“The Kitchen (2023)” – Crítica

Esta distopia futurística traz a estreia de dois diretores novatos contando a epopeia de Izi e Benji tentando sobreviver numa comunidade periférica de Londres em um local marcado pela repressão urbana.

Fonte: Netflix

A luta nas periferias é algo constante, vira e mexe vemos em reportagens e matérias jornalísticas incidentes envolvendo comunidades abordando assuntos como violência e tragédias assolando as pessoas vivendo em favelas e vielas principalmente nas grandes metrópoles, mas nunca com uma solução justa para resolver esses conflitos. O país muda, algumas características culturais também, mas o problema continua universalmente o mesmo, o apagamento da periferia e a repressão aos mais pobres e sem condições.

É seguindo esta linha que venho falar do longa “The Kitchen” (2023) ou “A Cozinha” na tradução literal, drama inglês da Netflix que estreou na última sexta feira e vem regado de críticas sociais numa trama que se passa numa Londres do futuro precisamente na comunidade The Kitchen. É nesta periferia da capital inglesa que encontramos Benji (Jedaiah Bannerman), garoto que acabou de perder a mãe, encontrando no sério Izi (Kane Robinson) um por seguro em meio a incógnita do futuro.

O longa de estreia da dupla Kibwe Tavares e Daniel Kaluuya (Judas e o Messias Negro, Corra!, Não! Não Olhe!) é interessante ao buscar nesta comunidade majoritariamente negra, que traz também outras etnias tentando sobreviver a um sistema opressor que vigia, observa e repreende sem motivos aparentes, levando o caos a um local popular num complexo de apartamentos e vilas que se ligam neste conjunto habitacional.

Fonte: Netflix

O roteiro no primeiro ato é bastante simples, passa pelo ponto de vista de Izi, que trabalha numa funerária e tenta juntar dinheiro para sair da comunidade para um lugar moderno e melhor, vê sua vida mudar ao cruzar com caminho de Benji, que naquele momento estava velando a mãe e se tornara órfão sem perspectiva de vida. É através do laço que vai se criando entre os dois que a história vai se desenvolvendo.

Fica claro que o filme indie se limita ao que quer contar, deixando para preencher a parte futurista apenas como uma crítica social onde a tecnologia está presente, mas ainda assim as pessoas são limitadas a recursos básicos como água e moradia. Esta discrepância se move nas entrelinhas onde os diretores conseguem sutilmente inserir detalhes que pessoas mais atentas irão perceber e refletir bastante em cima.

O grande trunfo desta narrativa é a relação entre a dupla principal, que até funciona em determinados momentos, mas na maior parte do tempo, falta um pouco de diálogo para se ter uma dinâmica melhor, mas as atuações de Kane Robinson (Top Boy) e o novato Jedaiah Bannerman são boas e ajudam a carregar essa relação quase paternal durante toda projeção.

Fonte: Netflix

Por não ter pressa de contar sua história, “The Kitchen” peca por diminuir muito ritmo durante alguns momentos, principalmente no segundo ato, onde o filme acaba caindo no clichê da velha hipérbole do encontro, conflito e reconciliação da dupla principal característica deste tipo de drama, falta uma maturidade da direção em conseguir dar um peso maior nesta relação ligando isto a comunidade em que vivem.

O filme não é de todo ruim, mas só consegue prender nossa atenção quando busca mostrar o escopo social enfrentado pelos moradores que tentam sobreviver a repressão violenta da polícia, que usa drones para vigiar e força para combater protestos constantes no lugar. Ainda que a narrativa explore pouco a divisão de classe, visualmente a esfera conflituosa fica bem explicita principalmente no bom terceiro ato.

 Em termos gerais, “The Kitchen” é um bom filme, mais reflexivo do que necessariamente falado, talvez não seja para todos os públicos, mas é um drama que captura nossa atenção na maior parte do tempo. A direção de Kibwe Tavares e Daniel Kaluuya é acertada, mas falta um pouco malícia em determinados aspectos, principalmente quando o texto pede nuances para emocionar o expectador.

Fonte: Netflix

Fica claro que o longa é uma crítica sócio racial importante que tenta mostrar uma gentrificação das comunidades que acabam sendo destruídas juntamente com suas tradições e costumes, ao invés de serem preservadas. A narrativa ganha pontos por dar rostos a periferia e por mostrar que o ciclo de ódio só gera mais ódio. O fato de ser uma distopia é mais enfático para mostrar que não existe futuro senão houver espaço para diversidade cultural e racial, isto tudo é costurado com uma relação fraternal de personagens que precisam se encontrar para sobreviver a este futuro com tanta disparidade.

Gostou? Veja o trailer abaixo. Se já conferiu o longa, diga o que achou nos comentários.

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