“Um Príncipe em Nova York” – Análise

O filme continua em muitos aspectos engraçado e não deve ser levado a sério, mas certas piadas e estereótipos soam datados, obsoletos e ofensivos deixando um gosto meio amargo para quem for assistir hoje.

Fonte: Paramount Pictures

É complicado falar de um filme que estreou 20, 30 e as vezes até 40 anos atrás com a mente de hoje, é claro que devemos saber separar e entender que eram épocas diferentes e que as coisas mudam, porém, ao revisitar “Um Príncipe em Nova York” de 1988, percebi que alguns momentos saíram atravessados, por mais que em muitos aspectos o humor sem noção funcione na maior parte do tempo.

O longa acompanha a história do Príncipe Akeem (Eddie Murphy), herdeiro do trono de um país africano chamado Zamunda que tenta contrariar as leis locais e as vontades do pai, o rei Jaffe Joffer (James Earl Jones), e assim conseguir encontrar uma esposa que ele ame, não uma arranjada. Para isso Akeem embarca para os EUA ao lado do seu fiel escudeiro Semmi (Arsenio Hall) numa tarefa que vai levar a dupla para o Queens, periferia da grande cidade de Nova York.

O filme de John Landis (Os Irmãos Cara de Pau) traz toda uma atmosfera africana interessante, principalmente no primeiro ato quando o filme apresenta o universo de Zamunda, seus costumes, suas roupas, suas danças e seus peculiares personagens. Não há como dizer que a obra não seja datada, aqui fica muito claro do momento que em que vemos Akeem cercado de privilégios e bajulação. É claro que o roteiro escrito a três mãos por Eddie Murphy, David Sheffield (Loucademia de Polícia 2) e Barry W. Blaustein (O Professor Aloprado) cria um estereotipo em forma de país para tirar sarro dos costumes dos países africanos e sua vasta cultura tribal, parte que na minha opinião soou em alguns momentos de mau gosto e totalmente desrespeitosa, principalmente na cena da dança no salão.

Fonte: Paramount Pictures

É claro que o filme melhora bastante quando Akeem e Semmi chegam nos EUA, onde o humor parece que encontra um tom correto e aonde o choque de cultura encontra nas tiradas e nas sacadas cômicas, algumas bem irônicas em relação a visão americana dos povos africanos, seus melhores momentos para gerar boas piadas e momentos de pura comédia. A atmosfera de Queens é um impacto bastante interessante para os dois personagens que nunca viram pobreza de perto e acham tudo aquilo no bairro “normal”.

O interessante do filme é pegar detalhes como a pobreza local, a violência e a desigualdade e transformá-la em peça de humor, é claro que usam isso de uma forma exagerada, mas ao contrário do que é mostrado em Zamunda, aqui funciona muito bem. É impossível não cair na risada ao vermos o quarto que Akeem encontra para ficar instalado, ou quando ele se depara com um culto estranhíssimo com um pastor tarado comandando um concurso de beleza, ou quando nos deparamos com a loja dos McDowell’s que é uma clara paródia ao conglomerado McDonalds e não vou nem comentar a sequência antológica num bar local.

A história muda um pouco de tom quando Akeem conhece a bela Lisa McDowell (Shari Headley) e tenta de todas as formas conquistá-la sem revelar sua identidade, para que a decisão dela caso goste dele não seja influenciada pelo seu título real. O filme ganha aqui um ar de comédia romântica e fica mais clichê, mas não menos interessante, o humor em paralelo, principalmente na barbearia onde Murphy e Hall podem bobar quilos de maquiagem para viver tipos estereotipados de forma caprichar nas piadas bagaceiras são os respiros que o filme precisa e a confirmação de que nada ali deve ser levado a sério.

Fonte: Paramount Pictures

O elenco dessa comédia é muito bom com tipos memoráveis, seja com o picareta e interesseiro Cleo McDowell (John Amos) pai de Lisa, ou sua filha Patrice McDowell (Allison Dean) irmão de Lisa, temos também o seboso Darryl Jenks (Eriq La Salle) rival de Akeem, além das figuras de Zamunda como a sensata rainha Aoleon (Madge Sinclair), o anunciante carismático Oha (Paul Bates), sem falar nas participações especiais de Samuel L. Jackson e um jovem e desconhecido Cuba Gooding Jr.

No final das contas, “Um Príncipe em Nova York”  continua sendo um clássico da comédia, algumas coisas podem até ter envelhecido mal, mas no geral o longa é muito bom de assistir e você ainda consegue dar boas risadas da canastrice e a cara de pau de alguns personagens. Aqui a dupla Eddie Murphy e Arsenio Hall valem cada segundo do seu tempo e por mais que tenha alguns clichês, principalmente na metade final, este longa merece ser lembrado com uma das boas comédias protagonizadas por negros do passado, uma nostalgia que vale a pena revisitar, mas é preciso deixar alguns pensamentos de lado para que o tom sátiro do filme funcione.

Gostou? Assista ao trailer abaixo, se já assistiu ao filme, comente o que achou.

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