Potencial pouco aproveitado. Um dos sci-fi mais aguardados do ano possui um apuro técnico visual magnifico e boas atuações, mas falha ao conseguir dar complexidade a sua própria trama se tornando algo previsível e que pouco surpreendente.

O gênero ficção científica é um dos mais complexos de filmar e agradar o grande público, mas quando é feito da forma certa e com elementos certos, sucessos como “Blade Runner”, “Matrix”, “Exterminador do Futuro 2”, dentre outros que se tornaram fenômenos de bilheteria, ou até mesmos clássicos menores ao serem abraçados pela turma do sofá posteriormente a sua jornada nas telas grandes.
Além de complexo, o gênero é muito rico e cheio de possibilidades, como a que se apresentou na ficção cientifica “Resistência” (The Creador, 2023), filme dirigido por Gareth Edward (Rogue One – Uma História Star Wars) e produzido pela 20th Century Studios surpreendendo nas últimas semanas pelo orçamento baixo de US$ 80 milhões de dólares e trailers que mostravam que a obra seria um filme feito para assistir no cinema.
O longa estreou no Brasil no dia 28 de setembro, sendo que hoje dia 29 estreia nos EUA e diversos países mundo afora. Após assistir ao filme no cinema, muitos questionamentos me levaram a pensar se realmente gostei ou não daquilo que foi mostrado em tela. A trama em si conta a história de Joshua (John David Washington), um agente infiltrado que está em busca de Nirmata, o líder uma resistência de robôs que é centro de uma guerra entre humanos e inteligências artificiais que toma conta do futuro da humanidade.

O roteiro escrito pelo próprio Gareth e também por Chris Weitz (Rogue One), não esconde as diversas referências que pegaram para fazer o futuro de “Resistência” acontecer, indo desde a atmosfera sombria de “Blade Runner” até chegar na atmosfera crua “Distrito 9”, somando isto a uma evidente busca pelo questionamento étnicos que levam a batalha entre humanos e robôs a acontecer na fictícia “Nova Ásia”, refúgio da maioria das inteligências artificiais que ainda vivem com humanos, mas são caçados de forma implacável pelo governo dos EUA após a destruição de Los Angeles por conta de uma explosão nuclear que os humanos alegam ser culpa dos robôs.
A premissa é muito interessante, o suficiente para prender a atenção do público ao longo suas duas horas de duração, mas o grande problema mesmo, começa pela forma como Gareth Edward executa sua história. A narrativa em si é basicamente uma luta pela sobrevivência, com Joshua cinco anos depois de perder a esposa Maya (Gemma Chan) se vendo de novo em uma missão que pode resgatar o fio de esperança perdido em relação a humanidade, mas ao se deparar com a pequena Alphie (Madeleine Yuna Voyles), se vê num dilema moral em destruir ou não a arma que pode acabar com a guerra de uma vez por todas.
É seguindo esta história que “Resistência” começa a desenvolver seu plot, o primeiro ato é muito bom, a mitologia aos longos dos anos, todo o desenvolvimento da guerra entre humanos e robôs é bem definido, assim como as motivações do protagonista. Com um começo promissor, a narrativa começa a apresentar familiaridades, e mais uma vez, algumas decisões na execução que não funcionaram muito bem, os diálogos sem inspiração são repetitivos e acabam por colocar o filme num lugar comum e genérico dentro gênero.

Ainda assim, o longa encanta pelo visual, a fotografia de Greig Fraser (Duna) e Oren Soffer (Fixation) consegue dar um ar de grandiosidade principalmente porque Gareth foi feliz em escolher locações magnificas no Vietnã, Tailândia e Líbano para criar sua “Nova Ásia” futurista, misturado com os ótimos efeitos da Light & Magic (que inclusive são responsáveis pelo excelentes design dos robôs), a trama acaba por criar um ambiente crível que mistura a aura escapista dos blockbusters com um tom sofisticado dos melhores filmes indies de baixo orçamento, um deleite para quem conseguir assistir em IMAX.
É desta forma que parte técnica é o grande chamariz de uma aventura que acaba ganhando mais fôlego no segundo ato, quando a perseguição das forças especiais dos EUA lideradas pela implacável Coronel Howell (Allison Janney) começa uma caçada em meio ao território cheio de inteligências artificiais tentando sobreviver a ameaça humana e sua arma de destruição em massa Nomad. As sequências de ação são muito boas e Gareth sabe usar a trilha sonora de Hans Zimmer a seu favor, nos fazendo torcer por robôs numa batalha que parece injusta e suja, destaque para sequência dos tanques futurista atacando a vila dos robôs, simplesmente de tirar o fôlego.
Uma pena que esta constância seja um problema na narrativa, que se mostra bastante irregular ao priorizar a estrutura da história principal e deixar pouco desenvolvimento para o conflito em si, que carece uma esfera mais política, mas aqui acaba sendo engolida pelo tom de ação que acaba por se transformar numa trama de sobrevivência. Outro ponto é que os momentos de respiro não fazem bem ao longa criando a sensação de mais do mesmo, ou até mesmo impaciência pelo ritmo mais cadenciado.

Porém, o filme ganha pontos ao conseguir se apoiar em boas atuações, a começar por John David Washington (Tenet) que ganha um personagem com camadas, bem dosado e com um pouco mais de carisma mostrando uma boa evolução na atuação. As participações de Ken Watanabe (Godzilla), Gemma Chan (Eternos) e Allison Janney (Eu, Tônia) funcionando como reforços bem vindos que ajudam dar uma base ao filme. No entanto, o grande destaque aqui é a pequena Madeleine Yuna Voyles, uma estreante com carisma enorme e expressões que ajudam sua personagem Alphie roubar cada cena que aparece, inclusive sua química com John é outro ponto alto.
No geral, “Resistência” é um bom filme, talvez careça de um polimento que lhe dê mais profundidade e faça fluir melhor sua mensagem sobre o potencial risco das inteligências artificiais no mundo humano, mas não há como negar que Gareth Edwards consegue trazer um sci-fi que soa como algo novo mesmo que beba de várias fontes conhecidas. Ao criar uma trama linear, ao menos entrega aquilo que se espera, mesmo que o terceiro ato tente uma reviravolta esperta que pode soar imprevisível para os menos exigentes, mas previsível para os mais atentos. A verdade é que todo potencial do filme não é aproveitado, optando por uma mensagem mais diretamente pacifista e revolucionaria, que só não se perde porque a última cena vale cada segundo pela simplicidade e a emoção que transmite, para alguns será pouco, para outros será no mínimo, satisfatória.
Gostou? Veja o trailer e comente logo abaixo se já assistiu ao filme.



2 comentários sobre ““Resistência” – Crítica”