Pouco inspirado! A sequência de um dos maiores sucessos nacionais, abraça a negritude e a alegria da diversidade baiana, mas infelizmente não consegue o mesmo efeito do longa original.

Fazer sequências não é um negócio fácil, muitas delas são revisitadas logo após o sucesso do longa original, outras demoram um bom tempo para obter uma continuação digna, afinal, não se mexe em time que está ganhando. Sequências imediatas como “Shrek 2”, “Batman: O Cavaleiro das Trevas” e o recente “Duna: Parte 2”, são exemplos recentes de se aproveitar o hype do sucesso e potencializar ainda mais um blockbuster.
Outras sequências demoram anos para surgir, como é o caso de “Top Gun: Maverick”, o sucesso recente “Os Fantasmas Ainda Se Divertem” e até mesmo a quarta parte de “Um Tira da Pesada” que trouxe Axel Foley de volta. A pergunta que fica é, esperar o momento tempo para lançar uma sequência é uma boa ideia?
No caso de “Ó Pai, Ó”, a sequência demorou tempo demais, precisamente 15 anos. Confesso que fiquei receoso, porque gosto muito do primeiro filme e achava que o longa protagonizado por Lázaro Ramos não precisava de uma continuação, a não ser que valesse muito a pena.

Eis que ganhamos ano passado, através da Globo Filmes e H20 Filmes, “Ó Pai, Ó 2”, sequência do longa de 2007 que se passa dez anos depois da história original, acompanhamos Roque (Ramos) preste a lançar sua primeira música na tentativa de alcançar o sucesso como artistas. Junto com o pretendente a cantor, retorna Dona Joana (Luciana Souza), ainda lidando com o luto após a perda trágica dos filhos no final da narrativa anterior.
Os personagens peculiares continuam lá, o folgado Reginaldo (Érico Brás), a engraçada Neusão da Rocha (Tânia Toko), Yolanda (Lyu Arisson), Baiana (Rejane Maia), Psilene (Dira Paes), além da adição de Lúcia (Edvana Carvalho), dentre outros personagens que representam a classe trabalhadora baiana apaixonada por suas tradições e é de onde a narrativa parte com todos engajados em fazer uma inesquecível festa para Iemanjá.
Assim como o longa anterior, a narrativa escrita por Viviane Ferreira (que também dirige) com colaboração de Daniel Arcades e Elísio Lopes Jr, tudo é muito simples, porém existe aqui um empoderamento negro imenso, com forte censo de socialidade, com frases famosas sendo ditas aleatoriamente por personagens, mas que atiça nossa veia intelectual e cultural nos fazendo lembrar de nomes como Conceição Evaristo, dentre outros ícones pretos brasileiros.

É através dessa crescente alegria e otimismo, que “Ó Pai, ó 2” tenta capturar o que fez do primeiro filme sucesso, porém infelizmente, a narrativa parece pouco inspirada e até mesmo cansada para trazer um frescor em uma história que não tem muito para onde ir, servindo como uma grande celebração ao povo preto, mas sem trazer um aprofundamento mais significativo.
Porém, em termos de trilha sonora, o longa oferece boas canções misturada com batuques baianos apoiado por uma cinematografia solar exaltando a beleza natural da Bahia, porém perdendo um pouco o tom de filme, parecendo um entrecho que mais parece um seriado do que um longa-metragem propriamente dito.
A questão é que se você gostou do primeiro filme, talvez curta este em alguns momentos, principalmente quando Lázaro Ramos tenta a todo momento segurar a história com seu carisma natural e sua alegria contagiante. Adicione isto as confusões do elenco e temos uma obra que apesar de não ser perfeita, ainda entretém.

A direção de Viviane Ferreira, que além de escrever, toca por trás da câmera um filme que tentar ser muitas coisas, mas acaba não tendo o impacto devido, o que soa decepcionante, afinal esperamos mais de 15 anos para algo especial, nostálgico, mas infelizmente ganhamos apenas uma tentativa de atualizar um sucesso, mas que acaba ficando no meio caminho.
Por tudo que foi falado aqui, “Ó Pai, ó 2” é um filme perdido no tempo, demorou muito a acontecer e apesar das boas intenções, falha em conseguir replicar o sucesso de outrora. É claro que a obra não é um desperdício, toda narrativa se apoiando no filho de Roque e jovens crianças negras engajadas com um futuro mais diversificado e com uma negritude mais antenada é um ponto positivo, assim como a celebração do terceiro ato com Lázaro soltando a voz, porém no geral apesar de uma leve nostalgia, é muito pouco para quem sabe que o estado mais preto do Brasil é capaz de entregar em termos culturais e musicais. Quem sabe na próxima.
Disponível no Globoplay.
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