“Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder” – 1° Temporada – Crítica

Um sólido começo. O universo de J.R.R. Tolkien migra para o formato de série trazendo mais diversidade, mais história, uma mitologia rica explorando a segunda era e a criação dos anéis de poder.

Fonte: Amazon Studios

O universo criado por J.R.R. Tolkien é um dos mais ricos já estabelecidos na literatura mundial, o autor especialista em linguística que criou a língua élfica para enriquecer ainda mais uma mitologia que traz criaturas mágicas e personagens peculiares, a famosa batalha entre bem e o mal, muita poesia e filosofia para uma das fantasias mais aclamadas de todos os tempos, conseguindo assim criar gerações de fãs por décadas que se consolidou quando Peter Jackson conseguiu entre 2001-2003 fazer a trilogia baseado na obra prima “O Senhor dos Anéis” se tornar um fenômeno global sem precedentes.

Seguindo essa linha e depois de uma recepção bastante dividida da trilogia “O Hobbit” e após diversas batalhas judiciais e negociações, os direitos de “O Senhor dos Anéis” (pelos menos de suas apêndices) foram adquiridos pela Amazon Prime numa batalha milionária que resultaria no nascimento da série “O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder” (The Lord of the Rings: The Rings of Power, 2022), que estreou no dia 1° de Setembro cercado de expectativas principalmente após a Amazon declarar que a série seria a mais cara da história, custando altíssimos US$ 460 milhões.

Depois mais de um ano em produção, o seriado que tem oito episódios se passaria na segunda era da Terra Média, milhares de anos antes de Frodo começar a sua jornada para destruir o “um anel”, durante os eventos que levariam a criação dos anéis de poder e a ascensão de Sauron, o segundo senhor do escuro. A grande incógnita que preocupou fãs e amantes do universo de Tolkien seria se a série faria jus ao seu legado na literatura e também no cinema.

Fonte: Amazon Studios

A resposta chegou no começo de setembro com os dois primeiros episódios sendo exibidos de uma só vez, no piloto “A Shadow of the Past” (1×01) e “Adrift” (1×02) vemos uma série com um impacto visual acachapante e uma ambição de produção que rivaliza com as produções mais caras de Hollywood lançada no cinema nos últimos anos. A série criada pelos novatos Patrick McKay e John D. Payne não poupou despesas para criar uma Terra Média viva e esplendorosa com os melhores efeitos visuais que o dinheiro pode comprar.

É claro que dinheiro não é tudo se o roteiro não vivesse através das expectativas estabelecidas. Ao colocar J.A. Bayona (Jurassic World: Reino Ameaçado) para dirigir os dois primeiros episódios, a narrativa cria todo um tom que vai seguir dali em diante estabelecendo personagens e expandindo os mistérios de uma narrativa com fome de aventura, fantasia e ação da boa. O roteiro consegue felizmente definir rapidamente seu foco e os núcleos que vai explorar.

Um dos pontos positivos de “Anéis de Poder” é o fato do ritmo da série no começo ser alucinante e estabelecer rapidamente seus diversos ambientes. O seriado se divide em quatro grandes arcos que foram desenvolvidos no decorrer da temporada, o primeiro seguindo a jornada da elfa Galadriel (Morfydd Clark) e do desconhecido Halbrand (Charlie Vickers) nos mares que fazem fronteira com a Terra Média e as terras imortais. O segundo segue o elfo Elrond (Robert Aramayo) e o príncipe anão Durin IV (Owain Arthur) nas minas de Khazad Dhûn.

Fonte: Amazon Studios

O terceiro arco segue o elfo Arondir (Ismael Cruz Cordova), a humana Bronwyn (Nazanin Boniadi) e seu filho Theo (Tyroe Muhafidin) nas terras do sul e na crescente ameaça dos orcs na região. O quarto arco segue os descendentes dos Hobbits, conhecidos como Pé Peludos, nesta trama acompanhamos a pequena Nori (Markella Kavenagh) e sua amiga Poppy (Megan Richards) encontrando um estranho (Daniel Weyman) vindo das estrelas.

Ao conseguir mostrar diversos pontos da Terra Média, a série começa a tomar forma num ritmo que as vezes é irregular, mas também se mostra eficaz em diversos momentos ao apontar um futuro intrigante para seus personagens. E talvez o principal aspecto positivo criado pela dupla Mckay e Payne, foi estabelecer um universo rico e diverso para uma trama que primariamente era predominada por personagens brancos.

Ao colocar personagens negros e latinos na narrativa, “Anéis de Poder” torna-se algo atualizado sem perder o que fez da literatura Tolkien épica. Destaco aqui três personagens, Arondir interpretado por Ismael Cruz Cordova (Miss Bala) que é o primeiro elfo negro da saga, com jeito altivo, calmo e eficiente, tem um arco bastante empolgante e o ator não faz feio, inclusive as melhores cenas de ação são com ele, Cruz inclusive usou movimentos de capoeira para deixar seu personagem ainda mais peculiar.

Fonte: Amazon Studios

A segunda personagem em destaque é a anã Princesa Disa interpretada por Sophia Nomvet, atriz mais conhecida do teatro, traz carisma e presença como esposa de Durin IV e uma capacidade vocal estonteante que ficou marcada no episódio “The Great Wave” (1×04). O último personagem negro de destaque é o pé peludo líder do grupo Sadoc Burrow interpretado por Lenny Henry (Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban), um personagem que é um poço de carisma e inocência, mas disposto a todo custo proteger seu grupo.

O mais interessante aqui é observar que todos esses personagens tem papéis significativos e são bem inseridos no enredo, não servindo apenas como muleta de representatividade, mas realmente tendo sua importância na história, é bom salientar outra personagem negra de destaque é a Rainha Regente de Numenor Miriel, interpretada pela Cynthia Addai-Robinson (O Contador), que também tem papel fundamental para uma virada de seu povo no decorrer da história.

Falando em Numenor, a ilha que abriga uma grande civilização humana, é descrita como uma espécie de Atlantis da Terra-Média, aliás, quando a cidade é apresentada no episódio “Adar” (1×03), acabamos diante de uma das sequências mais visualmente belas já vista na tela da TV, tão magnificamente bem construída com efeitos especiais impressionantes jamais visto nesta magnitude antes.

Fonte: Amazon Studios

O legal aqui é perceber o quão grandioso e ambicioso é “Anéis de Poder” e ao estabelecer esse status, a cobrança em cima da história é ainda maior. Ainda que a trama de Galadriel e Halbrand seja o cerne e fio condutor da estrutura narrativa, os subplots envolvendo as descobertas de Elrond e Durin IV nas Minas é algo planejado para ser crucial num futuro próximo. A verdade é que os roteiristas tiveram um desafio em contar uma história que atraísse novos fãs, mas também teria que usar rostos familiares para fidelizar os amantes dos livros, principalmente os aficionados pelo Silmarillion de Tolkien, onde as histórias da segunda era são aprofundadas.

Pode-se dizer que os showrunners foram bem sucedidos em parte, mas em outros aspectos a série soa como algo que deveria aprofundar mais em certas questões, mas ao focar em estabelecer um universo, acaba deixando a escrita e os diálogos pouco inspirados e certas situações um tanto quanto previsíveis e se estendendo um pouco além do esperado, testando a paciência do expectador, principalmente quando segura muito o ritmo da narrativa no meio da temporada, como fica claro no episódio “Partings” (1×05), que serve mais como preparação do que algo que seja realmente relevante na série.

A segunda metade da temporada é o momento em que “Anéis de Poder” mostra que pode criar algo mais complexo e amarrado, quando o enredo revela suas intenções no melhor episódio da temporada “Udûn” (1×06), um plot que desenvolve a trama, traz riscos, demonstra uma sensação de falsa vitória antes de nos jogar num caldeirão de emoções sem precedentes.

Fonte: Amazon Studios

O fato é que a série ainda precisa de um polimento melhor, não basta adaptar um roteiro, mas precisa dar mais peso aos personagens. Ainda que rostos familiares como Galadriel, Elrond, Isildur, Celembridor e Sauron sejam mencionados e colocados no enredo, a série precisou se provar aqui como algo que sobrevive também com personagens desconhecidos do grande público, mas a verdade é que o seriado mostra bastante potencial e prova que a Terra Média funciona neste formato.

As vezes um seriado não mostra a que veio na primeira temporada, mas “Anéis de Poder” tem qualidades suficientes para mostrar que funciona e pode entregar algo mais coeso nas próximas temporadas. O episódio “The Eye” (1×07) mostra que a série consegue trabalhar com urgência e respiros, mas é no final de temporada “Alloyed” (1×08) que a narrativa dá um salto e finalmente traz grandes revelações que alimentaram o imaginário de muitos fãs que almejam ver mais do que foi construído até aqui.

No geral esta obra fecha seu primeiro ano de forma decente e sabendo entregar um blockbuster em formato de série onde cada frame da fotografia poderia virar uma pintura na parede de algum nerd fã da saga. A trilha sonora de Bear McCreary impressiona quando transita de um território para outro (o tema de Khazad Dhûn ainda causa arrepios só de ouvir), e a direção dos episódios, principalmente de Bayona e Charlotte Brändström (The Witcher) consegue passar credibilidade e a certeza que estamos diante de um épico magnifico que tem tudo para evoluir na segunda temporada (as gravações começaram faz três semanas), esses pequenos ajustes irão melhorar ainda mais a trama dos anéis de poder e a ascensão de Sauron, afinal estão com a faca e o queijo nas mãos, basta saber usá-los.

Elo Preto

Personagem: Sadoc Borrows
Ator: Lenny Henry
Idade: 64 anos

O destaque da nossa coluna hoje é o ator Lenny Henry, o ator inglês de origem jamaicana, tem no personagem Sadoc Borrows a oportunidade de grande papel de destaque em uma das séries mais hypadas do momento, inclusive um dos momentos mais emocionantes e simbólicos da temporada é protagonizado por ele. O ator traz seus trejeitos, leveza, rosto amigável para o líder dos pés peludos os guiando rumo ao desconhecido. Lenny consegue ficar a vontade que parece ir de encontro a sua personalidade. Com papéis menores em produções modestas, exceto uma participação em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, temos um ator que participou do seriado Sandman fazendo trabalho de voz e promete continuar sua trajetória estrelada na minissérie The Witcher: Blood Origin. 

Gostou? Assista ao trailer e comente abaixo o que achou da temporada.

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