Com uma explosão de merchandising e produtos licenciados inseridos no longa, a sequência do filme dos anos 90 é apresentado para nova geração com uma trama cheia de efeitos visuais e uma narrativa melhor.

Quando escrevi sobre “Space Jam: O Jogo do Século” na coluna Nostalgia Preta, argumentei que o longa ficou datado e que valia a pena pela nostalgia e também pela presença icônica de Michael Jordan. Foram 25 anos desde este longa original e somente agora e com a presença do astro do basquete atual, LeBron James, a sequência toma forma num filme que se esforça mais que original, entregando um produto bem acabado e com o melhor que a tecnologia tem a oferecer.
A primeira coisa que tem que ser dita de “Space Jam: Um Novo Legado” (Space Jam: A New Legacy, 2021) é que o filme é feito para família, com uma proposta realmente voltada para a geração atual de crianças e adolescentes criados com acesso a tecnologia e um consumismo mais imediato, a narrativa dirigida por Malcolm D. Lee (Viagem das Garotas) traz esta nova história com Looney Tunes para século 21 e se apoia no maior astro do basquete atual para desenvolver seu enredo.
Outro ponto sobre o filme, é que ele não inova, apesar de ser escrito as seis mãos, o roteiro é bastante previsível e clichê, alguns diálogos são bem fracos, porém no quesito estrutural, a escrita é mais eficaz que o longa anterior, tendo ao menos atenção no desenvolvimento da família de Lebron, inclusive seus filhos, o mais novo, por exemplo, tem um arco bacana com o pai.
Assim como no primeiro filme, a narrativa começa no passado (neste em 1998) até chegar no presente. O longa pega alguns aspectos da história verdadeira de LeBron e sua trajetória no basquete como conseguimos identificar nos créditos iniciais desde sua seleção nos jogos universitários, passando pela sua ascensão meteórica no Miami Heat, chegando nas suas conquistas no Cleveland Cavaliers sempre dando ênfase nos momentos que ganhou MVP e o campeonato das diversas temporadas do disputado basquete da NBA, famosa liga norte americana.

Com uma trajetória espetacular e vários títulos conquistados, LeBron também conhecido como “King James” ou “Rei James”, era a escolha perfeita para ser o sucessor de Michael Jordan no universo Space Jam, não só por ser um dos jogadores mais icônicos da história, mas também por ser um dos atletas mais completos da geração atual com números impressionantes, alguns inclusive superando os de Jordan, então fazer uma transição para o cinema seria uma questão de tempo para o astro.
No longa o roteiro também pega alguns aspectos da vida pessoal de James, mas sua família no filme ganha nomes fictícios, como sua esposa Kamiyah James (Sonequa Martin-Green) e seus três filhos, Darius James (Ceyair J Wright), Dom James (Cedric Joe) e a pequena Xosha James (Harper Leigh Alexander). A história no geral conta a história de uma inteligência artificial Al G Rhythm (Don Cheadle) que sequestra LeBron James na tentativa de prendê-lo num mundo virtual chamado “ServiceVerse”, desta forma o vilão desafia o rei para uma partida de basquete, levando James a recrutar Pernalonga e seus amigos para ajuda-lo a ganhar a partida e sair desta enrascada.
O filme foca sua primeira metade na vida de LeBron, sua obsessão em transformar seus filhos Darius e Dom em astros do basquete seguindo sua trajetória. O astro tenta ser um bom pai, mas acaba não vendo que seu filho mais novo Dom não quer seguir seus passos, se mostrando um prodígio na área de programação com uma inteligência acima do normal. A trama foca neste conflito de pai e filho e usa como cerne da história do início ao fim, algo que faltou no longa protagonizado por Jordan, aqui é feito da forma certa sendo um dos pontos positivos da história.

É claro que “Space Jam: Um Novo Legado” ainda peca em alguns aspectos, as vezes a história se perde na megalomania que cria, pois ao colocar a trama para se passar dentro de um servidor da própria Warner Bros, a mitologia dos Looney Tunes não é a única a ser explorada, levando a mostrar os vastos mundos de filmes e séries da produtora como o universo Matrix, o universo Game of Thrones, além de vários outros universos onde vivem personagens icônicos da empresa.
O legal é ver que LeBron James realmente embarca nesta aventura dentro deste enorme universo, o astro do basquete não é um primor como ator, mas parece se divertir com o papel, as vezes lhe falta um teor dramático nas cenas mais emocionais com o filho, mas no geral ele segura bem, principalmente na segunda metade quando interage com Looney Tunes no campo que domina, a partida de basquete no terceiro ato.
A narrativa ganha mais corpo quando a versão cartoon de LeBron entra em cena, um recurso bacana para ele interagir com Pernalonga e sua turma que funciona muito bem, aliás, se você gosta desta turma, aqui eles voltam aos montes, muito bacana rever além do coelho mais famoso do mundo do entretenimento, Patolino, Gaguinho, Frajola, Piu Piu, Eufrazino, Ligeirinho, Papa-Léguas, Coiote, a Vovó que inclusive tem uma das cenas de ação mais divertidas do filme, dentre outros personagens inesquecíveis.

Mais uma vez Pernalonga e Patolino são o destaque, mas todos eles têm um momento para brilhar aqui, sem falar que se você assistir a versão em inglês, muitos deles ganham vozes diferentes, destaque vai para Zendaya (Malcolm & Marie) que dubla a Lola, que continua sendo a personagem feminina mais icônica dos Looney Tunes. A interação dessa turma com LeBron é um dos pontos altos e só fica melhor durante a maluca partida de basquete já na segunda metade do filme.
O elenco no geral é ok, além de LeBron James já citado, temos Don Cheadle (Vingadores: Ultimato) como o vilão Al G numa atuação estranha e totalmente louca, mas em alguns aspectos se você não levar a sério, até que funciona. Sonequa Martin-Green (Star Trek Discovery) faz a esposa de LeBron entregando uma boa atuação, limitada por um roteiro que não dá tanto espaço para a personagem, uma pena. Cedric Joe (Good Trouble) no papel de Dom é uma boa surpresa, a química dele com LeBron funciona e o arco dos dois é bacana, o pai que precisa olhar para o filho e o filho que quer ser visto pelo pai, é bacana ver como isso se desenvolve no longa. Khris Davis (Judas e o Messias Negro) funciona aqui como alívio cômico num papel que lembra o de Bill Murray no original.
O longa ainda conta com participações de astros do basquete da NBA dublando as criaturas vilanescas do time de basquete rival, temos as jogadoras Sue Bird e Nneka Ogwumike, além dos jogadores Anthony Davies, Klay Thompson, Draymond Green e Damian Lillard. E não é só eles que aparecem, atores e atrizes de Hollywood também fazem participação como: Lil Rel, Steve Yuen, Sarah Silverman e MJ (não vou dizer qual, mas a participação é engraçada).
Apesar das diversas similaridades com o primeiro filme, “Space Jam: Um Novo Legado” encontra sua própria essência ao longo de sua projeção, um filme produzido por Ryan Coogler (Pantera Negra) e o próprio LeBron James, traz aqui um entretenimento que visualmente é um pouco inchado, mas tem seus méritos por entregar bons efeitos visuais (as cenas da partida de basquete e as criaturas digitalizadas time rival de basquete são boas), uma trilha sonora regada a muito hip hop e pop, além de uma fotografia bastante colorida que mistura desenho 2D e 3D de uma forma bastante competente mostrando que os recursos tecnológicos atuais fizeram bem para o universo Looney Tunes.

É claro que há um certo exagero da Warner Bros em expandir este mundo criado trazendo vários personagens conhecidos em profusão no terceiro ato no maior estilo “Jogador Número 1” de forma vender ainda mais seus produtos, além de celebrar seus diversos sucessos de bilheteria divulgando ainda mais seus filmes e séries de sucesso (você vai ver easter eggs e cameos até o olho encher d’água), potencializando ainda mais a nostalgia que vai além dos Looney Tunes desta vez.
No geral “Space Jam: Um Novo Legado” é um bom filme, mesmo que não traga nada de novo para mistura e as vezes peque pelo exagero do merchandising, ainda consegue ser um entretenimento para toda a família numa história que continua juntando três coisas que o público adora, basquete, Looney Tunes e agora LeBron James, a receita certa do sucesso. O filme entrega aventura, bom humor, ação e uma história que traz o universo de Pernalonga e companhia para os dias atuais, junto com ele temos uma homenagem bacana aos mundos e personagens criados com selo Warner Bros, ampliando a nostalgia e garantindo a diversão do final de semana. Como diz o famoso Perna: “Isso é tudo pessoal”.
Gostou? Veja o trailer. Se já assistiu ao filme, diga abaixo nos comentários o que achou.

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