Um tributo aos clássicos! A nova animação da Disney faz homenagem aos seus 100 anos, mas peca por não capturar a magia dos seus maiores sucessos numa aventura pouco inspirada e sem muito encanto.

A Disney é o maior estúdio de Hollywood e sempre manteve a hegemonia por muito tempo. A empresa que possui vários setores que funcionam como braços de uma estrutura forte que entrega entretenimento para crianças e adultos. Sempre com algum filme que encanta e nos marca por gerações, resgatando nossa alegria interior e nossa busca por nostalgia. E tudo começou com “Walt Disney Animation”, de longe o braço mais forte da empresa e casa do Mickey e das princesas mais famosas do cinema e da cultura pop.
Após 100 anos completados ano passado, num período cercado por comemorações e homenagens, o ápice desta festa seria a aguardada estreia do filme de animação “Wish: O Poder dos Desejos” (Wish, 2023), filme concebido como forma de tributo a todas animações do estúdio misturando a clássica animação em 2D desenhada a mão misturada com técnicas em animação 3D com uma textura totalmente inovadora do que é usado atualmente.
O longa dirigido por Chris Buck (Frozen – Uma Aventura Congelante) e Fawn Veerasunthorn (Moana – Um Mar de Aventuras), conta a história de Asha (voz em inglês de Ariana DeBose), uma garota de dezessete, que vive com sua família no reino de Rosas, uma terra mágica governado pelo Rei Magnífico (voz em inglês de Chris Pine), que também é um feiticeiro poderoso que adquiriu a habilidade de realizar desejo dos moradores locais.

A partir desta premissa e como podemos notar, a animação carrega todos os elementos necessários para criar uma trama mágica e poderosa que poderia não só trazer um novo clássico Disney, mas também coroar décadas de uma trajetória vitoriosa e marcante de um estúdio que literalmente realizou sonhos de gerações com desenhos e animações encantadoras com personagens maravilhosos e mundos incríveis.
Infelizmente, o filme não entrega tudo aquilo que se espera e acaba decepcionando exatamente por não conseguir resgatar a magia que fez desse estúdio um sucesso. A narrativa traz um momento decisivo para Asha, que é recrutada pelo Rei Magnífico para ajuda-lo na tarefa de cuidar e escolher qual o desejo seria escolhido dentro vários coletados pelo feiticeiro para ser realizado numa cerimônia que acontece uma vez a cada ano.
O roteiro escrito a três mãos por Jennifer Lee (Frozen – Uma Aventura Congelante), Allison Moore (Da Vinci’s Demons) e o próprio Buck, é cuidadoso em construir uma história que representa a Disney hoje, a protagonista é birracial, o enredo é focado na família, a população de Rosas é diversa e todo o arco narrativo explorando desejos e sonhos é desenvolvido de forma criar brechas também para homenagear todas as produções de sucesso do estúdio.

O problema mesmo é que a animação causa uma certa estranheza visual pela mistura de técnicas de animação, que aqui tem um resultado muito conflitante. Enquanto em alguns momentos o visual e a paleta de cores são vibrantes e lindos, em outras principalmente no design da cidade de Rosas em contraste com moradores, fica tudo muito cinza e estático, dando a impressão de produção de baixo orçamento, o que é estranho para um filme que custou salgados US$ 200 milhões.
Talvez se fosse 100% animação tradicional, “Wish: O Poder dos Desejos” conseguiria nos atrair pela nostalgia, como aconteceu em “A Princesa e o Sapo”, por exemplo. O longa metragem só consegue encantar o expectador, quando traz boas referências aos clássicos, com cenas que remetem “Branca de Neve e os Sete Anões”, “Cinderela”, “Bambi”, “Bela Adormecida” dentre outros sucessos. Cada cena, cada frame, cada gesto peculiar é uma homenagem diferente que se você for atento, consegue perceber de imediato qual filme está sendo referenciado.
É claro que ser um easter egg ambulante, não torna o filme chato, mas é uma tentativa de torna-lo especial, mas só isto não basta. Assim como todo desenho Disney, a parte musical é sempre um grande chamariz, e aqui não é muito diferente apresentando números musicais competentes, porém esquecíveis. Não existe canções memoráveis, apenas tentativas que podem agradar, como a sequência da música “This Wish” cantada lindamente por Ariana DeBose (Amor Sublime Amor), depois reprisada no bonito terceiro ato e a sequência com a canção “Knowing What I Know Now”.

O que mais decepciona em “Wish: O Poder dos Desejos” é que tudo é muito mais do mesmo, desde as motivações da protagonista, passando pela ambição do vilão que é um claro resgate a vilania clássica, mas muito acima do tom e pouco carismático, ou ameaçador. Os personagens coadjuvantes que normalmente são a marca dos desenhos Disney, não são tão engraçados, apesar do carneirinho Valentino e a estrelinha cadente terem momentos bonitinhos que devem agradar um pouco crianças e adultos.
A verdade é que o desenho passa longe de ser uma grande animação, mas não chega a ser um total desperdício. Porém, fica uma sensação de decepção no ar ainda mais sabendo que a Disney consegue entregar clássicos encantadores como os recentes “Frozen”, “Moana” e “Encanto”, muito mais mágicos, marcantes e com tempero que agrada por trazer histórias excelentes com apelo emocional muito grande.
De uma forma geral, “Wish: O Poder dos Desejos” é uma animação boa, mas dificilmente será lembrada como ponto alto do estúdio. Na tentativa de homenagear o que a Disney tem de melhor, animação peca exatamente por não trazer uma história mais potente que captura nossa atenção e nosso senso de deslumbramento. Talvez o filme ganhe uma sobrevida no Disney Plus futuramente, após um fracasso nos cinemas, mas possivelmente será pouco lembrado no pós 100 anos de comemoração da Disney, que sofreu muito em 2023 com vários fracassos. Este aqui acaba doendo mais, pois mostra que para manter a longevidade, o estúdio precisa se reinventar mais uma vez se quiser continuar conquistando as antigas e novas gerações de fãs de animação.
Dica: A cena dos créditos mostra desenhos de todos os filmes produzidos pelo estúdio, vale a pena conferir.
Gostou? Veja o trailer abaixo e comente sobre o que achou da animação.


