídeo da apresentação musical do primeiro episódio da temporada logo abaixo. Se já assistiu a quarta temporada, comenta, quero saber da sua opinião.

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