_{Sauron vive! O maior vilão da saga de J.R.R. Tolkien dá as caras numa temporada que finalmente encontra um tom certo e um caminho promissor entregando a sua melhor temporada até então. A Coluna Elo Preto destaca o ator Ismael Cruz Cordova.}

Quando a primeira temporada de “Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder” (The Lord of the Rings: The Rings of Power, 2022-Presente) estreou há quase dois anos, muito se especulou que o seriado era apenas visual, mas pecava pelos diálogos e a forma de contar sua própria história. A verdade é que a cara série da Amazon Prime Video, estava apenas tentando achar seu caminho em meio a um orçamento astronômico trazendo o complexo universo de Tolkien a vida.

Os dois primeiros episódios da série foram espetaculares, com um tom épico que justificava o pomposo hype em cima. Eu citei inclusive na minha crítica, que o ponto positivo da série era não só abraçar a diversidade, mas atualizar o texto de Tolkien para um presente imediatista que vivemos. O primeiro ano oscilou bastante é verdade, mas sua reta final com o surgimento do personagem Adar (Sam Hazeldine) e a revelação da figura de Halbrand (Charlie Vickers) como o poderoso Sauron, foi o ponto de ignição para que a série realmente encontrasse seu caminho.

A segunda temporada estreou no dia 29 de agosto com três episódios e cercado de expectativas, principalmente daqueles que acreditavam no potencial da série. Os showrunners Patrick McKay e John D. Payne, aprenderam a lição e começaram a ouvir não só os fãs, mas também outros consultores amantes do universo Tolkien. Desta forma quando assistimos a premiere “Elven Kings Under the Sky” (2×01), vemos um maior cuidado nos diálogos, na distribuição das tramas e no vilão da temporada, Sauron.

Claramente, o foco na construção dos anéis com a trama central se passando na cidade élfica de Eregion, trouxe um ganho positivo para série, com a relação entre o elfo ferreiro Celembridor (Charles Edwards) e Annatar (versão élfica do Sauron) servindo de espinha dorsal para uma temporada que cada vez mais se moldou em um eminente conflito entre elfos, orcs, Adar e Sauron, como podemos ver nos episódios “Where the Stars are Strange” (2×02).

O texto de “Anéis do Poder” estava tão afiado, que as tramas em Khazad-dûm, Lindon e Numenor, começam a ser diretamente influenciadas pela presença de Sauron como uma ameaça invisível que põe em alerta toda Terra-Média com lado sombrio crescendo de forma constante, como podemos ver no episódio “The Eagle and the Sceptre” (2×03), onde o conflito político em Numenor destituiu a Rainha Miriel (Cynthia Addai-Robinson), colocando Pharazôn (Trystan Gravelle) no lugar.

Se por um lado, a temporada consegue trazer tramas mais conjuntas, por outro, ainda falta um modelamento melhor em outras. A trama do “Estranho” (Daniel Weyman) com as pés peludas Nori (Markella Kavenagh) e Poppy (Proudfellow), não rende. Particularmente, gosto do tom de mistério, gosto do visual, mas a trama não anda praticamente a temporada toda, prejudicando inclusive os atores que tem pouco a fazer.

A trama de Isildur (Maxim Baldry), Theo (Tyroe Muhafidin) e Arondir (Ismael Cruz Cordova), sofre do mesmo mal da trama citada anteriormente, mas ao menos esta, explora ações ligadas a tramas dos orcs na recém criada Mordor. Seguindo nesta linha, o arco de Adar é um dos mais bem conduzidos da temporada, principalmente quando é explorado seu conflito com Sauron levando ao cerco de Eregion.

O grande trunfo da temporada é separar o arco dos anéis em três seguimentos, enquanto nos primeiros episódios vemos como os anéis criados para os elfos aumenta o conflito entre Elrond (Robert Aramayo) e Galadriel (Morfydd Clark), o arco do meio da temporada coloca os anões no centro do conflito com o Príncipe Durin (Owain Arthur) desconfiando dos anéis criados por Celembridor e Annatar para seu pai o Rei Durin III (Peter Mulan), como podemos ver no episódio “Eldest” (2×04) e no ótimo “Halls of Stone” (2×05), este último mostrando a verdadeira ganância dos anões por mithril, ouro e poder.

Falando em poder, em termos de produção, a série continua impecável visualmente, misturando de forma primorosa CGI da melhor qualidade com cenários reais com uma fotografia cinematográfica deslumbrante. A trilha sonora de Bear McCreary continua excelente, assim como os figurinos e a direção de arte da série que só fica melhor a cada episódio.

A condução narrativa da série soube trazer diversidade para o texto de Tolkien e nesta temporada não é diferente, ainda que os personagens negros e de outras etnias tenham diminuído sua participação, existe momentos pontuais que personagens como Disa (Sophia Nomvete), Miriel e Arondir, ainda tem seus destaques merecidos. Vale a menção para a nova versão de pés peludos que aparecem na série na jornada de Nori, Poppy e o Estranho, “Os Stoors” vivem em montanhas e também são bem diversos na tonalidade da pele.

Outro ponto positivo de “Anéis do Poder” é o fã service que série entrega com uma boa precisão nesta temporada, com citações a Morgoth, frases clássicas do universo Tolkien sendo moldadas e falas através de ações, a aparição de Tom Bombadil (Rory Kinnear), ou seja, puro deleite. Um dos melhores episódios da temporada “Where is He?” (2×06), vemos o quão persuasivo Sauron pode ser, com uma atuação bastante marcante de Charlie Vickers, que consegue ser um vilão na medida, entre o encantador e o cruel, principalmente quando testemunhamos sua relação complexa com Celembridor. Aliás, Charles Edwards é outro grande destaque da temporada, numa atuação excelente.

A reta final da série é simplesmente de tirar o fôlego, pois ao focar o arco na batalha de Eregion em meio a construção dos anéis para os Homens no episódio “Doomed to Die” (2×07), temos aqui um conflito diferente do normal com Orcs liderados por Adar servindo como uma força massiva para destruir a cidade élfica mostrando a habilidade da diretora Charlotte Brändström em conseguir trazer vários estágios de emoção para um conflito complexo num cerco que vai afunilando se revelando em boas cenas de ação que tenta não pontuar protagonistas em momentos épicos, mas mostrar um equilíbrio entre os dois lados destacando suas motivações.

E o seriado não para por aí, conseguindo criar sequências épicas e tensas na maior batalha que a série já mostrou em tela até então, culminando no excelente final de temporada “Shadow and Flame” (2×08) que traz mortes, resoluções e ganchos para um futuro ainda mais sombrio e desafiador para elfos, anões e humanos.

De uma forma geral, sem estragar as surpresas pelo caminho, devo dizer que “Anéis do Poder” apresentou sua melhor temporada até o momento, com sequências excelentes, arcos bem conduzidos, com algumas ressalvas que ainda precisam de um polimento melhor, porém o maior triunfo da narrativa, foi finalmente encontrar seu tom, entre o orçamento pomposo e o texto complexo. Acredito que neste segundo ano, a série entrega exatamente o que precisava em termos de adaptação, que muitas vezes parece algo saído do livro Silmarillion, tamanho empenho do elenco e da produção.

Usando Sauron como chamariz principal e aproveitando a atuação do elenco liderado por um ótimo Charlie Vickers, a série não só se consolida como uma das melhores fantasias atuais, mas também como um épico fantástico que finalmente faz jus a todo hype construído na primeira temporada. Esperemos que a qualidade continue nesta crescente na próxima temporada. E que venha o terceiro ano.

O destaque da coluna de hoje vai para Ismael Cruz Córdova no papel do elfo Arondir, dono de ótimas cenas de ação na série, o personagem ficou um pouco apagado em alguns momentos da temporada, mas sua jornada de vingança contra Adar foi bastante promissora de acompanhar. Ismael é um ator porto riquenho que se destacou no filme “Duas Rainhas” com Saoirse Ronan e Margot Robbie, além de participar de séries como “The Mandalorian” e “Operação Berlim”, “Anéis do Poder” é seu maior papel até agora dando vida ao primeiro elfo negro do Universo Tolkien. O ator será visto em breve nos filmes “The Bluff” protagonizado por Karl Urban e também no filme “The Pickup” dirigido por Tim Story, onde Ismael será o protagonista.  

Gostou? Veja o trailer abaixo e comente sobre o que achou da temporada.