“Wendell & Wild” – Crítica

Dirigido por Henry Selick e produzido por Jordan Peele, esta animação é uma das boas surpresas do ano em termos de história, mas peca ao ter um ritmo cadenciado e as vezes confuso que torna o resultado um pouco abaixo do esperado, mas não menos interessante.

Fonte: Netflix

As animações stop motion são uma obra de arte, não só por exigir um trabalho detalhista e minimalista de seus criadores, como também criatividade e paciência para trazer um mundo a vida. Obras como: “O Estranho Mundo de Jack”, “Noiva-Cadáver”, “Paranorman”, “Fuga das Galinhas” e “Wallace & Gromitt”, são exemplos bem sucedido de um gênero que se recusa a morrer e que também sobrevive a modernidade devido a paixão de muitos cineastas a essa técnica cheia de complexidade e resultados impressionantes.

O diretor Henry Selick é uma dessas mentes criativas, que começou sua jornada de sucesso em 1993 com “O Estranho Mundo Jack”, que estranhamente muitos pensam que é dirigido por Tim Burton, que na verdade só produz a obra. Esta animação stop motion que virou clássico do Halloween, deu a Selick um status que só se consolidou no lançamento de outros sucessos como, “James e o Pêssego Gigante” de 1996 e na excelente adaptação do livro de Neil Gaiman, a sombria obra “Coraline”, lançada em 2009 numa excelente versão em 3D.

Após quase 13 anos sem realizar um trabalho, Selick retorna fazendo parceria com Jordan Peele (Não! Não Olhe!), um dos cineastas mais aclamados no momento. A dupla se juntou a um projeto da Netflix, a animação “Wendell & Wild”, baseado no livro (não publicado) de mesmo nome parceria entre Selick e o autor Clay McLeod Chapman que conta a história da jovem Kat Elliot (Lyric Ross), uma adolescente que se culpa pela perda dos pais, após cinco anos desde esta tragédia dois demônios Wendell (Keegan-Michael Key) e Wild (Jordan Peele) descobrem que ela é uma espécie de “donzela do inferno” e fazem uma promessa de ressuscitarem os pais da adolescente se ela conseguir tirá-los do inferno.

Fonte: Netflix

A trama parece meio sombria, mas é tratada de forma acessível para crianças de todas as idades, ainda que a trama tenha muita informação que pode causar confusão, não há nada que influencie de forma errada a cabeça dos pequeninos. O roteiro escrito por Jordan Peele e o próprio Henry Selick traz uma história cheia de vida, ternura, muitos personagens e vários arcos narrativos que acabam por enriquecer um universo que tem uma vibe que mistura punk rock no melhor estilo gótico possível.

O que você precisa saber sobre “Wendell & Wild” é que a animação stop motion não é obra que vai atrair a grande massa, mas pode sim se tornar uma narrativa que deverá ser mais apreciada depois de um tempo, não só por ter um contexto interessante de como trabalha um assunto delicado como o luto, mas também como se utiliza de elementos sobrenaturais para criar uma narrativa moderna cheia de personagens exóticos, além de conversar com a geração atual.

É bacana ver uma animação stop motion com uma protagonista negra para variar, aliás, diversidade é algo que o desenho consegue trazer em sua plenitude com personagens trans como o melhor amigo de Kat, Raúl (Sam Zelaya) que tem seu próprio arco na trama mostrando também que a narrativa engloba uma boa quantidade histórias que inicialmente parecem dispersas no primeiro ato, mas acabam se conectando aos poucos nos dois atos seguintes.

Fonte: Netflix

O maior ponto de interrogação de “Wendell & Wild”, talvez seja o fato de a animação não conseguir um bom ritmo para contar sua história, a narrativa possui diversas tramas e subtramas e uma grande quantidade de personagens que torna os arcos um tanto quanto truncados, exigindo do expectador uma atenção maior nos núcleos que se desenvolvem.

É claro que o roteiro ainda tem um cerne bem simplista na minha visão, mas a animação se eleva quando consegue focar no seu lado mais sentimental, onde a culpa da protagonista pela morte dos pais traz momentos tristes, porém muito bem conduzidos por Selick. O grande destaque aqui é a cena final quando a personagem aprende valiosas lições sobre aceitação e seguir em frente.

Levando em conta esses aspectos, a parte técnica ajuda muito na forma como abraçamos a trama, com uma fotografia colorida, que intercala tom vivos e vibrantes, além de um design de produção que realmente captura uma aura gótica em uma obra que respira arte não só por conta da riqueza detalhes de encher os olhos dos cenários, como o desenho em forma de caricatura dos personagens. A trilha sonora também é um grande destaque e ajuda a tornar a obra mais completa.

Fonte: Netflix

O elenco de vozes traz algumas estrelas para engrandecer a narrativa, como: Jordan Peele, Keegan-Michael Pey (Uma Invenção de Natal), Angela Bassett (Pantera Negra), James Hong (Os Aventureiros do Bairro Proibido), Ving Rhames (Missão Impossível Efeito Fallout), Natalie Martinez (Marcados Para Morrer), sem falar nas vozes jovem de Tamara Smart (Resident Evil: A Série), Sam Zelaya e a novata Lyric Ross (This Is Us), nossa protagonista.

De uma forma geral, “Wendell & Wild” é uma animação muito boa, ao usar a tecnologia stop motion, Henry Selick consegue dar um charme a uma trama que poderia ser pesada, mas que acaba sendo amenizada em vários aspectos e encanta pelo visual único, bem como seus peculiares personagens, se inspirando nos seus trabalhos anteriores. É claro que a narrativa as vezes parece lenta, mas aos poucos tudo se desenvolve conectando-se de forma até bastante clichê, porém bastante satisfatória. O retorno de Selick e a parceria com Peele já valem a curiosidade em relação ao longa, que tem suas ressalvas, mas ainda assim tem potencial para virar um futuro clássico.

Gostou? Veja o trailer e comente abaixo se já assistiu ao filme.

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