“Fugindo do Amor” – Crítica

Ainda que se apoie em uma trama batida, esta comédia romântica consegue trazer maturidade e sentimento poucas vezes vista no gênero atualmente.

Fonte: Netflix

Não a nada mais clichê e gostoso de assistir do que uma boa comédia romântica, um gênero que vira e mexe tem um exemplar sendo lançado servindo de passatempo ideal para assistir junto ou sozinho, tendo como garantia romances água com açúcar e boas doses de humor, normalmente não inovando muito, mas entregando o feijão com arroz bem feito. Estou dizendo tudo isso para falar da nova comédia romântica da Netflix, “Fugindo do Amor” (“Resort To Love”, 2021), que consegue juntar todos esses elementos e por incrível que pareça, entregar algo mais do que se espera.

A trama não tem nada de muito novo, conta a história de Erica Wilson (Christina Milian), aspirante a cantora que passou por um recente rompimento depois de terminar o noivado com Jason King (Jay Pharoah), seguindo os conselhos da amiga Amber (Tymberlee Hill) e após ficar desempregada, resolve se isolar indo trabalhar como cantora de bandas de casamento num resort nas paradisíacas Ilhas Maurício para esquecer os problemas e ter um recomeço, mas tudo vira de cabeça prá baixo quando seu ex-noivo vai parar no mesmo hotel em que ela trabalha para (acredite se quiser) casar com sua nova noiva Beverly Strattford (Christiani Pitts).

É claro que a premissa não parece muito tentadora, porque já vimos muito disso em vários outros filmes do gênero, mas a ideia aqui é encarar o filme como algo descompromissado, mas que no final das contas acaba por oferecer algo que as vezes sentimos falta no gênero, um texto maduro tratando de questões sobre relacionamento e amor próprio de uma forma bastante sincera e franca.

Fonte: Netflix

O roteiro escrito a duas mãos por Tabi McCartney e Dana Schmalenberg (Uncle Drew) estabelece bem o triângulo amoroso com Erica, Jason e o irmão mais velho do rapaz, o militar marombado Caleb King (Sinqua Walls) e através desse emaranhado começa a tecer as dúvidas e receios da protagonista, que se vê numa incógnita entre abraçar uma nova paixão, ou reviver um velho amor, depois que percebe que ainda possui sentimentos pelo ex.

A primeira metade da narrativa é muito calcada no humor, as vezes raso, as vezes charmoso, mas que na maior parte do tempo funciona, pois Erica se mete em muita confusão a cada nova mentira que conta e o longa vai criando essa teia de relações deixando claro para o expectador que em algum momento as coisas vão acabar numa bela lavação de roupa suja. A direção de Steven K. Tsuchida (Cobra Kai) é oscilante no começo parecendo apressada querendo puxar Erica logo para o paraíso tropical onde a história se passa na maior parte do tempo, mas o bom é que o longa é mais consistente nesses momentos, então esse ponto fraco ainda é perdoável.

Outro ponto interessante de “Fugindo do Amor” é que o filme tem um lado bastante musical, produzido pela cantora Alicia Keys (seu maior sucesso “No One” é o tema principal da trama), a trilha sonora pop é compatível com as belas paisagens das Ilhas Maurício, ainda mais que a direção aproveita o lado cantora na vida real de Christina Milian (Amor de Aluguel) e a coloca para soltar a bela voz e cantar várias músicas em performances maravilhosas, lembrando seus melhores momentos na carreira nos anos 2000, se você era adolescente nesse período, provavelmente ouviu falar de Milian no cenário pop internacional.

Fonte: Netflix

A atriz cantora é um dos pontos altos do filme, Milian tem carisma e sua personagem é bem escrita, você consegue comprar as dúvidas dela em relação a seu ex, e você consegue ao mesmo tempo torcer para que ela encontre um novo amor nos braços do irmão dele. A verdade é que o longa é feliz em mostrar que a personagem não depende dos dois relacionamentos para se sentir realizada, sendo seu amor a música seu lado mais empoderado mostrando que a ela está em muito momentos no controle da própria vida.

A segunda metade do filme envereda por um lado mais romântico e dramático, o interessante que isso costuma acontecer com mais frequência em comédias românticas protagonizadas por pessoas negras, sendo que na maioria delas o uso de clichê é mais evidente, neste ainda há um esforço nos diálogos que soam maduros e cheios de coerência mostrando que relacionamentos são complexos e não devem ser tratados de forma superficial, pois envolvem muitos sentimentos conflitantes.

Em termos técnicos, vale o destaque para a fotografia do longa que aproveita as belíssimas paisagens das Ilhas Maurício, com imagens de tirar o fôlego num mar vasto onde situa-se esse oásis cheio de cor, vida e natureza. Em relação ao elenco, além de Milian vale o destaque Sinqua Walls (15h17: Trem Para Paris) no papel de Caleb, o ator tem beleza, charme e tanta química com a protagonista que fica fácil torcer para o casal ter um final feliz. Jay Pharoah (Policial em Apuros) tem um tom meio cômico no papel de Jason que ajuda o público a gostar do personagem, mas a química dele com Milian é apenas razoável.

Fonte: Netflix

O último destaque vai para Christiani Pitts (Vovó Zona 3: Tal Pai, Tal Filho) no papel da noiva de Jason, Beverly, mais porque a personagem serve de boa contraparte para a personagem de Milian, aqui é interessante como o roteiro mostra essas duas mulheres que querem coisas diferentes, mas sem perder as rédeas da própria vida ou independência por conta dos homens que elas mantém relação, neste contexto acho bacana que a comédia tenta mostrar os benefícios de uma vida independente e de uma vida mais tradicional com casamento e filhos, sem tirar os méritos de uma em detrimento da outra.

É por conta desses momentos que “Fugindo do Amor” é uma grata surpresa em termos de comédia romântica, não só por ser boa de assistir, mas por apresentar um texto que não é tão superficial, mas que acaba tratando temas como fim de relacionamento, independência feminina, realização do desejo matrimonial de uma forma leve, madura e que no final das contas é bem satisfatória como entretenimento. Desta forma não há como não exaltar esta obra protagonizada por Christina Milian, que tem humor, confusões, romance e bons diálogos num filme que senão inova, ao menos te deixa com sorriso no rosto do começo ao fim, uma boa pedida para uma diversão de final de semana.

Gostou? Veja o trailer abaixo. Se já assistiu ao filme, comente e diga o que achou nos comentários.

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