Clickbait – Minissérie – Crítica

Apesar do nome chamativo, essa série não é uma cilada, na verdade esse thriller da Netflix é uma das experiências mais imprevisíveis que você vai ver este ano.

Fonte: Netflix

A internet pode ser uma mão de via dupla, por um lado consegue ser útil e facilitadora de diversas coisas tanto em caráter pessoal, quanto em caráter financeiro. Por outro lado, a internet mostra que a vida online pode ser um perigo e que estamos vulneráveis em vários aspectos e suscetíveis a pessoas de más índoles que normalmente vivem de dar golpes. Tudo isso está sendo citado para falarmos da nova minissérie da Netflix, “Clickbait”, um thriller de suspense que consegue mostrar o quão perigoso pode ser a internet principalmente nos tempos atuais.

O drama criado por Tony Ayres (Estado Zero) e Christian White (Relíquia Macabra) tem oito episódios e conta a história de Nick Brewer (Adrian Grenier), um cara de boa índole e aparentemente sem defeitos que é sequestrado e tem sua vida exposta online pelo sequestrador que ameaça mata-lo caso o número de visualizações de seu vídeo chegue a 5 milhões. A narrativa é interessante pelo fato de ser contada sempre pelo ponto de vista de um personagem que acaba virando protagonista do episódio, sendo assim o roteiro consegue dar várias versões da mesma história ao mesmo tempo que vai encaixando seu quebra cabeça fazendo a história andar ao longo da temporada.

A minissérie tem como foco a família Brewer e como o sequestro de Nick impacta seus entes queridos e sua vida aparentemente perfeita. Em “A Irmã” (1×01) temos um piloto que consegue atiçar nossa curiosidade já nos primeiros minutos, tendo Pia Brewer (Zoe Kazan) como foco da narrativa, sua discussão no jantar de família, passando pelo vídeo de seu irmão lançado na internet até chegar na repercussão da mídia e das pessoas na comunidade em que vive dão o tom que a série irá seguir.

Fonte: Netflix

A narrativa é uma escalada muito forte que mostra como notícias ruins e julgamentos tomam proporções imediatas assim que chegam ao acesso das pessoas. A corrida contra tempo de Pia e sua família para encontrarem Nick consegue deixar o primeiro episódio salpicado de muitas perguntas, poucas respostas e um gostinho de quero mais que é difícil não se empolgar assim que o gancho final se apresenta.

Nos episódios seguintes “O Detetive” (1×02) e “A Esposa” (1×03), continuamos a procurar motivações e respostas para saber se tudo que foi dito no vídeo de Nick era verdade ou não. O segundo episódio focado no detetive Roshan Amiri (Phoenix Raei) a história ganha um ar mais investigativo, mas sem perder o lado tecnológico usando de vários artifícios para mostrar as conversas entre os personagens e possíveis suspeitos em telas que mostram ao expectador que essas pessoas podem ou não ser confiáveis.

No terceiro episódio o roteiro aproveita para expor ainda mais os esqueletos no armário da família de Nick Brewer colocando em foco sua esposa Sophie (Betty Gabriel) e sua possível relação extraconjugal, fazendo as desconfianças e as repercussões sobre o desaparecimento do marido aumentarem desproporcionalmente. Gosto como “Clickbait” induz uma narrativa que funciona como um labirinto de fatos onde nada é certo e também mostra que notícias falsas não só atrapalham investigações, mas servem como base para destruir famílias e reputações.

Fonte: Netflix

A minissérie tem poucos respiros e em praticamente todos episódios temos uma reviravolta que deixa a narrativa ainda mais complexa onde somos levados por caminhos inesperados, essa imprevisibilidade deixa a história mais intrigante e difícil de largar. Em “A Amante” (1×04) e “O Repórter” (1×05) mostra que as aparências podem enganar, mas que a mídia também pode fazer de tudo para criar um grande show em cima dos acontecimentos, não importa quantas vidas sejam afetadas no processo.

A grande sacada de “Clickbait” talvez seja conseguir manter o expectador adivinhando em todos os episódios, o personagem de Nick é uma incógnita até quase nos últimos episódios mesmo que em alguns momentos nos pegamos o achando culpado e as vezes inocente, mas a verdade é que isso vai destruindo aos poucos a vida de seus filhos Ethan (Camaron Engels) e Kai (Jaylin Fletcher), além de sua mãe Andrea (Elizabeth Alexander) que tem que lidar com as acusações que caem sobre seu filho e sua nora.

A primeira metade da minissérie é bastante consistente e consegue desenvolver bem sua premissa, a segunda metade não é tão inspirada, mas continua sendo viciante ao começar a trazer respostas nos episódios “O Irmão” (1×06) e “O Filho” (1×07), onde podemos ver os poderes destrutivos que as redes sociais podem causar nas pessoas e onde meia informações podem causar até mesmo morte, ou podem se tornar armadilhas para capturar inocentes devido a tantas meias verdades.

Fonte: Netflix

O interessante é que “Clickbait” trabalha vários temas e apesar de não conseguir aprofundar em todos da forma mais assertiva, muito por conta do ritmo veloz com que a narrativa vai se desenvolvendo, ainda consegue pincelar e levantar discussões sobre “catfish”, “fake News”, “cultura do cancelamento”, “mídia abusiva”, “invasão de privacidade”, sem falar em temas mais comuns em dramas como “estupro”, “relacionamento abusivo”, “traição”, “infidelidade” dentre outros assuntos que tornam a minissérie um prato cheio para quem gosta desse tipo de entretenimento.

Talvez minhas únicas ressalvas sejam o fato de demorarem para acrescentar na narrativa a discussão racial que o roteiro tenta levantar tardiamente nos últimos episódios. Veja bem, Nick e Sophie formam uma família interracial de classe média sendo os filhos do casal negros, então a forma que toda a essa repercussão da índole do pai e da mãe os afetas em relação a por exemplo, a tia deles Pia e a avó que são brancas, é diferente, porém aqui os roteiristas perdem uma boa oportunidade de mostrar isso de uma forma aprofundada, sendo resumida em uma cena de briga na escola para mostrar que preconceito ainda é um fator do dia-a-dia da família.

Outra ressalva que incomoda e que fui perceber só depois é o fato da culpa de certas resoluções ou arcos sempre caírem em cima de uma figura feminina na trama, sem falar que a coisa piora se analisarmos que a figura feminina aqui é usada muitas vezes para elevar a índole ou eximir de culpa um personagem masculino, talvez o que faltou aqui fosse uma voz feminina para tocar os roteiros e tirar essa má impressão da narrativa que acaba se mostrando um dos pontos baixos da série.

Fonte: Netflix

Citei esses dois exemplos, para mostrar que “Clickbait” ainda que tenha muitas qualidades, tem defeitos gritantes (como o fato de alguns personagens ficarem mais burros e cometerem erros primários nos últimos episódios), alguns até perdoáveis se você estiver apenas procurando um entretenimento escapista, mas é fato que quando o último episódio “A Resposta” (1×08) se apresentar, você esquecerá os defeitos e provavelmente não estará preparado para as revelações de tudo que levou a escalada de acontecimentos e o sequestro de Nick Brewer.

No geral devo dizer que a minissérie é bastante consistente em termos narrativos, as atuações são boas com destaque para Betty Gabriel (Corra), Daniel Henshall (O Babadook) e Adrian Grenier (Entourage), ainda que tenha as ressalvas que mencionei, não há como negar que “Clickbait” é um entretenimento que atiça a curiosidade do expectador e o deixa implorando por mais à medida que cada episódio fecha com um gancho melhor que o outro. Em uma história onde todos os personagens tem uma índole pouco confiável, as respostas podem não ser o que você espera e é isso que a torna tão boa e imprevisível, sem falar que quando as respostas surgirem, você vai acabar se questionando o quanto anda se expondo na internet e como poderá tomar mais cuidado daqui para frente, pois o que essa premissa mostra é que não se pode confiar nas pessoas e não se pode deixar rastros de informações pessoais que possam ser usadas por pessoas de má fé, isso pode destruir vidas, chegando ao ponto até de causar mortes, então todo cuidado é pouco.

Elo Preto

Personagem: Sophie Brewer
Atriz: Betty Gabriel
Idade: 40 anos

O destaque da nossa coluna de hoje vai para Betty Gabriel no papel de Sophie Brewer, talvez uma das melhores personagens da minissérie, a professora de uma renomada escola, acaba vendo sua virar de cabeça para baixo quando descobre que o marido foi sequestrado e exposto online mostrando que ele pode não ser a pessoa que ela sempre conheceu depois de anos de casados. Gabriel consegue trazer uma personagem forte, complexa, inteligente, mas que também falhas e paga pelos seus pecados depois de trair o marido e ver se casamento sucumbir depois da repercussão do sequestro. Essa atriz negra nascida em Washington DC nos EUA, já participou de produções como “Corra!”, “Uma Noite de Crime 3” e em breve estará na terceira temporada de “Jack Ryan” com John Krasinski e Wendell Pierce.

Gostou? Veja o trailer e diga o que achou da série nos comentários abaixo.

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