“O Homem Água” – Crítica

Com uma premissa muito boa e uma produção decente, essa aventura salpicada de drama familiar peca por não se aprofundar mais no desenvolvimento de seus personagens.

Fonte: Netflix

Tramas que possuem narrativas de doenças terminais são normalmente histórias baseadas em fatos, mas também existe aquelas tramas que são 100% ficção e ainda assim conseguem o mesmo impacto. Este é o caso do recente drama da Netflix, “O Homem Água”(The Water Man, 2020), aventura que se mostra cheia de emoções e com boas ideias, uma trama em muitos aspectos lúdica, mas que no final das contas carece de um pouco mais de polimento para se tornar uma grande obra.

A narrativa do longa conta a história desse garoto chamado Gunner (Lonnie Chavis) que se vê numa situação complicada ao deparar com doença da mãe Mary (Rosario Dawson), além de ter uma relação complicada com pai Amos (David Oyelowo), um ex militar que não consegue conectar com ele, ao mesmo tempo que tenta lidar com a fragilidade da esposa que enfrenta uma enfermidade grave. Desta forma, o garoto embarca em aventura para encontrar o lendário “homem água”, um ser místico que pode ter a chave para uma possível cura para a mãe.

O longa dirigido por David Oyelowo (Selma) estreando na direção e escrito pela também estreante Emma Needell (curta Tik Tok) é bastante corretinho na maior parte do tempo, a narrativa estabelece seu primeiro ato situando o expectador sobre a vida de Gunner, sua convivência com a mãe e a falta de intimidade com o pai. A história não tem pressa, desenvolvendo a dinâmica da família Boone para que o expectador possa criar um tipo de ligação focando no drama de Mary Boone no tratamento da leucemia.

Fonte: Netflix

O filme começa a ganhar ritmo no começo do segundo ato quando Gunner vê na lenda local do “Homem Água” uma alternativa para tentar salvar sua mãe. O garoto que é um menino inteligente, ávido por leitura e bastante curioso, vê em Jo Riley (Amiah Miller) que diz ter visto o monstro de perto, uma alternativa para conseguir encontra-lo, além é claro das informações do escritor Jim Bussey (Alfred Molina) que servem de ponto de partida para a jornada na floresta.

Um dos problemas de “O Homem Água” é que a trama por mais bem estabelecida que seja no começo, carece de desenvolvimento no decorrer dela, notasse na direção de Oyelowo uma falta de experiência para dar mais espaço para os conflitos entre Gunner e seu pai florescerem, a jornada do garoto e sua nova amiga Jo começa e acaba com uma resolução muita rápida, sem falar que a carga dramática do longa é tão boa que dava para ter aprofundado mais neste quesito.

Então o longa não vale a pena? Não pelo contrário, a obra ainda tem bons elementos e lições que valem o tempo investido. Inclusive gosto como a trama evidencia a questão da mortalidade e imortalidade, colocando Gunner para enfrentar seus medos ao mesmo tempo que tenta entender a finidade da vida humana enquanto caça um mito que pode ter a chave para se viver eternamente.

Fonte: Netflix

Neste ponto “O Homem Água” ganha na simplicidade ao conseguir trazer uma aventura que sabe equilibrar muito bem seu lado mais fantástico e imaginativo, do seu lado mais sóbrio, neste ponto a direção de Oyelowo se mostra eficaz em conseguir deixar a incógnita até perto do terceiro ato se tudo aquilo era real ou não, inclusive a cena na cabana é muito boa conseguindo trazer todos os medos e receios de Gunner à tona de uma vez só ao encarar a criatura frente-a-frente numa profunda metáfora sobre vida e morte.

Em termos de produção, o filme parece modesto, mas consegue ter efeitos decentes (as cenas meio cartunescas são muito bem feitas, uma verdadeira pintura na tela), além de uma bela fotografia se aproveitando das paisagens montanhosas do interior dos EUA e suas florestas com árvores grandes e vastas. O elenco é consistente, sinto que o pequeno Lonnie Davis (Magic Camp) oscila muito, as vezes parece embarcar no personagem mostrando carisma e entregando no drama, e as vezes lhe falta expressão e presença de tela, mas no geral o garoto é razoavelmente bom como protagonista.

A jovem Amiah Miller (Planeta dos Macacos: A Guerra) tem uma personagem que poderia render mais, mas é pouco desenvolvida na trama e quando o desenvolvimento vem, falta um pouco de carga dramática para consolida-la, apesar de ter uma boa cena em que ela e Davis compartilham na floresta no melhor momento de ambos personagens mostrando inclusive que a amizade criada aqui é um dos bons momentos do filme. Sobre os veteranos, o próprio David Oyelowo no papel do pai de Gunner estava apenas ok, agora Rosário Dawson (The Mandalorian) convence bem no papel de Mary, os atores Alfred Molina (Homem Aranha 2) e Maria Bello (Marcas da Violência) não tem muito o que fazer, servindo apenas para complementar a narrativa.

No geral “O Homem Água” funciona como um bom passatempo, as vezes falta sim um desenvolvimento melhor, mas ao menos a história é bem contada. Esta obra produzida por Oprah Winfrey (Uma Dobra No Tempo) traz uma boa carga dramática que poderia ter sido mais intensificada principalmente na relação pai e filho, porém o longa ainda traz boas lições que nos faz questionar qual é a melhor escolha sobre viver uma vida curta e plena com as pessoas que amamos ou uma vida eterna cheia de saudades e dor, onde fantasia e drama se misturam numa história tocante, que se não é perfeita, ganha pontos por trazer momentos bacanas e singelos focados na família conseguindo trazer amor e afeto num entretenimento bastante honesto, apesar de não ser inesquecível.

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