“Homens Brancos Não Sabem Enterrar (2023)” – Crítica

Na onda de mais um remake, esta comédia produzida por Kenya Barris tenta repetir o sucesso do original de 1992, mas sem o mesmo charme e carisma em um produto que falta personalidade.

Fonte: 20th Century Studios

Um dos maiores problemas de Hollywood é a forma como a indústria norte americana recicla filmes de tempos em tempos. A onda dos chamados remakes e reboot tomou conta dos estúdios trazendo um precedente que as vezes funciona como é o caso de “King Kong” (2005) e do recente “A Pequena Sereia” que acaba sendo algo até melhor que o original, e outros que acabam sendo inferiores a suas versões anteriores como é o caso do longa “Vingador do Futuro” e “A Múmia” de 2017 protagonizado por Tom Cruise.

Infelizmente o remake de “Homens Brancos Não Sabem Enterrar” (White Can’t Jump, 2023) produzido pela 20th Century Studios e que estreou no Star Plus no mês passado, se encaixa na segunda categoria, mesmo que se esforce para trazer algo diferente da sua versão original. O longa dirigido por Calmatic (Uma Festa de Arromba) usa a mesma premissa, conta a história de dois trambiqueiros que resolvem dar golpe em desafios de basquete para levantar uma grana e poderem realizar seus respectivos sonhos.

Ainda que o roteiro escrito por Kenya Barris (Certas Pessoas) e Doug Hall (As Vantagens de Ser Invisível) se baseiem nas ideias originais de Ron Shelton (Homens Brancos Não Sabem Enterrar – 1992), existe mudanças pontuais aqui que acabam por tirar o charme do que fez o filme dos anos 90 um sucesso inesperado e ajudou a catapultar as carreiras de Wesley Snipes e Woody Harrelson.

Fonte: 20th Century Studios

A trama conta a história de Kamal (Sinqua Walls), ex-jogador profissional de basquete depois de um começo promissor e uma queda rápida, se vê dez anos depois trabalhando em um emprego comum, tentando pagar as contas e cuidar da esposa Imani (Teyana Taylor) e do filho pequeno, além de dar apoio ao pai Benji (o falecido Lance Reddick). É nesta situação que seu caminho se cruza com otimista Jeremy (Jack Harlow), aspirante a atleta que tenta ser um jogador profissional de basquete, mesmo que chegue apenas nas categorias abaixo da NBA.

Só aqui já difere bastante do estilo mais aleatório e simples do longa original, e também sem um senso de malandragem que era basicamente o cerne da trama anterior. O problema é que o roteiro tenta sair um pouco do campo da cópia dando um arco dramático para Kamal e um arco mais leve para Jeremy, algo que a versão de 92 sabia equilibrar melhor com sua dupla e aqui não soa tão harmônica.

Toda a atmosfera solar e mais estilosa de como o gueto é capturado no filme anterior, a versão de 2023 peca por trazer algo mais envernizado sem um estilo próprio, sem falar que toda a trama da dupla de jogadores serem trambiqueiros, não convence nem um pouco. Existe dois problemas principais que faz o filme não funcionar, o primeiro é a direção, que apesar de filmar um terceiro ato mais interessante, não consegue trazer uma identidade marcante nas cenas de disputa de basquete, que seria o grande chamariz do filme.

O segundo problema é a falta de química entre o ator Sinqua Walls (Fugindo do Amor) e o rapper Jack Harlow, estreando como ator. Ainda que Harlow se esforce sendo o cara branco carismático e de bom coração, sua parceria com Walls que se apresenta como o cara negro em busca de acabar com traumas do passado, nunca decola 100%, principalmente porque os diálogos entre eles que trazem muitas tiração de sarro envolvendo citações racistas que ao meu ver não soam engraçadas, mas antiquadas, claramente é algo que lembra o estilo do Kenya Barris de fazer comédia, que acertou no começo do ano com o filme protagonizado por Eddie Murphy e Jonah Hill, mas erra feio aqui ao não conseguir sair dos estereótipos e conseguir trazer humor mais efetivo.

Outro ponto é que o relacionamento de Woody Harrelson e Rosie Perez era um dos pontos fortes de “Homens Brancos Não Sabem Enterrar”, porém nesta versão Jack Harlow e a bela Laura Harrier (Homem Aranha De Volta Prá Casa) são mal desenvolvidos e não tem a mesma sensualidade do casal original. Muito disso se dá porque o filme realmente não tem muita personalidade, que vai desde a fotografia padrão, passando pelo humor basicão e terminando na direção simplória.

A verdade é que a única coisa realmente positiva é a trilha sonora, que traz muitos sucessos do hip hop e do pop moderno intercalados com algumas músicas de hip hop e rap mais clássicas, o que deixa o filme contemporâneo. Ainda assim nota-se que faltou um esforço por parte da produção como um todo levar a trama um pouco menos a sério, pois ao adicionar uma dose a mais de drama, o final soa gratuito e bastante clichê.

Fonte: 20th Century Studios

No geral, “Homens Brancos Não Sabem Enterrar” de 2023 não chega a ser um filme ruim, mas é mediano em sua essência e poucas vezes funciona, conseguindo chegar ao nível de passatempo sessão da tarde que deve funcionar se você não tiver nada para assistir, mas longe de ser lembrado ou marcado como sua versão original. Por mais que haja uma modernização da trama, faltou mais personalidade da direção para criar algo que converse com a geração atual e consiga subverter os estereótipos raciais como foi feito na versão dos anos 90. A relação interracial entre a dupla principal fica muito a desejar o que é uma pena, porque esta versão tinha potencial para entregar algo mais decente e preferiu um lugar comum do descartável e esquecível.

Gostou? Veja o trailer abaixo e diga o que achou do filme nos comentários.

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