Potencial desperdiçado! A série protagonizada por Samuel L. Jackson começa com muito potencial, uma atmosfera cinza, um grande elenco, porém entrega um resultado completamente abaixo do esperado.

Quando o Universo Cinematográfico da Marvel (UCM ou MCU) foi criado, o que mais se destacava eram duas qualidades, objetividade e planejamento. Após três fases e um final apoteótico com “Vingadores: Ultimato”, a fase 4 tomou forma abrindo também um novo formato para o universo “live action”, os seriados. Entre altos e baixos, a Marvel conseguia expandir sua mitologia trazendo novos personagens e a oportunidade de aprofundar em mais histórias e aproveitar melhor super-heróis já conhecidos.
Se com “WandaVision”, “Loki”, “Hawkeye” e “Falcão e o Soldado Invernal” a Marvel entregava familiaridade e entretenimento dentro da zona de conforto, foi com “Cavaleiro da Lua”, “Miss Marvel”, “Werewolf By Night” e “She-Hulk” que a empresa mostrava que estava disposta a trazer novidades nos enchendo com um senso de curiosidade e diversidade. Infelizmente nem todas as séries neste formato entregaram tudo aquilo que prometiam e isso também evidenciou outro grande problema, o desperdício de potencial em relação ao formato investido.
E isto continua na nova série do Disney Plus, a primeira da fase 5, “Invasão Secreta” (Marvel’s Secret Invasion, 2023), pegando emprestado o nome do famoso arco dos quadrinhos de 2008, aqui temos uma versão diferente, mais focada em Nick Fury (Samuel L. Jackson) que após um tempo no espaço, retorna a Terra ao descobrir uma conspiração Skrull que tenta dominar o mundo se disfarçando entre os humanos num plano de dominação global.

A minissérie criada por Kyle Bradstreet (Mr Robot) tenta uma pegada mais sombria, menos divertida e mais séria, mostrando a que veio já no primeiro episódio “Ressureição” (1×01), conseguindo capturar a atmosfera de “Capitão América: O Soldado Infernal” e “Capitão América: Guerra Civil” trazendo um pouco de paranoia, tensão e expectativas altas ao colocar nos primeiros minutos uma perseguição envolvendo o agente Everett Ross (Martin Freeman) que culmina numa revelação chocante.
O episódio não para por ai, temos o retorno de Nick Fury a Terra e sua reunião com Maria Hill (Colbie Smulder) e Talos (Bem Mendelson), além de revelar o plano do líder dos Skrulls, Gravik (Kingsley Bem-Adir), que lidera uma comunidade alienígena escondida em terras russas. O primeiro episódio possui uma cadência palpável, sem pressa para acontecer e termina de uma forma simplesmente explosiva com um desfecho no mínimo marcante.
É desta forma que “Invasão Secreta” cresce e mostra potencial, o roteiro parece saber exatamente o que quer, ao trazer um arco sólido que funciona como sequência direta do filme “Capitã Marvel”, não só preenchendo lacunas, mas desenvolvendo melhor os Skrull como raça abastada e sem planeta após décadas de guerra contra os Kree. Em termos de mitologia, não temos do que reclamar, tudo isto se acentua em “Promessas” (1×02) e “Traído” (1×03), o primeiro que traz um episódio mais robusto, marcado por ótimos diálogos e a participação do Coronel Rhodey (Don Cheadle) e a introdução da perigosa Sonya Falsworth (Olivia Colman), enquanto o episódio seguinte consegue acentuar a ameaça das facções radicais Skrulls.

Talvez uma das maiores qualidades desta minissérie, seja a forma como consegue desenvolver Nick Fury como personagem, os efeitos da mudança de ação após os eventos do blip em “Ultimato”, bem como os flashbacks no passado que preenchem as pontas soltas que ficaram em aberto em “Capitã Marvel” até chegar nos eventos do primeiro dos “Vingadores”, mostrando os refugiados Skrulls acreditando na promessa de Fury e Carol Danvers de achar um lar para raça alienígena, além do romance entre Nick e Priscilla (Charlayne Woodard), mostrando um lado mais humano do personagem, é nestes momentos que Samuel L. Jackson (Vingadores: Ultimato) se mostra à vontade e seguro num papel que domina a anos, desta vez aprofundado por traumas e culpa, tomando como missão revelar todos os Skrulls infiltrados, além de deter Gravik que se torna uma ameaça crescente e imprevisível.
A minissérie foi moldada como evento, na verdade desde que Kevin Feige anunciou a série, a promessa de um mini arco emulando eventos menores e impactantes das HQs soava como algo que poderia dar fôlego para as séries e filmes do MCU, porém ao chegar na metade de “Invasão Secreta”, nota-se uma displicência da escrita em não evoluir ou se aprimorar, mas permanecer na zona de conforto apenas entregando ação e ganchos sem impacto esperando que o expectador repercutir o mínimo de migalhas entregadas.
Veja bem, não é que a série não tenha novidades e revelações interessantes, é claro que tem, inclusive uma delas em relação a um dos vingadores que aparece na série, surpreende bastante, mas é pouco. A minissérie se vende como um grande evento que vai repercutir no futuro da fase 5, mas tem dificuldade em entregar algo grandioso que tenha peso e significância, sem falar que nunca enxergamos a narrativa como algo serializado, mas como um filme longo cortado em partes, mesmo problema inclusive de “Falcão e o Soldado Invernal”.

A direção de Alim Selim (Condor) apesar de entregar ótimos momentos, como no melhor episódio da temporada “Amado” (1×04), que tem um final eletrizante com um escopo de ação que finalmente entrega aquilo que se espera do seriado terminando com uma morte bastante triste para aqueles que acompanham com afinco o MCU, peca por ser operante demais, não tendo uma personalidade própria, funcionado dentro das expectativas não surpreendendo nem mesmo o expectador menos exigente, o famoso mais do mesmo.
E olhando desta forma, “Invasão Secreta” por várias vezes parece preguiçosa, não só por claramente se segurar, mas por não conseguir temperar um caldo que tinha todo potencial para ser a versão “Andor” do MCU. Infelizmente a série se apoia em referências, mas falta uma vontade de ser marcante, talvez seja um defeito latente de todas as séries da Marvel, com algumas poucas exceções.
Felizmente, no quesito elenco coadjuvante, fomos agraciados com um muito bom, Ben Mendelson (Rogue One: Uma História Star Wars) retornando como Talos é sempre ótimo, principalmente quando divide a tela com Samuel L. Jackson, que aliás, tem um imã de bons diálogos e conversas com todas as pessoas que encontra, o que nos leva a Olivia Colman (O Pai) que é de longe a melhor personagem da minissérie, mostrando toda a versatilidade da atriz ganhadora do Oscar, com quem Jackson tem ótimos diálogos quando divide a tela.

Outro destaque foi Emilia Clarke (Game of Thrones), no papel da filha de Talos, Gi’ah, a personagem mostra um potencial absurdo, principalmente depois que assistimos ao último episódio da minissérie. Don Cheadle (Vingadores Ultimato) retornando como Rhodey mostra que o ator está cada vez melhor e seu personagem tem uma revelação que terá uma grande repercussão no futuro. Talvez o maior desperdício aqui seja Kingsley Ben-Adir (Uma Noite Em Miami) no papel de Gravik, tinha tudo para ser um grande vilão, inclusive na primeira metade da breve temporada, o ator entrega um papel intimidador e cruel, sendo capaz de matar dois personagens importantes, mas nos dois últimos episódios, o vilão simplesmente não empolga, mesmo sendo visualmente bacana ao se tornar um super-Skrull.
Tecnicamente, a série me agradou, a abertura feita por uma inteligência artificial não me incomodou, acredito que casa bem com o clima de conspiração e paranoia que a série tenta imprimir na sua narrativa. A trilha sonora é um ponto positivo, muito boa e traz um senso de ameaça e um clima neo-noir meio guerra fria, simplesmente um deleite. Em termos de efeitos visuais, em sua maioria está decente, mas a série que possui um orçamento de US$ 200 milhões de dólares, não parece custar tanto, sendo um gasto bastante alto para uma série de apenas seis episódios.
No geral, “Invasão Secreta” é uma minissérie ok, não chega a ser ruim, ou simplesmente boa, mas claramente traz um ar de decepção, daqueles que você sente em tela, principalmente assistindo o episódio “Colheita” (1×05), porque nunca vemos a narrativa abraçar o formato de série, desenvolvendo seus personagens até certo ponto, faltando ganchos melhores, além de mais sutileza para brincar com a temática dos Skrulls infiltrados, bem como um senso de progressão mais evidente e não a conta gotas.

Ainda que tenha um crescimento bem-vindo para Nick Fury, com Samuel L. Jackson ganhando um foco merecido de um personagem que sempre trouxe presença e personalidade nos bastidores do MCU, o episódio final “Casa” (1×06), evidencia aquilo que falta nas séries da Marvel, a vontade de marcar, aqui temos uma narrativa que se fecha, mas não empolga, mesmo com cenas grandiosas e lutas que fazem jus ao orçamento pomposo, ficando a impressão de que “Invasão Secreta” é apenas um meio para um fim que será no longa “As Marvels” que estreia em novembro, faltou um pouco mais de ambição a esta série conspiratória (e mais episódios), que troca a tensão inicial, pela extravaganza visual e desperdiça uma boa oportunidade de se tornar uma grande minissérie.
Gostou? Diga o que achou da minissérie e assista ao trailer abaixo.


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