“A Cor Púrpura (1985)” – Crítica

Elo que une e salva! Esta adaptação literária dirigida por Steven Spielberg traz uma história arrebatadora que passa por gerações e se eleva graças a uma extraordinária atuação de Whoopi Goldberg e grande elenco. 

Fonte: Warner Bros

Infelizmente, nossa sociedade foi concebida de uma forma patriarcal, machista e dura, isto reflete toda uma geração de famílias com histórico de violência familiar, onde as esposas pagam pela truculência dos maridos e os filhos acabam carregando esse ciclo de violência para as próximas gerações impedindo a sociedade de evoluir em termos de humanidade e tolerância.

Estes comportamentos são pontos centrais do longa “A Cor Púrpura” (The Color Purple, 1985), produção da Warner Bros disponível no streaming HBO Max baseado no livro de 1982 de mesmo nome da autora Alice Walker vencedora do Pulitzer nos EUA, que conta a história de Celie (Desreta Jackson), uma garota que sofreu abusos do pai e do marido, mas tinha na relação com a irmã mais nova Nettie, a esperança de dias melhores para superar as adversidades da vida.

Não há dúvidas que este filme indicado a 11 Oscars em 1986 se tornou um clássico não só devido ao tempo, mas também ao revisita-lo, temos a sensação que a temática envelheceu bem com um texto bastante atual e que ainda reflete uma geração de pessoas pretas que infelizmente passaram por abuso e violência muitas vezes vindos de dentro dos seus próprios lares.

Fonte: Warner Bros.

O longa dirigido por Steven Spielberg (The Fabelmans) é uma história contada de uma forma bastante correta, pois fica claro o respeito do cineasta pelo texto original e a temática delicada que requer cuidado para ser adaptada. Ainda assim, falta ao cineasta aprofundar mais no desenvolvimento de alguns dos seus personagens que aqui são pincelados, inclusive Spielberg abdica muito do seu estilo em determinados momentos exatamente para não fugir muito do que está sendo mostrado.

O roteiro de Menno Meyjes (Indiana Jones e a Última Cruzada) consegue desenvolver bem a trama no começo, mostrando a pesada relação de Celie com o pai e posteriormente o marido Albert (Danny Glover), pontuada por abusos sexuais e físicos. Por outro lado, a escrita equilibra a violência mostrando a doce relação da jovem com Nettie que acaba sendo o cerne desta primeira parte da história, sendo interrompida com a separação das duas irmãs.

O ponto mais positivo de “A Cor Púpura (1985)” é o cuidado como desenvolve a trama através do ponto de vista de Celie (versão adulta Whoopi Goldberg) incluindo a narração em off que dá mais acessibilidade aos pensamentos da personagem. O roteiro se perde um pouco quando precisa abraçar outras personagens após um salto temporal, como os arcos paralelos de Shug Avery (Margareth Avery) e Sofia (Oprah Winfrey), que são bem desenvolvidos, mas acabam por colocar a trama de Celie em segundo plano.

Fonte: Warner Bros.

É claro que a história tem um forte foco no feminismo preto, e isto, é cuidadosamente costurado numa trama de perseverança e superação, quando Spielberg consegue equilibrar as histórias de Celie, Shug e Sofia de forma uma complementar a outra, o filme decola ainda mais enquanto a trama navega através dos anos que passam, porém ainda é uma pessoa branca contando a história de pessoas pretas, falta um olhar mais íntimo de pessoas de cor dando um toque mais complexo a obra.

E este toque acaba vindo do elenco, a atuação de maior destaque é a de uma jovem Whoopi Goldberg (Ghost – O Outro Lado da Vida), que consegue trazer nuances e profundidade para Celie Johnson, seja no olhar e nos trejeitos, refletindo um passado de traumas, seja na doçura e força de uma mulher que ainda tem forças para se preservar mesmo vivendo numa verdadeira prisão sem grades.

Outro destaque vai para Margaret Avery (Being Mary Jane) no papel de Shug Avery, uma mulher jovem, bonita, sexy, livre com uma voz estonteante que hipnotiza todos a sua volta. Avery é simplesmente cativante, principalmente nos momentos que precisa cantar e contracenar com Whoopi. A atriz/apresentadora Oprah Winfrey (O Mordomo da Casa Branca) surpreende em outro papel forte na pele da corajosa Sofia, que tem um arco que mostra que a esfera do racismo ainda é cruel no começo do século XX. Danny Glover (Máquina Mortífera) merece uma menção honrosa interpretando um personagem cruel e odiável na medida.

Fonte: Warner Bros.

É com esta base forte que “A Cor Púrpura (1985)” se torna uma história necessária e cativante, contada de uma forma bastante linear e elevado por ótimas atuações que ajudam a aprofundar uma temática ainda gera bastante discussões, a desumanização de mulheres pretas. O bom deste filme é que existe pouco momentos datados e claramente devido a remasterização, a obra se preserva como um bom drama que merece ser revisitado. Em termos de produção, destaque para ambientação, fotografia (neste momento que sentimos também a mão do Spielberg na obra com tomadas belíssima do pôr do sol), trilha sonora e figurino.

Por tudo que foi falado, “A Cor Púrpura (1985)” é um grande filme, talvez não seja livre de ressalvas, mas é uma história geracional bem contada que mostra os traumas do feminismo preto da forma nua e crua, assim como a força dessas mulheres em se adaptarem e superarem um sistema opressor, tudo isto é interligado ao elo de duas irmãs que mostra em meio as monstruosidades, existe espaço para o amor e esperança, onde as circunstâncias podem até separar vidas, mas o destino com certeza irá tratar de uni-las novamente.

Leia o texto de “A Cor Púrpura” de 2023 aqui.

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