“Army of the Dead – Invasão Em Las Vegas” – Crítica

Violento, divertido e pura galhofa, este longa dirigido por Zack Snyder entrega o famoso entretenimento passatempo sem nenhum compromisso com a lógica, mas cheio de ação e bons personagens.

Fonte: Netflix

Quando se vai assistir a um filme, você precisa estar ao menos preparado para o que estar por vir, existe longas que são obras primas por saberem equilibrar uma direção apurada, um roteiro bem estruturado e ótimas atuações. Nenhuma produção tem obrigação de ser perfeita, mas ao menos deve ter o mínimo de coerência em entregar aquilo que se espera quando assistimos as prévias e lemos a sinopse, no final é o que determinará nossa satisfação ou decepção com o produto.

Digo isso, pois o novo longa do diretor Zack Snyder (A Liga da Justiça de Zack Snyder), o ambicioso “Army of the Dead – Invasão Em Las Vegas” chegou na última sexta feira cheio de expectativas com o retorno do cineasta ao gênero que o lançou para o estrelato, traz realmente aquilo que os trailers prometeram, ação, violência, personagens absurdos em uma trama de zumbis misturado com gênero de roubo em quase duas horas e meia de pura entretenimento que mesmo com algumas ressalvas, é satisfatório no geral como um bom blockbuster feito para ser assistido comendo um balde de pipoca e um copão de refrigerante.

Eu gosto quando um filme é pura personalidade e aqui vemos logo de cara que Snyder, agora com mais liberdade, já começa mostrando a que veio com uma abertura espetacular, são praticamente quinze minutos de créditos rolando e a invasão zumbi tomando conta de uma iluminada Las Vegas misturando uma fotografia cheia de cores enquanto a carnificina rola solta nos cassinos e nas ruas da cidade dos jogos.

Após um começo tão acelerado, a narrativa desacelera para começar a desenvolver seus personagens e devo dizer que me surpreendi pelo bom desenvolvimento que muitos deles tem ao longo da trama. O roteiro escrito pelo próprio Snyder e assinado por Shay Hatten (John Wick 3 – Parabellum) e Joby Harold (Rei Arthur: A Lenda da Espada) vai aos poucos estruturando seu filme de roubo de uma forma bastante eficiente partindo do recrutamento realizado por Scott Ward (Dave Bautista) e Maria Cruz (Ana de La Reguera) após o primeiro receber uma proposta do milionário Bly Tanaka (Hiroyuki Sanada) para entrar em Las Vegas e roubar 200 milhões de dólares antes que o governo norte americano exploda a cidade inteira para acabar com a crise.

Fonte: Netflix

Desta forma além de Scott e Maria, foram recrutados: a piloto do helicóptero Marianne Peters (Tig Notaro), o especialista em cofres Dieter (Matthias Schweighöfer), o suporte da segurança Vanderohe (Omari Hardwick), a especialista e coiote de Vegas, Lilly (Nora Arnezeder), o subordinado de Tanaka, Martin (Garret Dillahunt), além de outros que compõe a equipe como a esquentadinha Chambers (Samantha Win), do maluco Mikey Guzman (Raúl Castillo) e o perigoso Burt Cummings (Theo Rossi).

Todos aqui escritos com uma função específica e todos desenvolvidos de tal forma que você acaba com tempo se importando em algum momento, sem falar que o roteiro consegue equilibrar as cenas de todos, que ganham espaço para ter seu destaque em tela, principalmente quando a ação se intensifica e muitos deles encaram dezenas de zumbis famintos mostrando que o longa também tem peso, consequências e riscos para todos envolvido no enredo, inclusive os protagonistas.

A narrativa diminui o ritmo em prol do desenvolvimento dos personagens, mas vai aumentando a tensão à medida que o grupo vai adentrando uma Las Vegas devastada e aparentemente deserta. Confesso que sou muito fã do gênero zumbi, ainda assisto “The Walking Dead” até hoje e sempre que tem um filme de zumbi eu fico empolgado para assistir e aqui não é diferente, se você é fã do gênero, “Army of the Dead” traz uma pequena evolução para os descerebrados comedores de carne, que nesta versão além das versões lentas e já conhecidas, somos apresentados a seres mais evoluídos e mais inteligentes que são capazes de andar em bando, correr, desviar de balas e golpes, além de terem um alfa coordenando as ações.

Fonte: Netflix

Claramente Snyder é um fã confesso de George Romero e aqui temos muitas referências, assim como ele fez na sua refilmagem de “Madrugada dos Mortos”, porém vemos um diretor que se arrisca mais, mostrando não só uma tentativa de juntar dois gêneros em um, mas também transformar um filme de zumbi, normalmente ligado a produções de baixo orçamento, em um blockbuster que não tem medo de ser grandioso ainda que algumas vezes durante a narrativa soei bagunçada.

A verdade é que “Army of the Dead” tem que ser encarado como um filme de ação que não tem medo da galhofa e que abraça o trash, muitas das digressões que a narrativa faz as vezes não fazem sentido, alguns furos as vezes são evidentes demais, mas isso no gênero zumbi é perfeitamente aceitável, induzindo o expectador a não levar tudo muito a sério e apenas focar na diversão e no entretenimento que a narrativa entrega.

E se você realmente quer algo na trama que seja bem construído, foque na construção do elemento humano do filme que é o que faz a trama realmente funcionar. O elenco na minha visão está muito bem e em sintonia, inclusive vale ressaltar o quão diverso e internacional ele é, o que é sempre bacana quando se vê essa diversidade de etnias e línguas, no entanto alguns destaques chamam a atenção aqui, primeiro Dave Bautista (Guardiões da Galáxia) como o protagonista Scott Ward, um líder com coração, que vê no roubo a oportunidade de conseguir uma grana e reparar os danos que causou a vida da filha Kate (Ella Purnell), Bautista segura bem as pontas e entrega boas cenas de ação também, o roteiro gira muito em torno de seus dramas e isso dá a oportunidade do ator mostrar ainda mais seu lado mais dramático.

Outros destaques do elenco são o ótimo Matthias Schweighöfer (You Are Wanted) na pele do excêntrico e engraçado Dieter, assim como Omari Hardwick (Power) como o sério brutamontes Vanderohe, aliás, esses dois juntos rende boas cenas no filme. Tig Notaro (Star Trek Discovery) como a linguaruda Marianne Peters é outro bom destaque, assim como Garret Dillahunt (Fear The Walking Dead) que apesar de ter uma fala bacana, merece a lembrança. Outros que valem a pena menção é a atriz Samantha Win (Mulher Maravilha) no papel de Chambers, além é claro de Ella Purnell (O Lar das Crianças Peculiares) como Kate Ward filha de Scott, assim como a bela Ana de La Reguera (Narcos) como Maria Cruz e é claro Nora Arnezeder (Protegendo o Inimigo) como a tática e inteligente Lilly.

Fonte: Netflix

De uma forma geral, “Army of the Dead – Invasão em Las Vegas” é um bom filme, peca as vezes por ser longo, mas não há dúvidas que o longa entrega um entretenimento honesto e Snyder diminui o excesso de seus filmes anteriores e entrega uma obra mais contida, porém muito interessante e melhor desenvolvida com personagens que você acaba se afeiçoando num universo cheio de mitologia que acaba se apoiando na ganância humana de querer sempre mais para construir uma alegoria destrutiva em forma de narrativa com um inimigo implacável, insaciável e voraz na forma de zumbis que saem um pouco da fórmula já conhecida despertando nosso interesse, e ao inserir o gênero de roubo a trama ganha em urgência ao focar neste grupo que precisa correr contra o tempo para ser bem sucedido.

No final das contas é preciso enxergar “Army of the Dead” como o blockbuster que ele é, grandioso em vários aspectos, mas que não deve ser levado tão a sério, afinal temos um tigre zumbi na trama, mais galhofa que isso não existe e Snyder sabe disso, desta forma o cineasta entrega aquilo que os expectadores querem ver, se as vezes falta um suspense maior, a ação e a imprevisibilidade de algumas mortes ajuda a manter nosso interesse, é claro que o longa não veio para ser um divisor de águas, mas ganha pontos por tentar entregar algo com ar de novo ainda que se apoie em velhos clichês. Então que venha a parte de dois, porque este universo tem muito para render ainda.

Elo Preto

Ator: Omari Hardwick
Personagem: Vanderohe
Idade: 47 anos

O destaque da coluna de hoje é Omari Hardwick no papel do sério Vanderohe, que na verdade é um poço de carisma com suas frases pontuais e presença de tela intimidadora, algo que Omari tira de letra, seu personagem é um dos poucos do gênero suspense e terror que não cai no clássico clichê do negro que sempre morre primeiro, aqui Snyder dá espaço para Vanderohe entregar na ação e ainda guarda boas surpresas para ele no terceiro ato. O ator Omari é conhecido pela série de drama criminal “Power” do canal Starz que durou seis temporadas e o transformou numa estrela, o ator ainda estrelou em filmes como “Kick Ass – Quebrando Tudo” e “Desculpe Te Incomodar”. 

Gostou? Veja o trailer abaixo. Se já conferiu o filme, comenta aqui embaixo sobre o que achou.