“O Mistério de Candyman” (1992) – Crítica

Revisitando um clássico, ainda que tenha 19 anos de idade, este longa dirigido por Bernard Rose continua interessante e surpreendente.

Fonte: Fox Films

O mais interessante de assistir uma obra na maioria das vezes é poder revisita-la de tempos em tempos para saber se ela continua tendo a mesma qualidade de quando você assistiu da primeira vez. O problema da obra datada, é a queda da expectativa, a narrativa envelhece mal e as vezes os diálogos que antes passavam pelo filtro, não são aceitas mais por uma sociedade que evoluiu. Existe longas que são imunes ao tempo e outros que ficam ainda melhores após uma revisão, é entre dois aspectos que obras se tornam clássicas.

Confesso que nunca tinha assistido esta versão de “O Mistério de Candyman” (Candyman, 1992), apesar de sempre ter visto algumas cenas e ficado na vontade. Decidi neste final de semana dar uma chance e não me arrependi, o longa escrito e dirigido por Bernard Rose (Anna Karenina) baseado na obra “The Forbidden” de Clive Barker que conta a história desse escravo que foi morto e torturado por se envolver com a filha de seu senhorio, durante essa atrocidade, ele foi amarrado, teve sua mão decepada e teve seu corpo lambuzado com mel para que as abelhas e as formigas o picassem. Séculos depois ele retorna com um gancho no lugar da mão cortada e mata vítimas que pronunciam seu nome cinco vezes diante do espelho.

A lenda urbana de Candyman é usada como força motriz de uma narrativa que é puro terror psicológico que ainda tem alguns aspectos de crítica social e racial numa trama que conta a história da personagem Helen Lyle (Virginia Madsen), uma antropóloga que fica interessada neste mito e acaba se envolvida numa teia de mistério, sangue e mortes que vão se intensificando à medida que investiga a origem da lenda.

Fonte: Fox Films

Por ser um filme lançado no começo dos anos 90, ainda se vê uma narrativa bastante influenciada pelo estilo dos anos 80, com uma trilha sonora que faz muita diferença nos momentos de susto e terror, com a sonoplastia tendo papel crucial aqui, algo que Bernard Rose consegue inserir bem em momentos “jump scares” eficientes que acabam nos pegando de surpresa mesmo que não tenha nenhum aspecto sobrenatural nas sequencias.

É interessante como a narrativa se desenvolve, com uma abertura que explora os aspectos da mitologia envolta de Candyman, o monstro por traz do espelho que aparece para dilacerar as vítimas que clamam pela sua presença. Muito desse estilo de terror lembra “A Hora do Pesadelo”, assim como Freddy Krueger, Candyman é uma figura implacável, ele não brinca com suas vítimas, mas as deixa paranoicas a ponto de perderem o senso de realidade.

O caso de Helen é um pouco diferente, uma estudiosa que precisa de evidências para terminar sua tese, tenta a todo custo levantar vestígios da presença de Candyman investigando assassinatos ligados a lenda, acaba desafiando a figura maligna ao dizer seu nome em frente ao espelho fazendo com que sua vida vire de cabeça para baixo quando entra num jogo psicológico que pode colocar em risco a sua e a vida de marido Trevor (Xander Berkeley), sua melhor amiga Bernadette (Kasi Lemmons) e outras pessoas próximas.

Fonte: Fox Films

O interessante é como o roteiro mostra como o aspecto racial tem influência na narrativa, Helen é branca e cética, mas todos os personagens negros da trama não só acreditam que Candyman é real passando essa informação de geração para geração inclusive usando o mito para amedrontar crianças, mas também uma força perigosa que não deve ser desafiada de forma alguma. É claro que a narrativa não se aprofunda muito nas discussões raciais, mas elas estão presentes em vários aspectos da trama, principalmente quando mortes começam a acontecer a volta de Helen que apontam também pode estar ou não envolvida com o desaparecimento de um bebê.

A narrativa é bastante persuasiva e consegue prender os expectadores do começo ao fim, mas isso se deve as boas atuações de Virginia Madsen (Sideways: Entre Umas E Outras) e Tony Todd (A Rocha), a primeira exalando beleza interpretando uma personagem determinada que vai aos poucos perdendo a lucidez a medida que vai descobrindo mais sobre uma lenda que parece não ser só uma lenda, Madsen convence muito como uma personagem assombrada que sucumbe a uma maldição que vai consumindo sua sanidade aos poucos.

Em relação a Todd, não foi à toa que seu personagem se tornou tão memorável, o ator possui uma presença marcante, uma voz grossa e profunda que consegue ser assustadora e envolvente ao mesmo tempo, sem falar que o vilão se mostra um ser violento com um objetivo claro de continuar vivendo no imaginário das pessoas que duvidam de sua presença, deixando um rastro de corpos ensanguentados por onde sua presença se faz transparecer.

Fonte: Fox Films

Como filme de terror “O Mistério de Candyman” é bastante eficiente conseguindo gerar boas cenas assustadoras, mas seu lado psicológico prevalece mais do que espera, isso não enfraquece a narrativa, mas a deixa menos previsível, pois Rose aproveita isso para deixar quem assiste em dúvida se tudo aquilo é real, ou apenas Helen cometendo atrocidades enquanto perde a sanidade.

O bacana é ver que essa transição entre real e sobrenatural se misturam de uma forma que as vezes você não sabe o que é real ou não. A segunda metade do longa é um pouco previsível neste aspecto, mas não menos interessante, inclusive o terceiro ato é bastante objetivo ao mostrar como a maldição funciona num ciclo que vai além do que apenas provar que o mito existe.

No geral “A Maldição de Candyman” é um bom filme de terror, carrega consigo vários elementos de suspense que se sustentam do início ao fim, talvez falte se aprofundar nos aspectos sociais que levanta, mas ainda assim consegue se transformar num clássico por ter uma mitologia rica que se desenvolve de forma bastante suficiente sustentada pelas atuações sólidas de Virginia Madsen e Tony Todd, o segundo inclusive cria um vilão marcante, surgido das entranhas do racismo para espalhar um terror que se alimenta da dúvida, dos medos e da vulnerabilidade humana, não foi a toa que o longa virou um clássico e merece ser revisitado de tempos em tempos.   

Gostou? Veja o trailer. Se já assistiu esta versão de Candyman, diga o que achou nos comentários. Em breve a crítica de Candyman (2021) dirigido por Nia DaCosta.

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