“Resident Evil: A Série” – 1° Temporada – Crítica

A nova série da Netflix que dá seguimento a franquia de games mais famosa de todos os tempos traz uma história repaginada para o canon, cheia de potencial, mas que no geral peca por não desenvolver suas protagonistas de forma satisfatória.

Spoilers Moderados Abaixo

Fonte: Netflix

Qual é a melhor forma de fazer uma adaptação? Essa é uma pergunta difícil e complicada de responder, até porque envolve muito fatores se tratando de adaptações de livros, games ou quadrinhos. É uma tarefa árdua para a pessoa que vai fazer essa transição de formato, porque precisa manter o espirito da obra original, trazer algo novo e ainda agradar a parcela mais radical e fervorosa dos fãs, que na maioria das vezes são ponto chave para determinar o sucesso e o fracasso dessa empreitada.

Em se tratando da franquia Resident Evil, tudo é ainda mais complexo, as adaptações nunca chegam num nível satisfatório ou do gosto dos fãs. A primeira adaptação para cinema foi da franquia que Milla Jovovich carregou nas costas por anos, um compilado de ideias que misturaram mais ação do que suspense, mas que foi bem lucrativa e gerou seis filmes, apesar de ser massacrado pela crítica especializada.

No ano passado, a franquia ganhou um reboot com “Resident Evil: Bem-Vindo a Raccoon City” com um elenco totalmente novo e com os personagens do jogo, porém as críticas ruins e o fracasso nas bilheterias, sepultou o começo de uma nova era antes mesmo de começar. E assim chegamos ao formato de série, depois da investida no cinema, a “Constantin Films” e a Netflix firmaram uma parceria para produzir “Residente Evil: A Série”, que trouxe uma premissa no mínimo curiosa para ser explorada.

Fonte: Netflix

A história do seriado gira em torno da família Wesker e se passa em duas linhas do tempo diferente, a primeira em 2022 segue a jovem Jade Wesker(Tamara Smart) e sua irmã “gêmea” Billie (Siena Agudong) que se mudam com pai Albert Wesker (Lance Reddick) para Nova Raccoon City, cidade recriada pela Umbrella Corporation para abrigar os funcionários da empresa e sua sede. A segunda linha do tempo se passa em 2036, com a versão adulta de Jade (Ella Balinska) tentando sobreviver depois que o mundo foi destruído pelo T-Vírus e só resta aos humanos tentar sobreviver e no caso dela, estudar o comportamento dos “Zeros”, nome dado aos zumbis contaminados com vírus.

O showrunner da série, Andrew Dabb (Supernatural) tenta dar fôlego a franquia “Resident Evil” trazendo novos personagens e fazendo um reboot que à primeira vista parece interessante no papel. O maior problema do seriado, é que os dois primeiros episódios entregam muito pouco criando uma desconfiança imediata em quem assiste, talvez por estabelecer esse universo e como vai funcionar a dinâmica das duas linhas dos tempos se passando simultaneamente, resulte em algo mais cadenciado e pouco inspirado.

Em “Bem Vindo a Nova Raccoon City” (1×01) temos um piloto que mostra possibilidades com Jade e Billie descobrindo os segredos do pai e iniciando uma trama cheia de mistérios e revelações típico das histórias ligadas a Umbrella Corporation. A segunda linha do tempo ao meu ver começa melhor, com Jade tentando estudar zumbis e sendo perseguida pela Umbrella num futuro cheio de criaturas bizarras e zumbis preste a evoluir.

Fonte: Netflix

O gancho do primeiro episódio empolga para assistir o seguinte, mas a trama adolescente de 2022 ainda causa bastante desconfiança. O episódio “O Diabo Que Você Conhece” (1×02) a série ainda tem dificuldades de se equilibrar, mas ganha ritmo ao trazer mais ação para seu contexto, principalmente no futuro, onde temos perseguições, lutas sangrentas e zumbis em profusão.

A série ganha mais consistência no episódio “A Luz” (1×03), é aqui que temos o vislumbre daquilo que o seriado pode ser, principalmente porque a trama de 2036 começa a carregar a história de uma forma mais satisfatória, vide toda sequência nos túneis com Jade, trazendo lickers, aranhas gigantes e outros perigos. Infelizmente o roteiro ainda perde tempo com picuinhas adolescentes no futuro de 2022, mesmo que a trama com Albert Wesker dentro da Umbrella prenda nossa atenção.

Talvez o maior desafio de “Resident Evil: A Série” seja conseguir deixar suas protagonistas mais interessantes aos olhos do público. Enquanto em 2022, vejo Jade Wesker como uma adolescente chata e sem um pingo de noção, é possível notar que a atriz Tamara Smart (Artemis Fowl: O Mundo Secreto) está bem acima do tom tornando a personagem antipática mais do que o normal para uma adolescente daquela idade.

Fonte: Netflix

No episódio “A Virada” (1×04), chegamos na metade da temporada com a história realmente se movimentando e com a vilã Evelyn Marcus (Paola Nuñez ótima) começando a se firmar como uma das boas surpresas da série, mostrando o lado ambicioso e sem escrúpulos da Umbrella Corporation. O mesmo podemos dizer de Albert Wesker que tem Lance Reddick (Fringe) fazendo o personagem e conseguindo elevar até mesmo o roteiro mais previsível que seja, destaque aqui vai para o ator no episódio “Vídeos Caseiros” (1×05), onde podemos ver suas várias facetas de atuação.

O mais difícil para “Resident Evil: A Série” é criar alguma relevância dentro de sua própria mitologia, sem se contaminar com a irregularidade que a série apresenta durante seu desenvolvimento. Enquanto o ritmo da série é um ponto positivo (raramente ela é enfadonha), pois tem um bom dinamismo e bons ganchos, as conveniências e resoluções continuam sendo um problema, pois tudo parece óbvio demais com alguns lampejos de boas ideias em reviravoltas na reta final.

Então a obra é ruim? Não, mas também não chegar a ser bom também, fica muito no meio termo e se suas expectativas são altas, é melhor abaixa-las se for conferir o seriado. É claro que a produção é caprichada, os cenários são grandiosos e alguns efeitos visuais são bem decentes, nota-se que um orçamento foi investido aqui, pena que as vezes a história peca no desenvolvimento, principalmente de alguns personagens.

Fonte: Netflix

O mais complicado é ver que a série criou protagonistas difíceis de aturar e gostar, ainda que goste da personagem de Ella Balinska (As Panteras) no papel da Jade adulta, a personagem toma decisões precipitadas fazendo a parecer egoísta demais. Por outro lado, isso torna esse tipo de personagem mais humano e menos invencível como os personagens de Alice, Leon, Claire e outros que pareciam invencíveis no mundo apocalíptico no cinema, nos filmes de animação e nos jogos.

Sem falar que a atriz Siena Agudong (Velozes e Furiosos 9) no papel de Billie é ainda mais sofrível, tomando decisões ridículas e absurdas, muitas delas criadas pelo próprio roteiro que insiste em colocar a personagem em situações totalmente inverosímeis. Outro ponto é que em 2036, Jade começa a se tornar um problema já que qualquer personagem que interage com ela tem um fim precoce servindo de escada para sobrevivência da mesma.

No geral, “Resident Evil: A Série” é um seriado ok, que apresenta protagonistas negros relevantes em histórias que não tinham muita representatividade racial (Ada Wong continua sendo um ponto fora da curva) dentro da franquia, mas agora ganham seu espaço nesse reboot que infelizmente tem muitas falhas, mas não chega a ser de todo ruim. Ainda que em episódios como “Parasita” (1×07) e no final da temporada “Revelações” (1×08) a série vire uma bagunça generalizada e caótica, ainda vejo potencial numa história que se melhor direcionada, pode render. A trama no geral prende, principalmente se você deixar seu lado fã de lado e abraçar o trash, isso vai te fazer curtir as referências sutis aos primeiros jogos e ainda perceber o potencial do seriado que tenta a todo custo dar um frescor e uma sobrevida a uma franquia que ainda não encontrou seu ponto de equilíbrio como adaptação.

Gostou? Veja o trailer. E se já conferiu os oito episódios comente logo abaixo.

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