“Enxame” – Minissérie – Crítica

A nova série da Amazon Prime é cercada de polêmicas, críticas e alfinetadas na geração atual mostrando uma visão que mistura terror psicológico e drama de forma contar a história de uma fã obcecada por sua cantora favorita.

“Esse texto não é uma ficção. Qualquer menção a pessoas reais sendo ela artistas ou pessoas mortas é deliberadamente proposital”.

Fonte: Amazon Prime

Se você leu a frase a cima e achou que se parece com a minissérie da Amazon Prime “Enxame” (Swarm, 2023), você está absolutamente certo, porém trocadilhos a parte, a trama que conta a história da jovem Dre (Dominique Fishback), uma garota super fã de uma cantora pop que acaba levando a mesma a uma obsessão que sai do controle e acaba por impactar sua vida a direcionando por um caminho sombrio e perigoso nos traz uma importante alerta sobre como fãs acabam confundindo a vida de celebridades com a sua própria se tornando um relacionamento não muito saudável.

A minissérie criada por Janine Nabers (Atlanta) e Donald Glover (Atlanta) é uma jornada insana que que demora um pouco a engatar e as vezes acaba sendo estranha demais à primeira vista até mesmo para quem está acostumado a tramas semelhantes no formato, mas à medida que vai progredindo se torna algo mais profundo e intenso numa verdadeira montanha russa de choque e emoção. A narrativa é um drama que evolui rapidamente para um thriller de terror a partir do seu piloto “Stung” (1×01), onde podemos ver a relação de irmandade de Dre e sua irmã e melhor amiga Marissa (Chloe Bailey) que são fãs da cantora Ni’jah (Nirine S. Brown), mas tudo isso acaba se tornando algo tóxico que leva a uma tragédia durante o episódio.

Sem dar muitos spoilers, esse evento acaba por definir a vida de Dre servindo como gatilho para desencadear em uma mente já perturbada que come, vive e existe apenas para ser parte do clã das abelhas, “Beehive”, como são chamadas as fãs de Ni’jah, tomando as dores de cada ataque de pessoas que não são fãs ou odeiam a cantora. Qualquer coincidência com a cantora Beyoncé na vida real não é mera coincidência, na verdade a narrativa deixa isso bem claro e aproveita para aprofundar o debate sobre até quando essa obsessão dos fãs pode ser saudável ou vira algo tóxico e absurdo, isso serve para a maioria dos artistas internacionais atuais.

Fonte: Amazon Prime

É claro que o roteiro exagera em termos dramáticos para contar uma história que só vai ficando mais intensa e escatológica a cada novo episódio como podemos ver em “Honey” (1×02) e “Taste” (1×03), onde vemos Dre se transformar numa assassina em série levada pelas circunstâncias e potencializada pela sua eterna obsessão mental de encontrar Ni’jah pessoalmente e conectar com ela se tornando mais do que uma fã especial dentro da Comeia de seguidores fiéis.

Confesso que a série demorou a acontecer prá mim, o tom mais sóbrio, a violência gráfica e as reviravoltas no arco dos episódios iniciais são difíceis de aceitar e gerar empolgação quando tudo que você sente é choque e revolta. Talvez a intenção de Janine e Donald seja exatamente essa, criar a sensação de insanidade que é difícil de acreditar que aconteceria na vida real.

Acontece que quando se entende a intenção de “Enxame” a narrativa cresce, principalmente quando percebemos que no mundo da internet e rede sociais criou um ambiente tóxico e de torcida que tornam fãs predadores ferozes que precisam proteger seus artistas de todo mal gerando uma rede que muitas vezes é raivosa o suficiente para criar pessoas que pensam que estão realmente vivendo e partilhando a mesma vida do artista que seguem e acompanham a vida diariamente, a minissérie consegue trazer essa sensação toda vez que Dre comete alguma atrocidade.

Fonte: Amazon Prime

E a série não para por ai, a forma como a construção narrativa segue mostrando o quão longe a protagonista chega deixando um rastro de sangue sem nunca ser percebida por ninguém, mostra que muitas tragédias poderiam evitadas se simplesmente prestássemos atenção a nossa volta. É desta forma que narrativa te pega e também principalmente por conta da atuação fantástica de Dominique Fishback (Judas e o Messias Negro), essa atriz que começou protagonizando o filme da Netflix “Power” com Jamie Foxx roubando a cena na ocasião, finalmente ganhou uma nova chance de mostrar seu talento agora melhor lapidado entregando uma personagem densa, caótica, com expressões assustadoras e capaz de ir ao limite da loucura para atingir seus objetivos, aqui Fishback brilha numa performance complexa.

Em termos de produção, “Enxame” é bem dirigida na maioria das vezes entregue de forma bastante consistente por Adamma Ebo (Atlanta), que dirige três episódios dos sete da minissérie. A fotografia, a trilha sonora e a ambientação é muito boa dentro do que a equipe responsável pela série “Atlanta” sabe entregar bem.

O mais legal aqui é que temos participações especiais das celebridades da música como a cantora Chloe Bailey (Growin-ish) que aparece no piloto, Paris Jackson (filha do ícone Michael Jackson) e a cantora Billie Eilish estreando como atriz no episódio “Running Scared” (1×04) que aliás, é onde Dre acaba encontrando de garotas brancas hippies que formam um estranho grupo que parece um culto, de longe um dos episódios mais interessante da série com um final chocante.

Fonte: Amazon Prime

É nesta vibe que “Enxame” carrega o expectador, que talvez não fique por conta do apreço de assistir a minissérie, mas pela curiosidade para saber onde a trama vai ser levada e quem poderá parar Dre. É nesta escalada que somos compensados com dois dos melhores episódios da temporada, em “Girl, Bye” (1×05) temos um dos arcos mais intensos até aquele momento quando Dre confronta seu passado com resultado não menos que caótico, mas é no brilhante episódio dirigido por Stephen Glover “Fallin’ Through the Cracks” (1×06) em formato de documentário (formato já utilizado na terceira temporada de “Atlanta”) que acompanhamos os passos de uma detetive que investiga casos semelhantes de uma serial killer que acaba não só costurando toda a temporada como também amarra todas as lacunas deixadas nos episódios anteriores.

A verdade é que estamos aqui diante de um excelente “true crime” capaz de chocar pela forma como é contado, que começa morno e termina de uma forma excelente mostrando como funciona uma mente assassina no correto episódio final “Only God Makes Happy Endings” (1×07). O fato é que “Enxame” talvez não agrade a todos, talvez seja muito para o estômago de muitos, mas é um estudo interessante sobre a relação fãs e artistas, e como isso pode escambar para algo destrutivo e pesado que pode gerar efeitos colaterais irreversíveis na vida de pessoas comuns.

No geral, a minissérie entrega um resultado ótimo catapultado por um roteiro bem desenvolvido calcado no suspense psicológico e por uma atuação excelente de Dominique Fishback, que vale cada segundo em tela, gerando também boas discussões sobre a obsessão e idolatria exagerada de fãs em relação a seus ídolos que no final das contas passa dos limites potencializado por uma internet que só amplia no pior dos casos uma relação tóxica e pouco saudável, nos deixando apenas com uma pergunta em mente, “Qual é o seu artista favorito?”

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