A Segunda vez de Vince! Menos empolgante que a primeira temporada, mas não menos intrigante. A série criada por Vince Staples continua atiçando seu público com piadas inteligentes, humor ácido e muito ironia com várias referências a filmes clássicos.

É incrível como as comédias protagonizadas por personagens pretos, ainda são pouco valorizadas nos circuitos de premiações ou até mesmo perante seu próprio público. Muitas delas não nichadas e poucas conseguem um status devido, como é o caso da excelente “Atlanta”. Por este motivo, muitas deste gênero são ignoradas e acabam ficando escondidas ou esquecidas nos catálogos dos grandes streamings.
Este é o caso da comédia “The Vince Staples Show” (2024-Presente), que foi uma das gratas surpresas do ano passado e retornou no dia 6 de novembro com uma nova temporada pela Netflix. A trama de ficção com toques de realidade, conta a história do rapper Vince Staples e suas peripécias cotidianas se metendo em confusões e abrindo espaço para inteligentes críticas sociais relacionadas a negritude preta nos EUA.
Se a primeira temporada apostava no inusitado com um toque de humor sombrio e críticas pontuais. A segunda temporada aposta do terror de situação trazendo a família de Vince para o centro da narrativa com o personagem entrando cada vez mais dentro de um enredo que mistura surrealismo da melhor possível de forma mais afiada e talvez complexa demais para que alguns possam pegar todas nuances do contexto apresentado.

O primeiro episódio “Country Mane” (2×01) é genial em muitos aspectos, com referência ao longa “Eu Quero Ser John Malkovitch”, quando Vince e sua mãe Anita (Vanessa Bell Calloway) vão alugar um carro numa locadora trazendo sequências engraçadas e malucas que só a série sabe entregar. Inclusive o primeiro dá o tom da temporada que possui seis episódios.
O fio condutor do segundo ano é o funeral do tio de Vince, desta forma entramos numa jornada imersiva e totalmente fora do normal com o protagonista vivendo momentos inusitados em episódios que transitam entre comédia, suspense e até mesmo terror, como fica claro no estranho “Petting Zoo” (2×02), que não deve em nada para qualquer seriado de horror do gênero.
As comparações com o seriado “Atlanta” são inevitáveis, mas “The Vince Staples Show” tem aura própria e sabe utilizar seu micro universo de forma inteligente, com um humor estranho, que talvez não pegue os mais simplistas, mas quem gosta deste estilo de humor, será agraciado com uma série que é absurdamente interessante, como podemos ver no episódio “God’s Will” (3×03), quando Vince passa um tempo na casa do tio que faleceu.

O surrealismo imposto aqui conduzido por um roteiro bastante curioso que vai enriquecendo em todo período da jornada de Vince e sua família até o funeral. A parada no clube só para negros numa clara inversão de papéis que nada mais é do que uma armadilha criada por brancos para padronizar cultura preta em um dos arcos mais interessantes da série até então.
Toda a sequência de “Ant-Social” (2×04) e “Mr Baldwin” (2×05) são antológicas, não só por tecer ótimas críticas sociais sobre a falsa valorização da cultura negra por meio de conveniências, mas por usar a casualidade como algo que entretém. O segundo episódio mencionado nesta leva, com claras referências aos filmes de Agatha Christie e Sherlock Holmes, são memoráveis e tão escatológicas que geram boas risadas.
A série é bem produzida, gosto muito da edição dos episódios e dos ganchos que recebemos em cada final de trama. A fotografia com ar sóbrio dá um tom para uma série que é visualmente bacana. A trilha sonora é outro ponto alto, apesar de tímida em alguns momentos, quando empolga gera ótimos momentos misturando R&B, Hip-Hop e Rap.

De uma forma geral, “The Vince Staples Show” eleva seu patamar ao apresentar um final de temporada excelente, engraçado e absurdamente relevante, com cenas engraçadíssimas durante o funeral no episódio “Uncle James Is Dead” (2×06), que mostra que o seriado é daquelas comédias feitas para o público preto, mas com certeza merece ser conhecida pela qualidade técnica e outros atributos de forma universal. O final termina com gancho tão inusitado que o público vai suplicar por uma terceira temporada.
Leia o texto da primeira temporada aqui.
Gostou? Veja o trailer abaixo e comente se já conferiu a temporada.
