“One Piece” – 1° Temporada – Crítica

Quebrando uma maldição que nunca existiu, essa versão de um dos animes mais celebrados por mais de duas décadas ganha a versão live action vibrante, deliciosa e cheia de vida resultando em uma das séries mais legais do ano.

Fonte: Netflix

Por anos ronda entre os fãs de animes que existe uma “maldição” que nenhuma adaptação de anime funciona quando é transformada em filme ou série, talvez seja exagero, mas temos muitos exemplos de adaptações que realmente não funcionaram, inclusive algumas como: “Dragonball: Evolution”, “Death Note” e “Ghost In The Shell” são consideradas as piores versões live action de seus materiais de origem, dando base aos argumentos dos fãs e leitores de mangás mundo a fora.

É claro que a declaração é exagerada, quando paramos para pensar, existe sim adaptações decentes de anime, como: a quadrilogia de filmes da saga “Rurouni Kenshin” ou “Samurai X” (aqui no Brasil) lançada no Japão, até mesmo a recente série da Netflix, “Alice In Borderland” que finalizou sua ótima segunda temporada no final de 2022, mostrando que é possível ter adaptações decentes que não pareçam um cosplay ambulante, ou algo totalmente descaracterizado, mas ainda falta este equilíbrio para muitos filmes e seriados.

Estou descrevendo tudo isso para falar da adaptação de anime mais aguardada do ano, “One Piece – A Série” (One Piece, 2023), produzida pela Tomorrow Studios (Cowboy Bebop) em parceria com a Netflix,  baseado no mangá de sucesso de Eiichiro Oda criado em 1997 e que já vendeu mais de 500 milhões de cópias no mundo todo se tornando o maior de todos tempos, vem com missão de não só quebrar a tal “maldição”, mas também para tentar finalmente consolidar um anime popular e torna-lo acessível a todos os públicos.

Fonte: Netflix

Após assistir aos oito episódios que compõe a primeira temporada da série, é possível dizer que os showrunners Steve Maeda (Lost) e Matt Owens (Luke Cage e Agents of SHIELD) foram bem sucedidos na transição do material original, para o formato em “live action”, muito porque Oda fez questão de ser a voz de “Deus” nas decisões finais para trazer o melhor de seus materiais para assim compor os diversos aspectos da série.

Existe aqui três pontos chaves que fazem “One Piece” um seriado que vale a pena o investimento, a primeira é o roteiro, que apesar de cobrir apenas 8,7% do mangá, basicamente 95 capítulos de uma saga que já tem mais de 1100 capítulos, consegue focar em pontos chaves do desenvolvimento dos personagens, reforçando e linkando arcos de forma equilibrada através de flashbacks, conseguindo intercalar bons momentos de humor, com boas sequências de ação, além de uma carga dramática bem dosada.

É em “Romance Dawn” (1×01) dirigido por Marc Jobst (Demolidor) que não só ganhamos um cartão de visita robusto, mas também a introdução de vários personagens estranhos, uma mitologia que desperta curiosidade, intercalada com momentos de pura galhofa, uma produção grandiosa com uma fotografia solar, edição esperta, direção comprometida, vestimentas espalhafatosas e bons diálogos num ritmo frenético, que as vezes resulta na perda de desenvolvimento de alguns personagens secundários, mas é suficiente para captar atenção do público não só que leu os mangás e assistiu ao anime, como também para pessoas não familiarizada com este universo.

Fonte: Netflix

Através de um pontapé inicial tão positivo, a série ainda nos guarda outros dois pontos que fazem esta adaptação funcionar tão bem, uma é o respeito e fidelidade a tudo que Oda criou, talvez a mão do criador tenha feito total diferença para uma produção que custou altos US$ 150 milhões, quase 18 milhões de dólares por episódio, abraçar seu lado fantástico de uma forma bastante crível, com monstros, maquiagens e frutas demoníacas que dão super poderes as pessoas comuns, que não causam estranheza, mas claramente consegue equilibrar seu lado galhofa com seu lado mais “realista”, por assim dizer, como fica claro nos episódios “The Man In The Straw Hat” (1×02) e “Tell No Tales” (1×03), ambos ainda melhores que o piloto.

E muito disso se deve ao outro ponto que citei, a escolha do elenco, o quinteto protagonista é simplesmente um acerto, além de suas contrapartes mirins que se destacam nos flashbacks. É impressionante como a escolha de Iñaki Godoy (excelente) no papel de Luffy, Emily Rudd (muito boa) no papel de Nami, Jacob Romero (muito bom) no papel de Usopp, Mackenyu (na medida) no papel de Roronoa Zoro e Taz Skylar (ótimo) no papel de Sanji funcionam tanto separados, quanto em conjunto, numa química que ajuda a costurar todos os arcos e se tornar o coração do seriado criando uma conexão direta com o público.

O elenco coadjuvante é também outro achado, a começar por Jeff Ward (Agents of SHIELD) no papel do vilão Buggy, engraçado e linguarudo, o personagem é simplesmente um achado, outros que se destacam são: Vicent Regan (300) no papel de Garp, Craig Fairbras no papel do Chefe Zeff, Steven John Ward (Queen Sono) no papel de Mihawk (aliás, melhor introdução de um personagem no seriado, diga-se de passagem), no elenco mirim temos Colton Osorio (Cha Cha Real Smooth) se destacando como jovem Luffy, assim como Christian Convery (Sweet Tooth) no papel do jovem Sanji.

Fonte: Netflix

De todos esses, Morgan Davies (Evil Dead Rise) no papel de Koby, é o grande destaque fora do elenco principal, inclusive seu arco em paralelo com o de Luffy é o mais interessante de acompanhar e sem falar que o ator está muito bem, conseguindo passar verdade nas suas falas e expressões. É com essa base sólida que “One Piece” vai se consolidando episódio após episódio numa crescente linear que consegue estruturar bem seus arcos com ganchos bem inseridos e aquela sensação que faz você não querer parar de assistir.

É claro que a série ainda sofre com algumas irregularidades e momentos mais extensos carecendo de mais desenvolvimento para determinados personagens, como por exemplo o vilão principal Arlong (McKinley Belcher III), que poderia ter sido mais aprofundado em termos de história, assim como seus seguidores os homens peixes, mas ainda assim consegue ser um vilão intimidador, que se torna um grande desafio para o bando do chapéu de palha durante boa parte da segunda metade da temporada.

A série tem mais pontos positivos que negativos, é claro que em resumo, “One Piece” cheira a muito potencial, principalmente por conseguir ter uma trama consistente e bastante fiel, com episódios excelentes como “Eat at Baratie!” (1×05) e “The Girl With the Sawfish Tatoo” (1×07), a série consegue reproduzir momentos chaves do anime de forma primorosa e muitas vezes até melhor, numa evolução muito bem vinda na transição para o formato serializado.

A produção é outro ponto que merece destaque, o seriado foi gravado em boa parte na África do Sul, usando locações reais belíssima e vários efeitos práticos em termos de maquiagem, tornando o mundo criado por Oda algo extraordinariamente interessante de acompanhar. A trilha sonora é outro grande destaque, graças a parceria vencedora de Sonya Belousova e Giona Ostinelli, temos uma vibe que mistura o estilo de “One Piece” e “Piratas do Caribe” trazendo aquele senso de liberdade e aventura, a trilha dos chapéus de palha (abaixo) é simplesmente incrível.

Os efeitos visuais estão bons, para quem achou que seria estranho ver os efeitos do Luffy, acredito que tudo funciona muito bem, aliás, ficou até melhor que os efeitos de Kamala Khan e do Senhor Fantástico, exemplos aí que mostram que é possível fazer efeitos que esticam decentes. As sequências de ação, por mais que em alguns momentos pareçam coreografadas até demais, muitas delas são boas e empolgantes de assistir, destaque para a duplinha Zoro e Sanji lutando juntos, é uma coisa maravilhosa vê-los descendo a porrada em geral.

O mais legal da jornada deste seriado, é ver todos os elementos se juntando aos poucos de forma organicamente bem feita, com arcos com começo, meio e fim que ajudam a engrandecer a história com reviravoltas que chegam no momento certo, como podemos ver nos episódios “The Pirates are Coming” (1×04) e “The Chef and the Chore Boy” (1×06).

De uma forma geral, “One Piece” conseguiu fazer uma ótima primeira temporada conseguindo capturar todos elementos já vistos no mangá e no anime, tudo feito da forma mais respeitosa possível, fazendo o mundo fantástico de Oda funcionar em “Live action” mostrando um grande potencial que pode se tornar um dos maiores sucessos da Netflix deste e dos próximos anos. Com um elenco excelente enfatizando um grande destaque para Iñaki Godoy, um garoto que é puro carisma, numa atuação tão bem feita que parece que o Luffy foi feito baseado em sua personalidade vibrante.

Fonte: Netflix

É claro que a série tem algumas ressalvas que podem ser melhoradas e provavelmente irão, mas se o elenco e os produtores seguirem por esse caminho, estaremos diante de uma das melhores adaptações de todos os tempos. Por tudo que foi comentado, podemos perceber que o seriado entrega o que promete, uma aventura que entretém que é galhofa e coração, cheio de bons personagens em episódios que parecem voar de tão bons que são. Quando final de temporada “Worst in the East” (1×08) se apresentar, deixará o expectador com a sensação e um gostinho de quero mais, mostrando que quando o seriado é feito com dedicação, não existe uma “maldição” a ser quebrada e sim um produto com qualidade a ser apreciado.


Personagem: Usopp
Ator: Jacob Romero
Idade: 27 anos

O destaque da coluna elo preto vai para Jacob Romero no papel de Usopp, o ator jamaicano caiu como uma luva no papel do pirata mais medroso de “East Blue”, mas cheio de carisma e um grande coração, caiu como uma luva para Romero que conseguiu se encaixar bem num elenco que tem uma química espetacular. Jacob que tem 27 anos, já participou de seriados como “Grey’s Anatomy” e “Greenleaf”, mas é em “One Piece” que o ator conseguiu seu maior destaque na carreira até o momento, um ator negro da nova geração para ficarmos de olho. 

Gostou? Veja o trailer e comente abaixo sobre o que achou da primeira temporada de “One Piece”.

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